SEM SURPRESAS

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SINTO A PRESSÃO DO chão frio contra o meu corpo. A dor na minha cabeça é tão explosiva que me coloca para dormir de novo.

Fico consciente, mas não consigo de forma alguma ter forças para mexer o corpo ou até mesmo abrir os olhos, a quanto tempo estou nisso? Ouço sussurros seguidos de respirações pesadas, choramingas e até sinto alguém tocar dois dedos no meu pulso. Quero ver quem são, onde estou, quero gritar, mas nada disso é possível já que estou emerso na escuridão por trás das minhas pálpebras. A falta de força e a volta da dor de cabeça me faz perder o resquício de consciência que tinha conseguido.

Acordo. Isso é a única coisa que tenho certeza. A dor de cabeça ainda está lá, mas ela não me incomoda mais. Mexo meu corpo de forma brutal e para o meu espanto ele acompanha. Escuto espantos vindo do meu lado esquerdo, mas não sei identificar se é de surpresa ou medo.

Me sento ainda com os olhos fechados, não tenho coragem para abri-los, não sei se quero ver o que tem ao me redor. Meu sexto sentido, se é que ele existe, me alerta que estou muito encrencado. Conto até três mentalmente e no final da contagem meus olhos se abrem com aflição e tento controlar meu desespero.

Os corpos de duas pessoas estão estirados de qualquer jeito no chão à minha frente e minha única reação é me arrastar rapidamente para trás evitando tropeçar em mim mesmo. Meu coração quase saí pela boca vendo aquela cena, paro de rastejar quando sinto que já estou seguro e foco nos rostos chocados de outras três pessoas que estão agachadas ao lado dos corpos, só percebo a presença delas agora.

Meu cérebro produz duas perguntas que eu acho essencialmente importante serem respondidas, mas não sei qual perguntar primeiro, então dou espaço ao meu desespero questionar o que ele quer saber.

–Elas estão mortas? – gaguejo a frase e espero que tenham entendido por que não quero repeti-la.

Os três continuam me encarando em silêncio como se esperassem que o amigo ao lado respondesse, mas ninguém responde. Aproveito o máximo esse momento, porque descubro que não quero saber a verdade, que tenho medo da sentença final deles.

–Nós três estamos vivos... você está vivo... provavelmente elas também estarão. – um dos homens responde. Ele tem um rosto fino, com cabelos extremamente pretos e bagunçado e é bastante magro para a sua idade. Ele responde calmo enquanto fita o chão, acho que está torcendo para estar certo.

Concordo com a cabeça, também espero que esteja. A segunda pergunta brilha na minha mente e dessa vez não tenho medo de perguntar:

–Onde estamos? – pergunto levando minha cabeça para todos os lados, olhando para cada detalhe do ambiente no qual eu me encontro.

Estou onde deve ser a sala principal, um quadrado enorme, tanto para os lados quanto para cima. Na minha direita está posicionada uma alta e extensa parede lisa e velha, sem estampa, janelas, quadros ou portas. Já na minha esquerda se encontra duas escadas gêmeas feita de madeira, cada uma posicionada em uma extremidade, mas as duas levando para o mesmo lugar. A parede entre elas é do mesmo tom da parede a minha direita, a única diferença é que no centro dessa se encontra grafitado a silhueta do focinho de um veado geométrico com enormes chifres usando uma máscara de gás, uma junção que eu nunca tinha visto antes na minha vida.

Tento puxar na mente todas as marcas e slogans que conheço e não consigo me lembrar de nenhuma como essa e isso me apavora.

Na minha frente, a alguns metros dos corpos, está uma entrada que leva a um corredor longo e mal iluminado. Vejo vários objetos de madeira não identificáveis atrapalhando a travessia do mesmo e me pergunto o que tem depois dele. Atrás de mim consigo identificar uma porta, ela está fechada, provavelmente trancada. Procuro outras formas de escapar daquele lugar e as escadas são a única esperança.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora