DEPOIS DA MANSÃO

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OS CINCO RASTEJAM PELO pequeno túnel de pedra, um atrás do outro. Davi é o primeiro e Katarina a última. A única fonte de luz daquele lugar são as rajadas azuis do cilindro de vidro. A fina poeira das paredes e do chão ferem as mãos e os joelhos deles e faze-os tossir. O pesado portão de ferro se fechou assim que Katarina atravessou ele; não podiam mais voltar, apenas prosseguir, isso é bom já que a cada centímetro que se movem a mansão fica mais distante, mas não saber o que os aguardam ainda aflige seus corações. E se não tiver nada mais à frente? Eles se perguntam.

Rastejam por no mínimo umas meia hora, já estão cansados e com as costas doendo quando começam a avistar bem de longe uma luz branca e forte em forma de quadrado, com certeza é a saída, e pela luz eminente não possui nenhuma porta ou algo do tipo, é simplesmente passar por ela que tudo acaba.

Começam a rastejar bem mais rápido, a discutir suas opiniões do que tem depois da luz e a sorrir de forma espontânea, é como se estivessem vendo a própria vida bem ali, diante dos seus olhos.

A luminância se aproxima e eles aumentam a velocidade do rastejar para conseguir chegar nela em imediato. O que tem depois não é possível ver, ela é tão forte e clara que demora para seus olhos se acostumarem e a expectativa do que vão encontrar só aumenta. Eles fecham um pouco os olhos e prendem a respiração, vão encarar esse último desafio com todas as forças, já vivenciaram coisa piores. Precisam fazer isso por si mesmo, pelo próximo e por Nícolas.

Precisam escapar!

Precisam fugir!

Não existe um traidor entre nós!

Eles atravessam e é como aprender a enxergar. Suas pupilas dilatam e as imensas cores vibrantes ao redor confunde suas cabeças. A princípio tudo é uma onda branca se chocando contra seus corpos, mas como peças de um quebra cabeça todas as cores se juntam, se mostrando e fazendo sentido.

Quando saem do túnel e se colocam de pé suas vidas mudam completamente. A mansão transformou cada um deles e agora faz parte do que eles representam no mundo. Entretanto, eles estão bem ali, nessa confusão de cores, nenhum deles entende ainda o que esse ali significa, mas o que sabem é que ele não é a saída que tanto almejam.

Estão em pé sobre um mar verde de grama. Um vasto céu azul sem nuvens os cobrem, um vento forte contorna seus corpos e faz seus cabelos e roupas se moverem com força. O som agradável e convidativo dos pássaros é ouvido bem de longe pelos ouvidos feridos deles. Um cheiro bom de terra molhada, árvores frutíferas e da água de um rio enchem seus narizes e fazem seus olhos lacrimejarem. O significado de tudo isso faz Katarina cair de joelhos e Davi, assim como os demais congelarem, estão fissurados com tudo aquilo que um dia achou que não fossem mais ver.

Mais à frente é possível ver uma floresta densa, com árvores enormes, cheias de galhos e folhas perfeitamente arrumadas. O vento também sopra por entre elas fazendo-as mexer num ritmo engraçado. É possível ver em algumas delas frutas crescendo, milhares, carregando cores vívidas e chamativas. É de dar água na boca!

O primeiro impulso humano seria sair correndo enquanto deslumbram tudo aquilo ao seu redor, mas eles continuam parados, petrificados. Duas coisas passam freneticamente pelos seus pensamentos: a primeira, é que conseguiram enfim se livrar da maldita mansão ainda com vida, que não seriam mais obrigados a acordar e ter que encarar aquelas velhas, rachas e torturantes paredes mal pintadas; aqueles cansativos e tenebrosos corredores e que não teriam mais medo da fome eminente. A segunda é que ali provavelmente não é a saída, e que eles não vão encontrar suas casas seguras e suas famílias; que continuam presos, mas em outra narrativa, e que dessa vez pode ser bem pior.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now