SER HUMANO

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MEUS OLHOS SE ABREM. Uma luz branca, forte e radiante me aconchega. Estou deitada, imóvel, em cima de uma maca cirúrgica dentro de uma sala pequena. Alguns fios, ligados a maquinas, estão espalhados pelo meu corpo, cravados na minha pele. Sinto uma pontada aguda no final da minha cabeça e os corvos da mansão voltam a me atormentar, mas dessa vez eu sei que é apenas trauma do meu psicológico. Meus membros formigam e é bom conseguir senti-los novamente.

Me esforço para ficar sentada a fim de ter uma visão mais ampla de tudo o que está acontecendo ao meu redor. Estou num quarto, todas as suas paredes possuí um tom claro, ele quase não tem mobília, a maior parte dos objetos são equipamentos clínicos. Vejo uma enorme janela a minha direita, com uma cortina impedindo minha visão para além desse cômodo. Minha tíbia, que não pertencia mais ao meu corpo, está de volta, como se fosse uma ilusão. Mexo-a e ela acompanha minhas ordens, perfeitamente, como se nada de terrível tivesse lhe acontecido. Estou saciada, sinto uma grande disposição e não parece que eu já estive entre a vida e a morte em algum momento da minha vida.

Isso me preocupa, mas antes de conseguir me questionar sobre qualquer coisa escuto vários passos vindo em minha direção, é estranho escutar isso depois de tanto tempo. Saber que vou encontrar e falar com outras pessoas faz meu coração pulsar aceleradamente, não sei que reação tomar, mais uma vez estou a mercê do meu destino. Planejo meu discurso perfeito na cabeça e como vou denunciar tudo o que eu passei dentro da mansão, quando eles adentram a sala.

–Meus parabéns! Você conseguiu. – ele diz com espontaneidade. Usa um jaleco formal e parece ser bem velho. Carrega um óculo pesado no rosto, uma barba bem cuidada com alguns fios brancos e o seu cabelo preto está bem arrumado no topo da sua cabeça, seus olhos são fortes e sua expressão é cansada. Sua idade é revelada pelo seu semblante. Ele veio acompanhado de dois outros soldados que vestem uma armadura de cor vinho forte camuflada e capacetes cobrindo seus rostos.

Não consigo entender o que está acontecendo e nem quem são eles, mas não tenho uma boa impressão sobre tudo isso, principalmente por causa do tom usado para falar comigo. Os soldados seguram uma pistola que está em seus coldres e automaticamente tento buscar a minha, mas ela não está mais lá. Apenas nesse momento percebo que estou trajando um vestido folgado e fino e isso me faz sentir vergonha.

–Talvez você tenha algumas perguntas. – ele continua e escreve num bloco de notas que trouxe consigo. –Irei responder todas elas!

Presto atenção no que ele veste, em como fala e em todos os detalhes possíveis. Também presto atenção em quem ele trouxe consigo e é extremamente estranho eu nunca ter visto algo parecido com isso antes. São intimidadores.

–Onde eu estou? – minha voz saí falhada, como se eu não falasse a algum tempo.

–Oh! Eu já ia esquecendo. Seja bem vinda a Castelo Branco! – ele responde isso com veemência, mas para mim isso não significa nada.

–Quem são vocês? Preciso relatar um problema... – começo.

–Meu nome é Vicente e sou o criador e fundador da Mansão. – um ódio consome todo o meu ser, mas não deixo transparecer. –Você é a única sobrevivente desse ano. – cerro o punho e quase saio quebrando tudo. Avançaria em cima dele e o mataria com minhas próprias mãos, mas não teria chances desarmada e com esses dois soldados do seu lado. Fecho meus olhos por alguns segundos e engulo toda a minha fúria. –Quero deixar claro que estamos muito felizes por você!

Davi, Katarina, Thaís, Nícolas... todas essas vidas perdidas para que eu me encontrasse aqui, pronta para denunciar tudo, e sou recebida com essa recepção de vencedora. Eu não venci nada, não mereço esse mérito.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now