{Cap.7} Entre as flores.

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— Veja, há libélulas naquela parte. São da ordem odonata, — Adaliz acrescentou calmamente — precisamos de boas fotos para a pesquisa.

A Desconhecida parou antes de seu último passo e olhou fixamente para mim, Adaliz a encarou por um momento também.

— Deve ter causado uma terrível primeira impressão,  — cutucou-me a senhora — acho que ela está a verificar se não vai implicar com ela de novo.

— Não há problema nenhum em ir para onde quiser, aquilo era outro contexto. — respondi alisando a parte da costela cutucada. — Onde foi abordado o termo permissão para sair? Ela é uma pessoa livre.

— Você deve se queixar muito. — deu de ombros observando a passarela e alçando perguntas ao guia.

Enfim, atravessamos um lago bem artificial e acabamos embaixo desta passarela. Uma cor deveras exagerada, muito cristalina da qual se podia ver os peixes indo de um lado para o outro. As crianças pulavam e gritavam em volta da árvore central. O guia nos havia instigado que aquela seria uma velha árvore, mas não me podia prontificar com exatidão sua idade. Eu não podia ver tudo isto e não repetir as iterações artificiais, mas Adaliz celebrou o clima frio e sem sol e a Desconhecida parou com firmeza e tirou uma foto quando seus olhos a arrastaram firmemente para perto da árvore. O guia percebeu que eu estava indiferente as suas informações e nos deixou.

— Foi muito de sua simpatia nos tirar daquela lata de sardinha.

— Queria que pudéssemos escalar uma montanha já que há tantas, mas creio que a senhora não nos acompanharia.

— Fico feliz que tenha considerado minha idade. — suspirou, ela foi derrotada!? — Julga que ela possa ser uma desbravadora, é isso?

— E por que não? Vi em uma revista que os fotógrafos que vão em lugares mais perigosos tem uma maneira diferente de reflexo e forma de posição de câmera, até mesmo para os destaques que tem de ser capturados pela lente.

— E leu isso tudo em uma revista? Puxa! Devo comprar uma dessas também. Na temática de jornal que assino, principalmente a sessão Inventário para meia idade sob custódia, bem... o que quero dizer é que não há tantas informações assim. 

— Era uma revista com fins acadêmicos e curiosidades, — ajustei minha postura, "sei que você é inteligente", era o feedback que a senhora estava me passando — mas apenas prestei atenção ao jeito que ela tirou a foto e se assemelhava um pouco. Pode ser só mais uma dessas baboseiras de identificação... espera, era ironia?

— Cuidado com o galho! O que ia dizendo mesmo, Nael?

Não pude deixar de ver Bárbara subir na árvore e não lhe parecia um desafio difícil.

— Talvez sua "teoria" — fez aspas com os dedos — esteja certa e essa palavra eu ouvi em um documentário. Não parece fantástica? Vamos juntos nos prontificar a trabalhar pelo Estado, temos o básico, certo? — brindou dois copos imaginários a minha frente que precisei me conter para não murmurar.

Não importa se Adaliz não daria muito crédito a minha pesquisa. Se pode saber muita coisa sendo um amador. Nenhuma discussão sobre o caso ganharia tanto quanto observar com atenção a Desconhecida descer da árvore em um pulo, lembremos, de uma altura considerável.

— Veja só, é uma menina forte! — Adaliz dizia enquanto se apoiava completamente na viga da passarela.

— É bem forte em seus poucos 24 ou 25 anos. — ditei as palavras para mim mesmo.

Deve haver um cálculo maior, principalmente ao meu desconforto atual. Não posso adivinhar quem ela seria por completo. Enquanto posso ter lucidez, o que me digo: sua provável idade e seu provável emprego. Teremos que descartar uma agente do FBI, talvez ilógico. O medo é se ela for total consciente e nós não viríamos a ser suas vítimas.

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