4. Probabilidade

13.8K 1.1K 4.3K
                                    


Taehyung não era, realmente, alguém de conversas sobre o que estava sentindo. Não sabia se aquilo era simplesmente parte de sua personalidade, como tinha notado ser no namorado, mas desconfiava sobre a relação superficial que teve desde criança com os próprios pais que se preocupavam demais com o futuro cidadão que ele se tornaria e o dinheiro que ele ganharia e esqueciam de partes importantes da criação, como o carinho, a confiança e a sinceridade.

  Até os quinze, costumava chorar em silêncio ou arranhar os troncos de árvores com um canivete roubado do pai quando algo o incomodava. Apesar disso, foi uma infância boa, ele acreditava. Nunca faltou nada, a inocência era uma bênção que ele não imaginava ser tão preciosa até o desprezo que ela recebeu após aquela idade. Ele começou a perceber, em silêncio, que seu pai e sua mãe tinham uma relação superficial consigo porque era assim entre eles da mesma forma. Não culpava os dois por isso.

  Quando chegou a idade da vontade de fazer coisas que crianças não deveriam, foi o que fez, sem pedir autorização - mas sem ser exatamente repreendido por aquilo também. Pra sorte de seus progenitores, nunca foi um menino desobediente, então nunca precisaram brigar de forma muito agressiva nem o castigar muitas vezes.

  Aos dezesseis conheceu uma mulher mais velha que, primeiramente, o ensinou a andar de skate e posteriormente o fez experimentar mais coisas do que as rampas. Mudou o corte de cabelo, pra começar. Então furou as orelhas e mudou a cor do cabelo, no mesmo dia. Poucos meses depois, fez a primeira tatuagem enquanto estava bêbado.

Costumava ficar mais na casa dela, Hayi, do que na própria. Era uma casa dividida e ela era a única mulher, mas a pessoa mais respeitada ali - e provavelmente no resto da rua. Em Hayi, Taehyung encontrou certo carinho parental, mesmo que ela não tivesse idade pra ser sua mãe. Depois de conhecê-la, não chorava mais em silêncio ou arranhava as árvores inocentes quando algo o incomodava; ao invés disso, fumava uns cigarros, comia comida pronta, jogava LoL e fazia sexo.

  Se dissesse que aquilo o deixava feliz, mentiria. Não era feliz que um rapaz prestes a fazer dezessete tivesse aquele tipo de companhia e não recebesse nenhuma reclamação de seus pais que cuidavam tanto, antigamente, para preservar sua moral. E não fazia questão de esconder dos pais o que fazia; pelo contrário: se o perguntassem, ele diria sempre a verdade. Sempre. Tinha aprendido em sua pouquíssima idade que mentir era algo por que não valia a pena.

  "Que cheiro é esse?", eu estava fumando. "São seis da manhã e você está acordado, dormiu em casa?", não, cheguei há pouco mais de meia hora. "Qual faculdade você quer fazer depois desse ano?", nenhuma, eu não quero ir à universidade. "Onde nós erramos?", sinceramente acho que nasci quebrado.

  Não era feliz, mas pelo menos se sentia vivo. Ria mais, vivia do jeito que sempre quis, mas ainda não gostava de conversas sobre o que estava sentindo.

  Abriu uma conta na Twitch levando em consideração uma sugestão de Hayi e começou a streamar. Não levava aquilo realmente a sério, tanto é que apenas alguns colegas viam as lives e pagavam porque achavam que o menino jogava bem, e Taehyung continuava a fazer porque era muito divertido. Por conta de sua habilidade que era aperfeiçoada com o passar dos dias, começou a fazer dinheiro real com as streams.

  Quando fez dezoito, recebeu uma ligação de um agente da Generation Gaming. Ele dizia que tinha observado Taehyung por certo tempo e queria saber se o Kim não tinha interesse em ser um jogador profissional de League of Legends. Recebeu aquele telefonema na casa de Hayi, e ficou muito desconfiado no início, pensando ser trote ou algo assim. A mulher foi a primeira a ficar sabendo, e foi ela quem o acompanhou quando foram conhecer o agente, a empresa e assinar o contrato.

(Não) Cuida de Mim  {Jungkook Centric • Romance}Where stories live. Discover now