Capítulo 19 - Sua dor, minha dor.

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"Enterre a dor de perder pessoas amadas nos braços de seus amigos."
Fairy Tail

Já faz um mês que Helena se mudou para o apartamento que era de seus pais. Sua avó está a uma semana internada e todos os dias Helena a visita.
Sinto minha melhor amiga cada vez mais distante e cada vez mais fria.
Ela não tem um sorriso no rosto e muito menos a loucura.

Sua dor é tamanha que ela não precisa me dizer nada que apenas ao olhar no fundo dos seus olhos já vejo o quão vazio e triste estão.
Sem brilho.
Sem vida.
Sem ALMA.

Pode me chamar de louco ao dizer isso, mas só de olhar para seu estado já vejo que aquela garota triste sem, vontade de viver voltou.
Isso me assusta.

- Mãe, posso começar a dormir na Helena? Estou preocupada com ela e sei que ela não está bem.

- Cláudio, ela realmente precisa de ajuda. Vá ficar com ela por alguns dias e qualquer coisa me ligue.

Sorrio para minha mãe e a abraço.
Vou para meu quarto arrumar minhas coisas e poder pegar um ônibus até sua casa.

...

Chego no prédio onde Helena mora e como já tenho as chaves, subo para o apartamento dela.
Quando o elevador indica o andar que ela mora já sinto um aperto no meu coração. Sei que ela está precisando de mim.

Entro as pressas em seu apartamento e sinto uma dor no meu coração, Helena está sentada no tapete da sala do apartamento com todas as fotos de família no chão, espalhadas em uma ordem cronológica, em suas mãos uma garrafa de vinho e ao seu lado duas garrafas vazias.
Seus olhos estão inchados e logo entendi que ela estava chorando sozinha neste apartamento e isso me dói tanto.

- CLÁUDIO, vem cá... hahaha... olha essas fotos que bregas e ridículas. Família feliz, criança feliz, velha maldita egoísta feliz... - Ela me dizia apontando para as fotos no chão e estava extremamente bêbada.

- Helena, pelo amor de Deus amiga, está bêbada e nossa, fedendo né gata. Já para um banho mocinha.

Ela revira os olhos e levanta cambaleando, vai tirando a roupa já na sala e nua ruma ao banheiro que tem em seu quarto.

Ela é tão imprudente!
Me dirijo até a cozinha para fazer algo para ela comer e se a conheço bem, já não deve comer direito a dias, ainda mais julgando pela quantidade de garrafas vazias de vinho espalhadas entre a sala e a cozinha.

...

Depois de mais de meia hora Helena aparece nua na cozinha.

-Amiga precisa parar de andar pelada assim, vai que alguém do apartamento da frente a veja deste jeito e já sabe.

- Amado, o que está fazendo?

- Macarrão do jeito que você gosta, mais tarde iremos ao mercado, não se tem quase nada de comida.

Helena estava mais magra e visivelmente cansada.

- Não dormiu bem essa noite Helena?

- Amado eu não sei o que é realmente dormir a muitas noites.

- Como está sua avó? Seu avô não veio falar com você?

- Ela está cada vez pior, fui ficar com ela noite passada no hospital e ela estava dizendo coisa com coisa, delirando e cada vez mais sem vida. Agora quanto ao meu avô, rs, está lá e fala pouco comigo, sabe como ele é ruim, machista e militarista, me olha com desprezo e não ligo também.

Helena dizia com pesar e tentava medir as palavras como se estivesse escolhendo bem o que dizer.

Deixei as panelas de lado e fui até ela, peguei suas mãos, olhei em seus olhos e perguntei: " O que posso fazer para te ver sorrir um pouco?"

Ela me olha de um jeito muito doido.
- Quero ver você fazer sexo!

- Caralho, você não muda mesmo hem. - Reviro meus olhos, dou de costas para ela e vou desligar o fogo do molho. - Jantar está pronto, vamos comer e vou pensar em seu caso.

...

Helena não havia comido muito e estávamos deitados em seu quarto, Helena tinha acabado de adormecer.

Acordei com o celular de Helena tocando, e quando menos percebo ela já estava acordada segurando o celular na mão, olhando para tela e vi que estava chorando.

- Helena, não vai atender?

Ela vira a tela do celular para mim e ele estava tocando desligado, o toque era como uma música de orquestra sinfônica e ela chorava muito. Aquilo me deixou arrepiado.

O celular parou de tocar e senti um vento frio no quarto, Helena se levanta e senta no chão abraçada em seus joelhos.

- Ela se foi Cláudio, ela se foi. Essa era sua canção favorita e eu não tinha em meu celular. Ela veio me dizer adeus. Estava dormindo quando senti seu toque em meu rosto, abri os olhos e a música começou a tocar. Ela se foi... - Helena dizia isso enquanto chorava e isso me cortou o coração.

Ser a possível que isso foi real? Helena deve ter tido um sonho e seu celular deve estar com algum defeito.
Ela liga o celular e logo vibra com uma mensagem do seu avô escrito:

Sua avó acabou de falecer, o enterro será pela manhã devido a ser câncer não podemos manter o velório por muito tempo.

Aquilo que deixou arrepiado, Helena chorava ao ponto de me fazer chora e junto. Abracei Helena e ali choramos juntos.

Sua dor se torna minha dor, não consigo vê-la sofrer desta forma.
Se pudesse pegaria toda essa dor que ela sente e transferia para mim.

VazioWhere stories live. Discover now