Capítulo 6.

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 — Explique-me de novo. — Daren falou, balançando a cabeça sem entender. Ele e Anna andavam encasacados, lado a lado, pelas ruas do bairro em que ficava o apartamento da garota. — Essa tal de “moda”, as pessoas seguem e acham legal?

— É isso aí. — Anna respondeu.

— Isso explica o porquê de sua amiga ter a parte lateral da cabeça raspada? — Daren franzia o cenho. Anna se divertia com aquilo.

— Isso mesmo.

— Uau... vocês são mesmo uns estranhos. Na Lua, nós só usamos roupas brancas. Calças, camisas, tênis... só temos algumas coisas “exóticas” para quando viemos para cá — Daren apontou para as roupas que usava. — O bom é que não temos nossas funções orgânicas como os humanos e, por conta disso, não precisamos tomar banho todo dia. Então, usamos nossas roupas por várias vezes.

— E não se incomodam em estarem todos iguais? — Anna quis saber.

— Nós somos todos iguais da mesma forma que vocês são. A diferença é que nós convivemos em paz com o todo e não precisamos dessas diferenças. Ou, pelo menos, não damos atenção a elas.

— Isso é ótimo, na verdade. — Anna ponderou. — Talvez, se nos importássemos mais em sermos iguais... e termos os mesmos direitos e igualdades... talvez tudo desse certo.

— Talvez. Mas, daí, não precisariam de nós. — Daren lançou-lhe seu sorriso malicioso.

— Convencido. — ela rolou os olhos. — Ei, é logo ali a loja de eletrônicos. Quer entrar comigo ou prefere esperar aqui fora?

— Eu sei que sou um estrangeiro por aqui, Anna, mas não é por causa de um celular que eu vou estragar tudo. Eu vou ficar quietinho. Só vou observar. — Daren passou um zíper invisível em sua boca e eles continuaram a andar até a porta de vidro da loja. Adentraram-na e logo se dirigiram a um dos balcões que expunham vários modelos telefônicos. — Todos esses modelos? Mas por que não fizeram só um? — Daren olhava indignado.

— Daren! — Anna o repreendeu. — Shh!

O garoto se encolheu e permaneceu quieto. Anna optou por um modelo que tinha as funções necessárias para o garoto e que caberia no orçamento. Dirigiu-se a um dos funcionários e pediu para que separasse o modelo e um número da tal operadora. Anna permaneceu ali, esperando até que trouxessem o que pedira, e observava o jeito como Daren encarava as coisas ali dentro. Os folhetos, nas paredes, Daren apenas dava uma passada de olhos. Anna sabia que ele havia os lido por inteiro. Quando começou a mexer nos aparelhos expostos, ele franzia o cenho como se fosse algo ultrapassado demais para seu povo. Ele continuou de cabeça baixa, intrometendo-se nos aparelhos, até que Anna saísse do transe.

Anna, pare de me olhar. Eu fico desconfortável, ela ouviu em sua mente. “Daren?”, ela pensou, o mais alto que pôde. “Saia da minha mente!”, ela berrou em pensamentos, outra vez.

Isso é só uma das coisas que consigo fazer e queria te mostrar. Não faço isso com as pessoas, pode ficar tranquila. Mas tive que fazê-lo, se não você continuaria me olhando.

“Idiota. Eu estava gostando, ok? Você parecia desdenhar nossas invenções e suas feições estavam engraçadas. Mas já não estou olhando”.

Ótimo. Prefiro que tenha imagens melhores de mim.

Anna voltou a pensar baixinho e se virou ao que o atendente voltara com seu produto. Assinou alguns papeis e pagou-lhe o que era devido. Colocou o celular no bolso e apenas cutucou Daren ao que estava saindo. Ele a seguiu.

— E aí, deu tudo certo? — ele pediu.

— Tirando que tive meus pensamentos invadidos, claro. — ela tirou o celular do bolso e entregou ao garoto.

Íris VioletaOnde histórias criam vida. Descubra agora