(Não) Cuida de Mim {Jungkook Centric • Romance}

3. Esperança

Quando criança, o melhor momento do dia para Jungkook era quando ele se deitava na cama depois de um dia agitado e deixava sua mente o guiar para os caminhos mais lúdicos e inusitados possíveis. Era uma experiência extracorpórea fantástica para o menino que costumava desenhar todos os seus sonhos coloridos em folhas de papel e sair distribuindo-as pela casa, como uma forma de tentar compartilhar com os demais suas fantasias envolvendo coelhinhos e montanhas de sorvete.

Desde pequeno, Jungkook sempre amou sonhar, em todos os sentidos da palavra. Criava planos de viagem as quais ansiava fazer e se imaginava atingindo e conquistando as coisas que imaginava ao dormir. Nunca aquilo havia sido um problema, até aquele dia. Depois da noite que tivera, sonhando novamente com os moradores da casa, mas dessa vez especificamente com a voz doce de Namjoon, as mãos de Taehyung enquanto jogava videogame e o olhar preocupado de Seokjin sobre si, ele já não tinha mais tanta certeza se queria visitar seu mundo dos sonhos novamente.

Acordou pontualmente às 6h da manhã. Levantou completamente tímido e fora até o banheiro, segurando sua toalha e a escova de dentes, além do uniforme usado no dia anterior. Trancou a porta assim que entrou no banheiro e respirou aliviado por ninguém ter o visto entrando ali. Não sabia se existia algum tipo de ordem sobre o uso do banheiro, ou se os mais velhos se incomodavam dele ser o primeiro a utilizar o mesmo - já que muitos deles pareciam acordar cedo também -, mas estava determinado a não se atrasar novamente.

Se despiu rapidamente e suspirou, sem saber o que fazer com suas roupas. O pijama ainda estava limpo, mas onde estava o cesto de roupas sujas? Ao menos, costumava haver um desses em sua casa. Determinado a não perder muito tempo ali, dobrou tudo da forma que pode e logo se apressou para dentro do chuveiro, tendo de concordar com o que Seokjin dissera quando se conheceram: a água era bem quentinha e a ducha relaxante. Se limpou como pôde, envergonhado ao extremo por haver tantos produtos para cabelo diferentes lá dentro (sabonetes também)  e ele não ter coragem de pegar nenhum deles emprestado por sequer saber a quem cada produto pertencia.

Havia um creme roxo "matizador" que ele supôs ser de Jimin, pois trazia o slogan "loiro perfeito" na embalagem; um shampoo vermelho reconstrutor de fios, que ele supôs ser de Hoseok pela cor de cabelo do mesmo; um combo 2 em 1, de alguma marca masculina bem conhecida; até mesmo reconheceu um shampoo e condicionador para cabelos femininos e, por fim, um enorme pote hidratante para cabelos. Jungkook suspirou porque, ao passo em que ele estava tão confuso, todos rapidamente saberiam que o shampoo neutro para bebês era dele. Chegava a ser uma piada pronta e ele decidiu não deixar nem o shampoo e nem o seu sabonete corporal ali, por pura vergonha.

Na noite anterior, Eunna havia lhe perguntado se o mesmo já havia feito as compras do mês e dado um sermão por ele ter dito várias vezes que já sabia o que fazer quando, claramente, não sabia. Ela o disse para, ao menos, ir em algum mercado comprar seus próprios itens de higiene pessoal, pois seu shampoo acabaria em breve e já estava na hora de trocar a escova de dentes.

E é claro que lembrar de sua antiga tutora logo pela manhã já fez ele se entristecer de novo. Suas manhãs com ela costumavam ser bem tranquilas, pois Eunna respeitava seu leve delay por sono e deixava tudo preparado para que ele não tivesse de se estressar logo pela manhã. Normalmente, ele apenas levantava, tomava seu banho, se vestia com as roupas limpinhas e passadas, tomava seu café da manhã quentinho e depois cochilava no carro pelo caminho em direção à escola.

O menino suspirou só de lembrar, pois seu estômago roncou de saudade dos ovos mexidos e torradas com carinha sorridente que a mais velha costumava fazer para ele em dias ruins. Hoje, certamente, seria um dia desses... Se ele ainda tivesse a mesma vida de antes.

Desligou o registro de água depois de limpo e se secou com a toalha felpuda que ainda tinha cheirinho de casa. Se lamentou por saber que, em breve, essa sensação passaria e ele se sentiria um forasteiro novamente. Vestiu o uniforme depois de secar os cabelos da melhor maneira possível - pois ficou envergonhado ao ver dois secadores de cabelo distintos dispostos em um aparador lateral - e, ao ouvir batidas na porta, a abriu.