Interlude: Jungkook e Sana

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Jungkook começou a obter dinheiro através de seu corpo de uma maneira simples, fazendo algo que muitos adolescentes aos dezoito anos já fizeram: filmando a si mesmo para a internet.

Morava com sua mãe e havia acabado de terminar o Ensino Médio. Sem probabilidades de entrar em uma Universidade, vivia entre empregos medianos, disputando contra os outros milhares de nova-ioquinos que estavam na mesma situação que ele.

Todos em seu ciclo de amigos que formara no Ensino Médio tinham dinheiro. Estavam na Universidade, indo a festas, usando roupas legais. 

E Jungkook tinha muita raiva, porque ele também queria fazer as coisas que todos os outros estavam fazendo, mas seu salário mal dava para cobrir despesas básicas e ajudar a mãe.

Estava miserável, e apenas tinha dezoito anos. Tinha medo de que isso fosse apenas o início de sua vida adulta, e que passaria o resto dela dessa maneira. 

Foi mexendo no celular em uma tarde de tédio que ele deparou-se com um site que lhe ganhou interesse. Um site pornô, especificamente para camboys.

O site tinha um funcionamento simples. As pessoas podiam assistir aos shows gratuitamente, os clientes podendo enviar gorjetas. Nesses shows gratuitos você chamava a atenção das pessoas para os shows pagos, que ficavam em uma sala diferente do site. Nessa sala privada você recebia 50% do valor total que os clientes pagaram para entrar, além das gorjetas também.

Jungkook decidiu entrar, sem muito compromisso no começo, usando a câmera de baixa qualidade do celular. 

Isso que fazia poderia ser visto como uma inconsequência de um adolescente, mas a verdade era que logo no início ele já conseguia dinheiro suficiente para pagar as despesas em casa com folga, e ainda comprar coisas para si. Deixou seu emprego como garçom e passou a dedicar-se completamente aos shows, sem que sua mãe soubesse.

De início ele não mostrava o seu rosto, seu corpo chamando atenção suficiente. Tinha um corpo definido, afinal tinha passado grande parte da sua adolescência treinando para equipe de atletismo, e sempre recebia elogios. Alguns comentários o deixava incomodado, muitas vezes até constrangido. Não era possível saber quem estava do outro lado da tela o assistindo e não gostava de pensar muito nisso, pois com toda certeza não conseguiria masturbar-se para a câmera com tais pensamentos.

Aos poucos foi ganhando certa fama, os shows nas  saladas privadas aumentando. Então, as pessoas começaram a perguntar sobre o seu rosto, pedindo para que ele mostrasse.

Estava relutante em mostrar sua face: sabia que então não teria volta, não poderia preservar sua privacidade depois. Entretanto, via o quanto os garotos que mostravam o rosto ganhavam mais gorjetas e obtinham mais sucesso. E seu senso de competitividade fez com que quisesse ser o melhor. E se os melhores faziam...

Talvez tinha sido ali que sua sina com dinheiro realmente começara, que sua busca incessante por tal nublara sua cabeça de vez. Via os números das gorjetas subirem, assim como os número dos inscritos em sua sala privada, e só queria que eles subissem mais. Passava o dia inteiro pensando em como poderia poderia fazê-los disparar, o que podia fazer diferente para agradar quem lhe assistia e o que atrairia novos clientes.

Dizer que estava nervoso a primeira vez que mostrou o rosto era um eufemismo. Sabia que tudo mudaria a partir de então.

E a resposta havia sido enorme. Jungkook era lindo, e seus traços delicados e fortes mesclavam de uma maneira única. Sua popularidade foi aos céus, e logo tornou-se o garoto mais buscado. E então estava ganhando muito dinheiro.

O problema era que quanto mais dinheiro ganhava, mais ele precisava, ou mais ele achava que precisava.

Um dia ele recebeu uma ligação de uma empresa que havia lhe visto no site.

Disseram que era um projeto, chamado 'Vermilion', e perguntaram-lhe se ele tinha algum interesse em reunir-se com idealizadores. Ele aceitou.

Confessava que aos poucos ficava cansado da vida no site, pois tudo resumia-se a fazer vídeos. Passava o dia todo pensando na produção, em como seria a iluminação e principalmente o que iria fazer consigo mesmo nos vídeos, o que iria dizer. Era um perfeccionista.

Gostava bastante de uma parte, a de organizar os seus vídeos e a filmagem. Talvez, em um universo que tivesse entrado para a universidade, teria sido a carreira que seguiria. Em um universo em que dinheiro imediato não fosse tão necessário para ele. 

Quando ele ouviu mais sobre o projeto, deu-se conta que na verdade era a clássica prostituição, apenas com requintes de modernidade. Teriam um catálogo, um sistema diferenciado de agenciamento onde você pagava uma taxa de administração a eles, mas todo programa que fazia ia para o profissional. Parecia mais seguro que outros métodos.

Mostraram os valores que ganharia: ele ganharia por programa quase o que fazia em uma semana no site. Jungkook aceitou.

Tinham uma sala de convivência, e você podia alugar ou não os quartos disponibilizados por eles. Era razoavelmente livre. Jungkook frequentava a sala com frequência, querendo conversar com outros profissionais: queria saber por eles tudo que pudesse.

A primeira garota que conhecera no lugar chamava-se Sana. Ela fazia programas há mais tempo do que muitos ali, e sempre era amigável com todos. Conforme foram se conhecendo, Sana passou a ser o suporte de Jungkook, cuja ansiedade era incontrolável nos primeiros dias.

A primeira vez que transou por dinheiro foi com uma mulher quase vinte anos mais velha do que ele. Aparentava ter bem menos, porém. Ela gostava de garotos menos experientes e a agência o indicou. 

Ele não era exatamente bom, não nas primeiras vezes. Havia tido relações sexuais apenas duas outras vezes antes, então não era completamente estranho ao sexo, mas também não era nenhum especialista.

Sana e outras garotas sempre lhe davam dicas, e aos poucos ele foi melhorando. Quando ganhou mais dinheiro, pôde arrumar-se melhor e sua confiança aumentou – não que fizesse tanta diferença, pois ele era muito bonito e não precisava de retoques na aparência. Mas a confiança adquirida lhe ajudava nas suas performances.

Considerava Sana uma irmã. Ele retribuía tudo que ela havia feito por ele tentando protegê-la, principalmente porque sabia que a prostituição para mulheres podia ser muito mais difícil. 

Um dia Jungkook falhou.

Por ter experiência, Sana às vezes ficava com alguns clientes que gostavam de um sexo mais… Intenso. 

Jungkook havia lhe alertado para não encontrar-se com aquele cliente em específico fora dos quartos da agência, onde ela poderia recorrer à ajuda mais facilmente. Sana fez por menos, indo encontrar o homem.

Jungkook mandou vários textos para ela depois de algumas horas, quando sabia que o programa já deveria ter acabado. Sana nunca ficava longe do celular, então seu sumiço era suspeito.

Foi até o hotel onde geralmente ela levava os clientes. Berrou com a recepção, ameaçou o hotel, mas foi inútil. Subornou a recepcionista, e isto funcionou.

Chegou tarde demais, encontrando uma Sana quase desmaiada. Sangrava por um corte em seu lábio inferior, tinha marcas nos braços e nas pernas e nas coxas. Ele a levou para o hospital. Recusou-se a sair do lado da garota.

Sana deixou tudo depois do acontecido. Foi viver em um estado no interior junto à uma prima. Jungkook lhe deu algumas de suas economias. Abraçou-a forte na despedida.

Jungkook afastou-se da agência, mas continuou trabalhando na área de forma independente. Já havia formado sua clientela, afinal.

Na maioria dos dias odiava a indústria que fomentava. Abominava a objetificação recorrente de seu corpo, mesmo sabendo que era ele quem se colocava para venda. 

Sentia-se particularmente desconfortável quando algumas tentavam dominá-lo e ele tinha de consentir. Quando usavam alguns nomes, ou quando batiam em seu rosto, os tapas humilhantes. Algumas gozavam ao ver humilhação nos seus olhos. Com o tempo, aprendeu a trabalhar melhor, a ser mais seletivo com quem saía. Ainda assim, sempre estava sujeito às surpresas.

Jungkook jurou que um dia escaparia. 

Lie to Me (jjk + kth) - Concluídaحيث تعيش القصص. اكتشف الآن