V is for Vivid

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Vivid
Vívido
1.Força, vigor;
2. Com clareza e nitidez; nítido

Jungkook nunca correra tão rápido em toda sua vida, nem quando era da equipe de atletismo no ensino médio, no seu auge.

Alcançou Ten e o irmão em segundos. Não se importou se estava na escola ou que estava na frente de seu aluno. Puxou T.J. pelo ombro, o virando para que ele o encarasse. Segurou-o com firmeza. Pôde ver em sua feição que ele sabia do que tratava a abordagem.

– Você estava seguindo o Taehyung? – a voz de Jungkook, geralmente tão calma, parecia um rosnado. O outro apenas o olhou, impassivo. – Te aconselho a começar a falar agora.

– Eu não sei o que quer dizer, cara. – T.J respondeu sem nem piscar. Jungkook não deixou a frustração o atrapalhar. Apesar da resposta de T.J dizer uma coisa, o seu olhar brilhava em reconhecimento. Não era um achismo de Taehyung: era ele quem o seguira, Jungkook tinha certeza.

– Quem te pagou para isso? – Jungkook foi direto. Apertou mais os seus dedos, marcando o ombro dele. Queria fazer mais, queria pressioná-lo contra a parede, apertar o seu pescoço...

– Eu não sei do que está insinuando. E se estamos falando de conselhos, eu tenho um para você. Me solta, agora. – Terminou, cínico.

– Seu filho da puta. – Jungkook não se segurou, empurrando T.J. com força. Estava disposto a fazê-lo falar a qualquer custo.

O som de alguém tomando fôlego atrás de T.J ressoou pela noite. Ten.

Jungkook mirou o seu estudante de soslaio, vendo que sua expressão era cheia de ressentimento. Ressentimento esse direcionado à Jungkook.

– Jungkook. – ouviu a voz aveludada de Taehyung, que aproximava-se por trás de Jungkook sem que ele sequer percebesse. – Você está no seu trabalho, em frente a um de seus alunos… Deixa isso, por favor.

Mais baixo, Taehyung completou, deslizando uma mão pelas costas de Jungkook em um gesto de consolo:

– Ei, eu estou aqui. Estou bem.

Era óbvio para quem observava a cena o que eles eram. 

– Ah, é claro que você é o namorado dele. – T.J falou, rindo. – Ten, você não volta para essa equipe de atletismo mais. Esse viado não vai ensinar você a ser um homem. Por isso que anda apanhando tanto.

O garoto pareceu convencido, olhando para Jungkook e Taehyung com nojo. Parecia que tinha sido traído, que ambos tinham mentido para ele. 

Virou-se para Jungkook, a voz cheia de veneno, muito mais do que um garoto da idade dele deveria possuir. 

– Eu confiei em você. Achei que era meu amigo. 

Seguiu o irmão, que àquela altura já sumia de vista, não se dando ao trabalho de esperar pelo mais novo.

Jungkook estava em choque, o seu corpo todo travado no lugar. Nunca imaginou ouvir aquilo de um de seus estudantes, tanto asco direcionado para si apenas porque havia interagido com Taehyung.

A influência do irmão, no fim das contas, era a maior de todas para Ten. Mesmo que ele nunca tivesse comparecido às suas corridas, ou sequer ao hospital para a sua cirurgia. A idolatria que Ten tinha por ele era superior a tudo isso.

Jungkook piscou uma, duas vezes. Sacudiu a cabeça, tentando voltar para terra.

– Nós vamos ganhar algum dia, Tae? Essas quedas acabam? – sua voz era quebrada e cansada, como se o peso de anos lutando contra a corrente finalmente caísse sobre os seus ombros. 

Taehyung pensou no que dizer a ele. Estava surpreso também: Ten parecia doce e alguém bem diferente de T.J. Saber o tanto que Jungkook amava e se dedicava aos seus estudantes fazia com que ele entendesse perfeitamente a dor da rejeição. Sabia que qualquer palavra de consolo soaria vazia no momento.

– Nesse mundo? Provavelmente não. – Taehyung estendeu sua mão, segurando a de Jungkook, o encaixe perfeito entre os seus dedos compridos e finos com os mais grossos de Jungkook. – Vamos perder juntos, ao menos. 

***

Mais tarde, já no restaurante, Taehyung e Jungkook encontravam conforto na companhia do outro. Ainda discutiam o assunto, porém de uma maneira mais suave e casual, aproveitando para conversar sobre outras coisas no dia. Era uma distração agradável.

Faziam de tudo para conter a raiva e não estragarem o momento que tinham juntos, todavia, era impossível conter a seriedade por muito tempo.

– Estou realmente preocupado com você morando no hotel. Vai saber quem mais tem a chave, todos esses quartos costumam ter mais que uma cópia.

– Eu entendo, mas um apartamento não é muito mais seguro. – Taehyung replicou, soprando a sua sopa. Jungkook sorriu involuntariamente, ficando distraído pela bico que Taehyung fazia. 

– Mas ainda assim é mais seguro, e tudo o que puder aumentar sua segurança é bem-vindo, Tae. Inclusive procurar a polícia de novo. 

– Acho que farei isso. Não sei se terei alguma resposta, mas ao menos posso tentar fazer um retrato falado, ou algo assim. Não quero parecer que estou acusando alguém sem provas, mas eu tenho esse sentimento, aqui. – Taehyung colocou a mão no peito, fechando levemente os dedos. – Que me diz que foi ele. 

– Não dá pra ter plena certeza, mas pela forma com que agiu, ele é um forte candidato.

Taehyung concordou, tomando mais de sua sopa.

– Quanto ao apartamento, eu posso olhar, mas demoraria um tempo até achar alguma coisa e me mudar. 

Jungkook imaginava que não seria uma mudança fácil. 

– Você poderia ficar comigo, pelo tempo que precisasse. – murmurou, quase inaudível. 

Taehyung piscou, tentando raciocinar. Antes que pudesse questionar Jungkook, o mesmo continuou. 

– Aliás, como foi a entrevista?

Taehyung fitou o prato, desviando sua atenção para outro problema.

– Não sei. Com meu currículo no antigo hospital ou na faculdade não deveria ser tão difícil. 

– Eu lembro de você e das suas notas altíssimas. – Por um segundo, Jungkook achou que tinha cometido um grande erro ao mencionar àquela época. Mas Taehyung sorria calmo, não mais afetado como antes ficaria. Ele apoiou o cotovelo na mesa, seu sorriso transformando-se em uma expressão de confusão.

– Honestamente, temo que meu pai tenha uma influência maior do que eu imaginava a princípio. – disse, pensativo. Jungkook ofereceu conforto ao acariciar seu antebraço.

– Você já pensou em ter o seu próprio consultório?

– Já, mas não é mais como antes. Não há muitos médicos que seguem uma carreira autônoma, pois as grandes clínicas estão engolindo todo o mercado. Acho que só me resta continuar tentando, apesar de que logo eu terei que tentar nas cidades vizinhas.

– Entendo como é. Eu tinha acabado de perder meu emprego em Denver quando vim para cá, pois não conseguia nenhuma proposta que me agradasse lá. O ponto é, se eu consegui, você consegue também.

Taehyung o chutou levemente por debaixo da mesa.

– Ei, eu não gosto quando fala assim. Pare de se vender barato, está bem? Eu te acho incrível. Você é incrível.

Taehyung nunca pensou que veria aquilo, mas Jungkook parecia corar perante o seu discurso. Suas bochechas ganharam um tom rubro bastante chamativo na sua pele clara. Ele tossiu contra o próprio punho fechado, também tentando disfarçar a timidez. 

Taehyung riu, mas sua risada não era cheia; algo lhe causava estranheza. Queria pensar que tudo daria certo, com tudo de bom que estava acontecendo com Jungkook nos últimos dias. 

Era difícil sacudir o pressentimento amargo que começava a sentir com frequência, porém.

Lie to Me (jjk + kth) - ConcluídaWhere stories live. Discover now