BARRINHA DE CEREAL

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A ESPERA É AMARGA, cansativa, devastadora e brutal. O silêncio, a culpa, o medo e a falta de ar é nocivo. A Mansão, as paredes, os corredores, as imagens pintadas e os cômodos tempestuosos é a pior coisa já imaginável.

José não falou com ninguém por muito tempo, assim como não saiu da cama. Thaís caminhava com medo e evitava ao máximo esbarrar com alguma das meninas. A culpa pesou seu coração. Katarina e Mariana continuaram juntas explorando a mansão, elas acharam enormes e profundas marcas de arranhões nas paredes perto da piscina e no pilar vinho que está no centro do salão hexagonal. Juntamos essa informação com a gosma que encontramos anteriormente e agora não nos resta dúvidas de que um animal enorme e nojento estava à solta pelos corredores. Mas onde ele estaria agora? Espero que bem longe. Às vezes eu penso no nosso último objetivo: encontrar uma bendita chave que vai abrir o portão e nos tirar daqui. Parece ser fácil e tranquilo tudo isso na teoria, mas só de pensar no tamanho dessa gigantesca mansão é aceitável desistir; é impossível encontrar esse objeto minúsculo aqui dentro.

Estou a um bom tempo no quarto com Thaís, ela está parada e pensativa, assim como eu, isso é a única coisa que nós resta aqui dentro. Mas é complicado viver desse jeito, nossos pensamentos talvez nos mate. E ele está fazendo isso, a cada segundo que passamos aqui dentro, confinados, é como se estivéssemos nós sentenciando.

Olho para ela e ela me devolve um sorrisinho forçado.

José entra no quarto, em silêncio, ele parece estar bem, seu olhar transmite isso. Ele inspira bem forte e de alguma forma eu sinto verdade na ação dele.

–Eu preciso conversar com você! – ele começa. –Eu te ajudei quando você estava ferida e ali eu senti algo genuíno. É difícil culpar você, chegar a uma conclusão sozinho... por isso eu preciso que você me explique o que aconteceu.

Ele me olha como se quisesse falar algo e eu entendo sem precisar que uma palavra seja dita.

–Eu vou deixar vocês sozinhos! – falo e aceno com a cabeça para ela. Outro sorriso sem graça é me dado.

Saio do quarto, fecho a porta atrás de mim e finjo seguir o corredor direto, mas na verdade eu me encosto na parede ao lado da porta e tento escutar toda a conversa. Nunca que eu vou deixar Thaís sozinha falando sobre algo tão delicado que é a morte de Nícolas com José.

Ela explica toda a história, desde que encontramos o corpo dele baleado no chão, até guardar o corpo do Nícolas na dispensa como forma de proteção. Ela conta tudo com riqueza de detalhes e do ponto de vista dela. Ele não a interrompe nenhuma vez e parece ouvir com atenção tudo o que Thaís tem a dizer.

–Eu estava ajudando você a ficar melhor e não achei justo termos tantos recursos e não podermos usá-lo nos dois. Eu sei que corria o risco de Nícolas ser o traidor, ter atirado em você e provavelmente me matar, mas na hora eu não pensei em nada disso, eu fui cega em tentar ajudá-lo. – ela dá uma pausa. –Esse foi o erro que eu vou carregar pelo resto da vida.

–O que aconteceu lá dentro? – é a primeira vez que ele fala e sua voz parece não variar de timbre.

Thaís parece estar incomodada com a situação e penso em entrar lá e interromper tudo, mas não faço isso, ela precisa aprender a se defender sozinha aqui dentro. Entretanto nunca vou abandoná-la.

–Foi tudo muito rápido! – ela conta. –Mesmo machucado ele me atacou quando me aproximei, ele me levou no papo e eu ingênua, caí. Eu tentei fugir dos braços dele, mas ainda assim ele era muito forte, me virei e tentei bater nele como forma de defesa. Ele pegou minha arma, tentei impedir, mas um disparo foi efetuado quando estávamos agarrados e ele caiu no chão sangrando...

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now