Capítulo 4.

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 Anna se escondia embaixo do sobretudo enorme que vestia. Sair, àquele horário, às ruas, era a pior coisa que ela poderia fazer. Sentiu o rosto congelar por inteiro. Suas pernas, por mais entorpecidas que estivessem, caminhavam por conta própria em direção ao apartamento em que morava.

Assim que chegou, Anna abriu a porta para dar de cara com Daren sentado no sofá da sala de entrada, em posição de meditação. Vestia um sobretudo cinza — que Anna sabia que combinava com os olhos do garoto — e, por baixo, uma camiseta branca e uma calça jeans. Em cima da mesa de centro, Anna viu uma vasilha com várias notas de dinheiro.

— Meu Deus, DAREN! — ela falou, espantada, ao ver o a quantidade que havia ali. — O que foi que você fez, roubou um banco?

O garoto saiu do seu transe com um susto. Ele abriu um sorriso ao ver Anna pegar aquelas notas e as chacoalhar no ar.

— Isso faz parte de quem eu sou. — ele começou. — Não vou dizer que foi fácil, até mesmo porque requisitou algo ruim de mim para consegui-lo. Mas você vai entender, mais adiante. Se não se importa, essas notas ficam com você, pela hospitalidade. E, agora, gostaria de te passar as informações.

Anna não hesitou em tirar sua bolsa dos ombros e deixá-la de lado — colocando, sobre a mesma, o lírio que Daren havia levado até ela em seu trabalho. Sentou-se do outro lado da mesinha, no sofá solitário, encolhendo-se no mesmo e olhando para Daren com expectativa.

— Anna, se não for incômodo para você, eu gostaria que sentasse ao meu lado. Há coisas que é mais fácil eu mostrar do que falar.

Outra vez, Anna se pôs de pé e, passando pelo lado da mesinha, sentou-se no sofá ao lado de Daren. Tirou o sobretudo que vestia, deixando-a apenas com um moletom e sua calça jeans. Apesar do frio que Daren emanava, Anna sentia-se quente perto dele. Cruzou suas pernas, da mesma forma que Daren fazia, e sentaram-se um de frente ao outro. Ela sentia seu coração acelerado. Ela sabia que aquele momento era importante em sua vida. Era o início de sua provável história best-seller.

Daren estava com um sorriso no rosto — e Anna não sabia dizer se era porque ele aprendera aquilo ou porque realmente o quisesse fazer. Ela percebeu os olhos perfeitos do garoto encararem cada parte dela. As pernas cruzadas, as mãos entrelaçadas sobre as mesmas, os ombros relaxados e os olhos azuis e cansados da garota. De alguma forma, Daren sabia que estava fazendo a coisa mais certa de sua vida.

— O que está olhando? — Anna perguntou, sem jeito.

— Gravando o momento. — e ele sorriu de novo.

— Você é estranho, Daren. E as coisas que você sonha, também. — Anna soltou, sem medo. Ela sabia que poderia confiar naquele garoto.

— Coisas que sonho?... — ele ecoou.

— Antes que comecemos essa “sessão informação”, eu preciso te dizer. Quando você pegou no sono, hoje cedo, você murmurou coisas... coisas que acho que eu não deveria saber sem antes você me contar.

Daren franziu a testa. — Que tipo de coisa?

— Sobre você estar esperando uma nave. E algum cara chamado Helium.

Os olhos de Daren se arregalaram.

— Bom... — ele mordeu os lábios avermelhados e respirou fundo. — Acho que isso me poupa boa parte da história. E do porquê você descobriu-me naquela foto velha da B&L.

— Então, é verdade. Você não é da Terra. — Anna sentiu um peso sair de seus ombros ao falar aquilo.

— É. Eu venho para cá, não muitas vezes. Essa foi uma das ocasiões. E, por sua culpa, estou preso aqui.

Íris VioletaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang