Interlude: Taehyung e Kai

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Kai não era o garoto mais popular da escola, mas estava entre os mais. Por outro lado, Taehyung era extrovertido, conversava com todos, mas por ser o melhor estudante do colégio e participar do máximo de clubes que podia – do de teatro ao de matemática – era taxado como nerd.

Taehyung tinha uma queda irrevogável por Kai que havia começado nos primórdios do Ensino Médio. Já estavam no segundo ano, porém, e Kai claramente só saía com garotas. Taehyung já tinha descoberto sua orientação sexual, mas não sentia vontade de enfrentar os problemas decorrentes disso: as críticas, os olhares preconceituosos, a punição de seus pais. O silêncio era o seu meio de defesa.

As vezes em que conversava com Kai eram raras, sempre por causa de algum trabalho em grupo ou algum projeto. Quando se viam nos corredores, eram polidos um com o outro, mas nunca foram considerados bons amigos. Isto é, até o dia em que Kai pedira seu número, alegando que queria ajuda em alguns exercícios de química.

E Taehyung de fato o ajudou, resolvendo grande parte da lista, na verdade. A partir de então, ocasionalmente eles trocavam uma ou outra mensagem. Os assuntos iam desde trivialidades da escola até o que estavam fazendo no dia. E Taehyung sentia sua paixonite aumentar, assim como suas incertezas quanto ao outro garoto.

Alguns sinais que Kai lhe mandava eram confusos. Ele lhe entregava pequenas notas desejando um boa dia, lhe deixava algum doce colado no armário, elogiava subitamente o seu cabelo: coisas que para Taehyung demonstravam algum interesse além de apenas amizade.

Um dia Kai lhe pedira para que o encontrasse atrás do clube de astronomia, em uma saleta que estava fechada há mais de dois anos e que ele havia conseguido a chave. E Taehyung pensou que era isso: finalmente iria descobrir se Kai queria algo além de amizade com ele.

Taehyung colocara sua roupa favorita. Passara um pouco de brilho labial sabor morango, talvez exagerando um pouco na quantidade, querendo que seus lábios ficassem atrativos para Kai. 

Ao chegar na sala, ficou triste em pensar que seu primeiro beijo – era o que iam fazer ali, não era? – seria na sala empoeirada com cheiro de mofo. Mas, entendia se Kai queria privacidade, e agradecia que ele havia se dado ao trabalho de conseguir a chave de um lugar remoto como aquele.

O outro chegou minutos depois, com um sorriso no rosto. Cumprimentaram-se e conversaram por poucos minutos. Os nervos de Taehyung estavam aflorados, uma antecipação boa o deixando tonto. Então, o seu primeiro beijo aconteceu.

Kai havia ajeitado o cabelo de Taehyung, tirando uma mecha da frente dos olhos castanhos, aproximando seu rosto dele. Os lábios dos dois se encontraram, e Taehyung sentiu seu estômago revirar de alegria. 

Sua alegria fora cortada rapidamente.

Mal tinham progredido para um beijo de fato, e então Kai estava interrompendo o contato, empurrando Taehyung com força, o fazendo desequilibrar e cair.

– Você está de batom? – Kai perguntou, sua face rígida, seu tom ameaçador.

Taehyung o olhou com confusão. 

– Ah, é só um brilho labial, eu…– tentou explicar-me, gaguejando entre as palavras. 

– Você por acaso é mulher para usar isso?

Taehyung sentiu o chute em suas costelas antes mesmo que fosse atingido. Estava em choque, e a única reação que conseguia ter era a de proteção. Agarrou a lateral de sua cabeça, entrando em posição fetal. 

– Você é uma vadia, que espécie de homem passa essas coisas? E ainda me fazendo te beijar assim, me seduzindo até aqui.

E ele o chutou de novo, e de novo, e de novo. Taehyung não conseguia entender a situação. Não havia sido Kai quem quisera estar ali em primeiro lugar? Ele que criara todo o esquema...

Mesmo quando os chutes cessaram e Taehyung ouviu a porta bater, ele não conseguia mover-se da posição, a dor e mortificação o deixando congelado em seu lugar. Foram horas até que finalmente chegasse em casa e tomasse um banho, na tentativa de lavar toda a repulsa que sentia: repulsa de si mesmo. Ele nunca havia se sentido tão diminuto, tão inferior. Esfregou seus lábios repetidamente, a pele ficando esfolada por dias. 

Jogou fora todos os produtos que tinha para a boca. 

Meses depois, Taehyung contou à Jimin, deixando os chutes de fora da história. Ele havia ficado lívido, queria fazer algo a respeito, mas Taehyung só queria que o assunto morresse, e Jimin havia respeitado o pedido do amigo.

Jimin havia lhe dito como Kai tinha homofobia interiorizada, a repulsa da própria homossexualidade, e havia descontado em Taehyung porque tinha se sentido atraído. Provavelmente, o brilho labial havia sido apenas uma desculpa para culpar Taehyung pelo que ele mesmo sentia.

Mesmo entendendo isso, alguns dias Taehyung achava que tudo havia sido sua culpa. Que se ele fosse uma garota, poderia usar seus brilhos labiais e fazer outras coisas consideradas femininas pelos outros.

Taehyung jurou que somente beijaria alguém com a total segurança de que o incidente com Kai não se repetiria, e que não sairia machucado de novo.

Lie to Me (jjk + kth) - ConcluídaWhere stories live. Discover now