A COBRA DO ADÃO E EVA

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–ELES ESTÃO DEMORANDO DEMAIS! – falo inquieto dentro da cabana. –Eu vou lá fora!

–Você não vai sair daqui de dentro. – Mariana se joga na frente da porta. –Não está vendo a merda que está lá?! São chamas enormes! – passo as duas mãos pelo meu cabelo e me sento no beliche. Ela tem razão, mas isso não me faz ficar menos preocupado.

–Eles não vão parar de tentar nos matar. – Mariana fala para si mesma enquanto olha pela janela.

O fogo não está tão próximo da cabana, nós estamos seguro aqui dentro. Mas à alguns quilômetros – perto da floresta densa e do rio – parece que está um desastre, um desastre mortal. Espero que todos estejam bem. Fecho o rosto com as mãos. Eu sei que não estão.

Esperar é a pior parte, aguardar uma resposta que você não sabe qual é se torna torturante. Qualquer coisa pode vir, qualquer coisa pode acontecer e é isso que mais me preocupa, e se eu não gostar do que eu receber? Tento não ficar paranoico e expulso os pensamentos ruins que estão explodindo no meu inconsciente.

O tempo passa rápido demais. O céu continua sangrando, mas os raios parecem ter dado uma trégua. O fogo continua devastando tudo e transformando em pó e a fumaça escura agora começa a ameaçar entrar pelas janelas e fresta da porta, entramos em desespero.

Mariana me abraça de forma automática, talvez precisando de proteção, mas acontece o contrário, nessa posição que estamos ela é quem está sendo meu escudo. Meu enorme e forte escudo. Sua respiração está alta e seu corpo todo treme, assim como o meu, mesmo assim ela não deixa transparecer uma expressão de medo ou uma posição de desespero, é isso que sempre me chamou atenção nela... Mariana nunca externaliza o que sente!

Primeiro ouvimos socos pesados na porta, depois gritos horrendos de socorro vindo do lado de fora. Levantamos ao mesmo tempo com o coração na garganta. A maçaneta gira diversas vezes tentando empurrar a cômoda que impede a passagem. Olho para Mariana e ela me encara de volta sem sabermos que decisão tomar.

–POR FAVOR ME DEIXE ENTRAR! ELA ESTÁ ME SEGUINDO! – José grita e sua voz carrega dor e agonia. Parece que ele está chorando. –ME DEIXEM ENTRAR, EU IMPLORO! – ele continua batendo com força na porta. –DAVI, MARIANA... EU VOU MORRER AQUI FORA.

–O que devemos fazer? – pergunto e o silêncio dela é a resposta. –Não podemos deixar ele lá. – ela continua em silêncio olhando para a porta imóvel.

–Me ajuda aqui! – ela responde em seguida segurando um lado do objeto. Respiro aliviado por ela ter tomado essa decisão.

Seguro o outro lado da cômoda e juntos empurramos para o lado da porta e José entra disparado como a luz do sol dentro da cabana. Ele fecha a passagem atrás de si e percebo que ele está mancando e sangrando muito, e não demora para desabar no chão e sujar o tapete empoeirado. Suas roupas estão rasgadas e algumas partes queimadas e é perceptível algumas manchas de terra pelo seu corpo. Seguramos ele e levamo-lo para sentar no beliche com calma e cuidado. É como se estivesse vivendo alguma parte da minha vida novamente, eu já fiz isso antes, eu já o ajudei nesse mesmo estado outra vez, e começo a sentir um grande sentimento de pena e compaixão.

–O que está acontecendo lá fora? – Mariana se ajoelha e levanta a barra da calça direita dele que está toda ensanguentada. –Isso está horrível! – ela toma um susto quando vê de onde vem o fluxo enorme de sangue.

–Eu não sei. Eu estava no rio com Thaís, a gente saiu cedo depois do café da manhã, para conseguir ver o nascer do sol e estava tudo bem quando esse lugar virou de cabeça para baixo. – ele fecha os olhos com força, talvez com a dor que esteja sentindo.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now