OS OUTROS

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–EI! VOCÊ TEM QUE acordar. Não pode ficar parada aí para sempre. – escuto Davi falar como um sussurro no meu inconsciente. Abro os olhos e ainda estou embaixo da mesa, me escondendo, com medo e sozinha. Passo a mão pelo sangue seco na minha testa e consigo sentir a abertura causada pelo impacto contra a parede na minha queda.

–Ele está vindo! – Katarina fala rindo histericamente. Eu não entendo esse seu comportamento. –Ele está vindo matar você! Vai arrancar seu coração e comer seus olhos. – ela continua rindo, cada vez mais alto.

–Para com isso. Está assustando-a. – Nícolas responde mesmo eu não conseguindo vê-lo. –Mas, com certeza José está vindo.

Tudo fica em silêncio a minha volta e minha visão gira em trezentos e sessenta graus. Tenho a impressão de que vou vomitar.

–CORRE! – Davi aparece gritando de surpresa e me assusta.

Levanto rápido e bato minha cabeça no ferro da mesa. Não tenho tempo para saborear a dor, sou obrigada a sair rápido debaixo dela, me forçando a correr até a porta. O que devo fazer com o corpo de Davi? Olho para ele sentado de todo jeito, com as costas apoiada na parede. Morto.

–Por mim, deixo ele aí mesmo, não tem mais o que ser feito. – Katarina responde agora calma e didática. –Não pode carregá-lo com você, ele é um fardo.

–O que você disse? Eu estou bem aqui. – Davi responde.

–Quer que eu repita? Sabe o que você fez...

Thaís puxa minha atenção da discussão dos dois e segura no meu rosto com as duas mãos. Seu rosto está quase colado no meu e ela me encara com seriedade e precisão.

–Você tem que sair desse lugar agora, depois voltamos para pegar Davi. – ela diz com firmeza e concordo rápido com a cabeça, sem entender o que tenho que fazer necessariamente. –CORRE, RÁPIDO. – faço isso.

Me movimento cambaleando e batendo nas coisas. Não tenho força para aguentar meu próprio corpo e nem estrutura para me locomover com velocidade. Uso as paredes de vidro como apoio e tudo o que eu vejo pela frente. Minha visão ameaça fechar e eu vejo tudo turvo e sem forma. Meu braço está dormente e sinto que uma das minhas pernas também, começo a mancar e a sentir falta da gravidade ao meu redor.

–Mariana não vai conseguir chegar inteira na saída, ela é incapaz. – Katarina surge na minha mente.

–Para com isso, ela está quase lá. – Thaís diz me acompanhando numa torturante corrida.

–Será que vai doer quando ele matar você? – Nícolas ri junto com Katarina.

Tento não perder meu sofrido foco.

–Eu não senti nada. – Davi fala do meu lado e eu ainda não consigo acreditar que isso seja real.

–Eu fui morto injustamente e sofri um pouquinho! – Nícolas tenta competir.

Lembro do tiro que disparei contra ele e me choco contra um balcão no meio do corredor. Caio rapidamente e sinto meu tórax queimar de dor. Quase coloco meus órgãos para fora e meus olhos parecem querer pular do meu rosto. Escuto novamente o vulto passar por algum dos escritórios perto de mim e me levanto me preparando para voltar a tentar correr.

–Mariana, vire à esquerda. – Thaís parece ser a única destinada a me ajudar. Obedeço. –Agora a direita, esquerda de novo e segue reto naquelas maquinas ali. – sigo com dificuldade os comandos dela.

–Por que você está ajudando-a? Ela não merece nossa piedade, é pior do que José! – Katarina diz com clareza cada palavra dentro do meu cérebro. –Não tem capacidade de ajudar uma amiga!

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now