Vazio

Capítulo 33 - Terapia água a baixo

Entre 2011 e 2017, o Disque 100, canal de denúncias oficial do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), registrou 203.275 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. No mesmo período, o Ministério da Saúde recebeu 141.160 notificações da mesma violência. Apesar de não haver uma discrepância tão grande desses números, a diferença nos registros de órgãos distintos dificulta a compreensão da real dimensão dessa violência no País. 
Site Childhood Brasil

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Ando me sentindo cada vez mais cansada em sem fome, Cláudio me obrigou a vir ao médico.

- Helena, sou Alexandre Angelis, ginecologista responsável pelo 24h hoje. O que está sentindo?

Expliquei ao médico o que ando sentindo e ele pediu para me deitar na maca onde realizaria um ultrassom intra-vaginal.

Enquanto ele faz o ultrassom, ele me olha com pesar.

- Helena, vou ser franco e direto, você está grávida de aproximadamente 3 meses e pelo período da gestação, infelizmente tenho que lhe dizer que o feto pode ter sido fruto do seu abuso.

Eu não conseguia responder, fiquei estática.

Estou grávida de um monstro, o que eu faço.

Olho para o médico sem reação.

- Helena, irei lhe perfuntar apenas por padrao, pois ja sei a resposta, você estava tomando anticoncepcional e me disse que estava usando preservativo, acredita que possa ter havido alguma falha?

- Não, tenho certeza.

- Helena, sinto em lhe dizer que pelo tempo da gestação, tudo indica que é o mesmo tempo do abuso e infelizmente como está com mais de três meses o aborto não será aprovado, a gestação deverá ser levada até o final e depois o bebê pode ir para adoção.

Meu coração acelerou, não tinha como responder aquilo. Preciso pensar, preciso falar com o Cláudio.

Após a consulta, saio com a cabeça girando, uma enorme papelada de exames para confirmar se o bebe realmente é filho daquele homem, vejo Cláudio me esperando sentado em uma cadeira.

- E aí meu amor, como foi?

-Estou bem Cláudio, mas o médico disse que estou grávida.

Cláudio coloca um sorriso enorme no rosto e me abraça.

- Sei que não quer mais ficar com o Márcio, mas agora que você está grávida, tenho certeza de que ele não irá largar só seu pé. Vou ter um sobrinho.

- Não Cláudio, não é do seu irmão.

Ele me solta e arregala os olhos em espanto.

- Helena, o que está dizendo? Tem certeza disso? Depois do meus irmão vo... - interrompo o falatório de Cláudio colocando meu dedo indicador em sua boca.

- Estou grávida de um pouco mais de três meses, os cálculos coincidem com a data do estupro, assim que fizer o exame de confirmação DNA fetal irei ter certeza.

- Helena, eu sinto muito! Ah meu Deus o que você fará? Vai tirar essa coisa de você!!!

- Não irei, você sabe que depois do terceiro mês o aborto em casos de estupro não é aprovado e eu não sei se teria coragem. Que culpa essa criança tem de um monstro ter feito aquilo?

- Helena, eu não sei o que dizer.

- Eu também não sei, mas por hora vamos para casa. Esqueci meus cigarros e quero vinho.

- Helena você não pode!

- Não posso o que? Viver? Preciso pensar ok e sobrea é a última coisa que consigo fazer.

Cláudio suspirou derrotado e tão perdido quanto eu.

...

Realmente não sei o que pensar, oh vida cruel.

O que posso fazer e como viver? Será que terei coragem de levar isso até o fim?

Meu celular toca.

- Alô.
- Oi princesa, vamos nos ver hoje?

Era Márcio e ao me chamar assim meu corpo congela de uma maneira que não consigo respirar.
Tudo gira, começo a ficar mole e vejo Cláudio correndo em minha direção, então tudo se apaga.