QUEM NÓS SOMOS

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DAVI ACORDA. ELE ESTÁ sentado na poltrona da sala de estar que, com ajuda de Thaís, ele arrastou pelo corredor até a sala de jantar para ficarem vigiando José de uma forma mais confortável. Ele continua dormindo em cima da mesa, as vezes sussurra coisas que não entendemos, ele acorda para comer, mas parece que está em transe, não abre os olhos, não fala, apenas engole as coisas que é dado e volta a dormir.

Thaís atravessa a porta com dois jarros de plantas pequenos que lavaram e usaram como copo, duas bananas e algumas barrinhas de cereal, ela deixa tudo na mesa ao lado das pernas de José e se senta ao lado dele. Davi vai ao banheiro lavar o rosto de forma demorada e encara a parede onde deveria ter um espelho e se pergunta qual foi a última vez que ele escovou os dentes e não consegue recordar. Ele percebe o quanto sente falta daquilo, das cerdas alisando os seus dentes e do gosto refrescante na boca. Ele olha para seu corpo e percebe que o pelo já estão crescendo novamente, mas ele não pode tirá-lo enquanto estiver naquele lugar.

Ele relembra de todas as vezes que se estressou se depilando e o quanto ficou satisfeito quando presenciou o resultado, ele daria tudo para ter essa experiência outra vez e rir consigo mesmo dentro daquele espaço apertado. Também pensa nas meninas que estão presas ali e o que elas irão fazer quando enfim voltarem a menstruar. Ri mais um pouco e volta para tomar... ele não sabe que horas são e se pode chamar aquela refeição de café da manhã.

Thaís já tem terminado de comer quando Davi começa, ele não tem pressa na mastigação.

O chão libera uma vibração imperceptível, o clima parece se tornar mais macabro e rarefeito, tudo ao redor indicava o que iria acontecer em seguida, mas eles não prestaram atenção nos sinais, eles deveria ter prestado atenção nos sinais...

O som das sirenes invadem o ar de surpresa, fazendo todos se assustarem. Ele não é estridente e torturante como o dos corvos, parece mais um alarme, como se quisesse informá-los de algo. Davi não sabe onde Mariana e Katarina estão, ele queria todos juntos nesse momento e correria atrás delas sem pensar duas vezes se não fosse pela abertura da parede no extremo da sala dando lugar a uma TV que segundos atrás não estava ali.

A TV traz uma mensagem com as mesmas letras amarelas, dessa vez precisavam agir rapidamente. Ao contrário das mensagens anteriores, essa ordenava uma ação imediata, sem escolhas, sem tempo para se questionar, era para os pés saírem do chão e se movimentarem para algum lugar que fosse bem distante dos cômodos dessa mansão.


FUJA! ELE ESTÁ CHEGANDO.


–Quem está chegando? – Thaís pergunta apressada.

–Eu não sei e não pretendo ficar aqui para descobrir! – Davi engole sua comida. –Me ajuda com José, vamos colocá-lo embaixo da mesa e cobri-lo com os panos.

E assim fazem, afastam todas as cadeiras de madeira, coloca-o em baixo e depois põe elas no lugar como se nada tivesse sido mexido ali. Não parece que ele está totalmente protegido, porém está bem escondido, seu corpo está completamente coberto por uma pilha de lençóis velhos.

A sirene para de soar, a televisão volta para dentro da parede e em seguida todas as luzes se apagam. Isso lhes parece familiar.

Eles vão até a porta com cautela, já estão acostumados a andar no escuro naquele lugar. Eles dão passos calmos e seguros, atravessam a porta trancando-a atrás de si. O lugar mais perto dali e que parecer ser mais seguro é a sala de jogos, Davi manda Thaís segui-lo, mas o corredor está tão escuro que nem consegue enxergar o rosto da sua amiga. Ele se apoia no papel de parede e vai se arrastando tendo a parede como guia até encontrar outra porta, ele não faz nem ideia se está indo na direção certa. Ele não escuta nada além da própria respiração ofegante e seu coração acelerado. Quem está chegando? O traidor? Mas Nícolas está morto, então deve ser outra coisa. Descobrimos o traidor rápido demais e os donos desse jogo repugnante quer colocar mais emoção na parada? Mas o que está chegando? Davi chama por Thaís, mas não recebe resposta, ele não consegue mais escutá-la, eles não estão mais juntos, perceber que está sozinho. Ele pode ir procurá-la, procurar todas as meninas, mas e se isso colocar em risco a minha vida? É melhor ele procurar um lugar seguro para se esconder. Mas e se todos morrerem e eu ficar sozinho nessa mansão? Essa ideia de estar sozinho nesse lugar o apavora, ele prefere procurá-las.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora