Capítulo 24 - Intervenção

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Resolvi não falar sobre os ocorridos com Helena, tive medo de ela se fechar mais e resolvi que mesmo não  sabendo o que ocorreu da boca dela, isso não mudaria o quanto amo essa doidinha.

Saímos da consulta dela e ela estava em silêncio, não quis me intrometer e simplesmente não questionar.

Fomos ao shopping e Helena comprou várias coisas.

Ela sorria e estava super animada. Estranha até está situação, a poucos minutos ela parecia viajar no espaço!

-Cláudio!!! Não quero que more comigo, você precisa de seu cantinho e mês que vem nós fazemos aniversário e teremos 18 anos. - Helena fazia aniversário 2 dias depois de mim. - tenho um presente perfeito para você e ano que vem estaremos na faculdade, podemos trabalhar também.

Ela está querendo se isolar, não tem nada haver com cantinho só para mim. Isso me parte o coração.

Sorrio gentilmente: - Claro, seremos um arraso. Vamos comemorar dignamente, o que quer fazer?

- Vamos a uma boate gay e sem mais!

Apenas concordo e continuamos a andar.

Meu celular tocou e vejo que era um número desconhecido.

- Alô.
-Falo com Cláudio?
- Sim, quem gostaria?
- Sou Paulo o psicólogo de Helena, entrei em contado com o avô dela e ele me disse para falar com você. Poderia passar em meu consultório umas 17h?
- Claro.
- Por favor, não fale para Helena e obrigada.

- Hum, algum alvo querido??
- Sim amor, tenho um encontro hoje. Vamos para casa?
- Lógico!!!

...

Estou meio apreensivo, não consigo pensar em nada que não seja em coisas ruins sobre Helena.

Quando estou no consultório, fico com uma péssima sensação de ser observado e analisado até o último fio do meu cabelo.

- Sente-se, por favor.

O homem a minha frente me estendeu a mão e a apertei.

-O que faço aqui?

- Digamos que Helena é bem fechada e entendo perfeitamente seus traumas e você como a acompanha de perto, precisarei de você para uma intervenção. Não costumo usar esse tipo de método, mas tenho receio e preocupação com o bem estar dela. Hoje na consulta, seu comportamento me deixou muito... bem, Cláudio, me conte sobre sua vivência com ela.

- Me sinto traindo Helena em vir aqui e não entendi ainda o que quer, mas se é pelo bem da minha maninha, farei o meu melhor.

- Não se sinta assim, vamos tratar de uma conversa informal e queremos atingir o mesmo objetivo, o bem de Helena. O abuso sexual infantil é fenômeno recorrente em todas as sociedades e traz para suas
vítimas inúmeras consequências danosas, tanto a longo quanto a curto prazo. Nesse sentido, intervenções psicoterápicas são realmente imprescindíveis. As evidências da efetividade de diversas abordagens psicoterápicas no tratamento de vítimas de abuso sexual infantil. Mais destaque é dado às terapias cognitivas, indicando suas vantagens e estudos que demonstram
essa perspectiva. Conclui-se que, de modo geral, todas as abordagens psicoterápicas são benéficas, no entanto, existem evidências acerca da efetividade das terapias cognitivas para o tratamento desses pacientes. Mas por hora sinto que este tipo de tratamento ainda não pode ser aplicado em sua amiga, ela é relutante e digamos que em uma hora de consulta percebi que ela será complicada.

Eu literalmente fiquei perdido em meio de tantos termos, mas pelo bem dela preciso fazer meu melhor.

- Paulo, ela não me fala o que aconteceu e sinceramente não sei como ajudar. Mas tudo que posso dizer é que Helena está sofrendo sozinha, ela parece sempre agir teatral, como se estivesse vivendo em um programada. Ela sempre foi gentil e doce. Sempre sorrindo de uma forma que nem o sol consegue ser tão iluminado. Tudo que sei sobre os abusos são o que os policias e médicos disseram, dela mesmo nunca partiu uma só palavra. Mesmo com tudo o que aconteceu, Helena é o tipo de pessoa que sempre todos querem ter por perto, mas se ela quiser beber até cair, eu estarei lá. Se ela quiser fazer comprar idiotas de coisas que ela nunca irá usar, estarei lá. Se ela quiser sexo todas as noites, irei apoiar. Se ela quiser matar alguém, a ajudarei.

O psicólogo apenas me ouvia e não dizia nada, continuei a falar como ela se portava no dia a dia e minha convivência com ela, enserrei o assunto lhe dizendo sobre a ideia que ela teve de que eu deveria sair de sua casa.

- Cláudio,  obrigada pela conversa e apenas mantenha isso em sigilo. Por hora a única coisa que te peço é que se mantenha ao lado dela, assim impede de haver um isolamento social. Referente ao desejos sexuais dela, preciso avaliar um método. Por hora Cláudio,  agradeço sua disponibilidade e conto com você para fazer Helena vir nas próximas consultas.

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