AS NOSSAS DECISÕES

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O PRIMEIRO IMPULSO DE Nícolas é sacar a pistola e apontar para os outros residentes. Ele passa impacientemente o cano da arma por cada um, sua afeição é rigorosa e seu olhar tem um brilho perigoso.

–Estava muito bom para ser verdade! Quem é? – todos se entreolham. Estão desesperados. –QUEM É?

Essa é uma boa pergunta, quem aqui vai nos trair? Quem provavelmente é capaz de sujar as mãos com o nosso sangue? Todos parecem pessoas boas, acabaram de compartilhar suas histórias horas antes, ninguém demonstrou ter esse perfil.

A movimento a seguir é rápido e arriscado. Mariana saí da mira de Nícolas e puxa a própria arma ora apontando para as outras quatro pessoas, ora apontando para Nícolas.

–Quem pode garantir que não é você? – a voz dela é calma, mas mais ameaçadora que a de Nícolas.

–É óbvio que não sou eu! – ele responde ainda com a arma em mãos.

–Pode ser qualquer um! – ela para a arma nele dessa vez.

–Pessoal, não precisamos resolver as coisas desse modo... – Davi bota as duas mãos abertas para cima e se coloca no meio dos dois. –Vocês vão matar todos nós se o traidor não se revelar? Porque é claro que ele não vai!

–E se não existir realmente um traidor? – José pergunta.

–Como assim? Que a merda da televisão está mentindo? – Nícolas revida.

–Ela pode ter feito isso para tentar desestruturar a gente, colocar um contra o outro, sei lá... – José continua.

–Conseguiu. – Mariana fala encarando Davi à sua frente.

–Como vamos saber a resposta então? – Katarina se pronuncia.

–Eu não sei! Mas vocês podem por favor abaixar as armas? – Davi pede ainda com as mãos para o alto.

–Eu não posso confiar, não posso confiar em ninguém... – Nícolas não abaixa a arma totalmente e se afasta de todos.

–Podemos fazer uma votação. – Katarina  propõe focando o chão. –Cada um vota em quem desconfia que seja e a pessoa mais votada...

–O que acontece? A gente a mata? – Davi grita.

–Eu não desconfio de ninguém aqui! – José diz.

–E se não existir apenas um traidor? – a voz de Thaís saí tão baixa que ela é obrigada a repetir.

–Na tela só citou um traidor! – Mariana responde, a diferença de personalidade das duas é gritante.

–Mas... eu pensei... – ela não termina.

–Ok, vamos votar! Meu voto é na Mariana! – Nícolas fala.

–O QUE? – Mariana vai para cima dele, mas Davi segura ela. Ela começa a xingar, gritar e desafiar Nícolas apontando a arma para a cara dele, mas nenhum tiro é efetuado.

–Voto é a pior forma de decidir isso. – José diz. –Alguém tem mais alguma uma ideia?

–Para começar vocês deveriam abaixar as armas. – Davi pede. –Só vocês dois estão armados, se não quiserem se tornar suspeitos é melhor baixarem.

Demora muito para eles aceitarem o pedido de trégua. Os seis se entreolham, se questionam, tentam lembrar de algo suspeito ou alguma pista, qualquer coisa que possa ajudar eles nessa missão tão difícil.

–Eu acho melhor todos ficarem desarmados, a gente pega as armas e guarda em algum lugar... eu me sentiria mais seguro dessa forma. – José fala. Esse discurso é meio suspeito, mas faz sentido na cabeça de todos. –O Nícolas pode por impulso matar a Mariana ou qualquer pessoa aqui baseada na ideia dele, que talvez não seja tão certa!

–Vocês têm algum problema comigo? – Nícolas pergunta.

–Não é nada pessoal, cara! – Mariana solta um grunhido, que deveria ser um riso, com essa fala de José.

–Eu não vou dar minha arma, é a única coisa que me protege... de vocês! – Nícolas diz.

–Eu também não vou dar a minha! – Mariana pela primeira vez concorda com Nícolas.

–Nem eu! – é estranho ouvir isso vindo de Thaís.

–Eu não sou o traidor, mas se fosse, seria justamente isso que iria propor... tirar as armas de todos! – Katarina fala encarando José.

–Você está desconfiando de mim? – José questiona de forma ingênua. 

–Talvez eu esteja.

–Está perdendo o seu tempo me acusando. Enfim, podem continuar com suas armas, eu vou continuar com a minha! E não quero ficar nessa discussão que provavelmente não vai dar em nada. Tenham um bom dia! – ele fala indo em direção à cozinha.

–Não sabemos se está de dia! – Katarina responde com um tom sarcástico e ainda de costas José mostra o dedo do meio para ela.

Todos se separam, cada um para seu lado, isolados. Até Mariana se distancia de Katarina... todos são suspeitos.

Davi entra em um quarto qualquer, abre o baú e retira uma toalha do amontoado de panos e se instala dentro do banheiro mais próximo. Ele passa bastante tempo encarando a parede acima da pia onde deveria ter um espelho. Milhões de pensamentos e questionamentos correm pela sua cabeça e pensa na melhor decisão que deve tomar. Abaixa a calça, senta no vaso sanitário e depois vai para debaixo do chuveiro pedindo para que a água gelada clareei suas ideias.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant