{Cap.2} Beiradas.

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- As notícias de longe trazem estas novas, está vindo uma remessa de celulares, é o meu momento de melhorar a renda. - Jasper disse, era moreno, baixo, calvo, com reclamações constantes de bolhas nos pés e uma dívida extensa no banco.

- Deixe-me melhorar para você, as fofocas estão vindo mesmo, mas passarei a meta e ganharei um aparelho de graça. - Maria Minner falou, o sobrenome é como a chamam.

Minner tem pele bem clarinha e é gordinha, uma definição de sua especialidade? Os clientes sempre saem cheios de informações com ela, é deverás perfeccionista e aplicada na empresa. Tem uma certa inclinação a rudez, no entanto, sempre manteve por perto Jasper, viraram amigos do meio-dia, quando as fofocas eram trocadas entre os funcionários. Nelas se falava sobre gerenciamento da empresa, promoções de cargos e meritocracia. O papel que fluíra neste dia poderia chegar a impactar Minner se ela o ouvisse. Ali na loja ela é tão famosa quanto Nael quando são levados em conta o esforço e foco, entretanto dentre todos estes anos ela nunca foi chamada ao cargo de gerente, e esta seria a discussão. Parece que o escolhido era outro, mais jovem que ela e com menos tempo de empresa.

Ante isto estavam os dois a encarar Nael que permanecia em silêncio.

- Está aí itinerante? - Jasper o perguntou.

- Estou bem aqui, só pensando em nuvens, talvez azuis.

- Começou com sua filosofia rudimentar, estou saindo. - disse Minner.

- Não ligue para ela, está de mau-humor hoje. Você parece fora de si, está tudo bem?

- Está.

- Só precisa de vendas, não é mesmo? Nem imagino o quanto vendeu esse mês! O pessoal está de olho em você! - anunciou a última frase entre sussurros e batidas nas costas de Nael que respondera um abrupto "é".

Nisto se desviou, saiu dali indo para frente da loja, passando por alguns funcionários. Ignorou o que ouvia, eram os elogios, por alto cantavam da mesma canção, que logo-logo Hylla deixaria de ser gerente e Nael tomaria seu lugar, algo que ele realmente estaria muito bem-disposto a ter. Parou um tempo viajando em seus próprios pensamentos, ficou moendo a palavra liberdade e depois no que os outros pensavam, sobre si e então deixou que o espaço e Sartre se misturassem. O universo sendo enorme e quase limitado em sua percepção e a ideia sobre o nada do filósofo. Sendo ele, Nael, nada talvez como o que pensava do universo. Sim, o pensamento fervilhava sobre o existencialismo próprio. Até ser parado para recobrar seu egoísmo, sendo ele um egoísta assumido e orgulhoso disto. Queria ter como centro fazer o máximo de escolhas que considerasse produtivas. Tinha uma ânsia beirada a loucura por crescimento, talvez um dia seu emprego na Market Live poderia vir a ficar pequeno demais para ele e então outro país poderia fazer parte de suas proposições. Se sentia triunfante e seguido pelo estado que considerava o alívio de suas dores de barriga, quando não podia controlar sua ansiedade, metaforicamente se via de pé em frente as escadas, tinha um emprego bom e os seus pés só subiam.

Todavia não conseguia se concentrar, estava já há dias centralizado naquela praça, pensando em como poderia deixar-se ali. Estava sentindo a atenção de seus pensamentos focalizando no assunto que ele desejava esquecer, mas seus esforços eram péssimos. Por um tempo deixou de lado seu plano para o enriquecimento, desligou-se da tv do seu tempo e agora, suas ambições, nem nada. Estava mordido, ali, parado. Os clientes entravam, mas ele não os via. Viajou e esqueceu onde era sua mordomia.

Quem conhece o não simplista Nael consideraria que aquele era seu momento de aborrecimento. Poderia ser mais um de seus dias de glória, mas de quase nada vendeu. Apertou forte seus olhos no fim do dia, seguindo para casa, olhando para a rua. Como se quisesse desenjaular-se da sua vetusta estupidez. Gritaria ali mesmo no meio da rua um "Bravo!", apenas para que os pensamentos não antes meditados sumissem, mas não surtiria nenhum efeito e de novo não se via firme como antes. Estava mordido e molenga como se uma gripe o tivesse pegado muito rápido e não havia remédios para sua melhora, até pôde se estranhar quando não teve apetite no horário de almoço.

Decidiu que acordaria cedo noutro dia, faria um check-up. A médica que lhe atendeu não lhe prescreveu nada grave, mas poderia ser preocupação ou saudade. Contudo, ponderava consigo mesmo "Saudade de quem e preocupado pra quê?". Voltava para o emprego por sem querer e de repente realmente se distraiu por parte, da desconhecida e do seu olhar minguante. Ainda assim só lá no fim da tarde que pôde ligar realmente o senso de sua situação. Era mesmo a moça que o estava tirando da razão.

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