{Cap.13} Chegado é muito próximo!

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   Todos os funcionários ficaram muito surpresos com a volta de Hylla e o novo planejamento, não sei se poderiam estar guardando um receio de que as coisas voltariam a ser como eram antes. Agora assimilei que mudar qualquer coisa na loja não é tão fácil quanto pensava. Na verdade, não consigo nem medir imediatamente as mudanças feitas em mim mesmo. Hylla dá pequenos passos, sua voz clara e enérgica, impondo naturalmente como líder. Seria um ditado, mas todos deveriam concordar que duas bocas podem fazer mais barulho do que apenas uma.

A grande sala me parecia uma saleta, a observei entrar entusiasmada com sua antiga caixa, ficou multiplicando palavras enquanto eu tentava pensar sobre o estoque. Depois de algum tempo me encontrei em fadiga muito antes do final do dia. No meu lado interior, parecia que algo corria em volta de uma pedra lisa, sobre a qual tinha certeza de que deslizava para trás cada vez que avançava, este poderia ser eu? O ânimo se esvaia e podia sentir como se houvesse outro de mim em mim mesmo, e os dois se digladiavam para ver quem assumiria o comando.

Jasper foi na sala me chamar, alguns patrocinadores estavam a minha espera, demoraria um pouco agora a trocar os papéis com Hylla, porque tenho certeza que ela seria bem melhor em comunicação do que eu.

— Minner não os atendeu? Ela sempre faz isso. — resmunguei afrouxando o colarinho da camisa.

— Então, não sei ao certo o que há com ela, mas parece estar silenciosa como às vezes fica, você sabe, e disse que ela não era paga pra entreter ninguém. — respondeu Jasper.

Curvei-me, ele repetiu minha expressão, como se dissesse: "Também não faço a menor ideia de que tipo de bicho a mordeu". Aproximei-me dos dois homens, a única palavra que podia compreender foi a marca dos produtos. Eles falavam em francês. Minner é a única que fala francês, não apenas este mas também mais cinco idiomas. Sinalizei com as mãos tentando pedir tempo, a prática da encenação com Bárbara não era de toda má.

— Minner, eu não sei falar francês, pode recepcionar eles? — a perguntei quando já estava perto de sua mesa.

— Mas é claro! — não sei porque respondeu assim se permaneceu sentada a mexer no computador.

— Ei? Qual o problema? — Jasper a inquiriu.

Ela tirou a expressão carrancuda e abriu um sorriso, conversou com os dois homens e me entregou seu bloco de notas. Sentou-se no mesmo lugar e não disse uma palavra. Não tentei assimilar aquela ação, conversaria com ela depois, poderia até lhe pagar o almoço cobrado anteriormente.

— Minner? Podemos conversar na hora do almoço? — foi minha sugestão.

— Desculpa, mas a hora do almoço foi elaborada para comer, mastigar, e não falar.

Terminei por ali as investidas e quando voltei para a sala encontrei Hylla arrumando os papéis nas mesas, simetricamente, e os colocou na direção um do outro. Balanceava nossas mesas, em proporção as pastas e arquivos de trabalho, no caso de os querer equilibrar, tudo estava de frente para o outro. Poderíamos chegar a ter algo em comum? Por exemplo, a mesa fazia com que parecêssemos irmãos gêmeos, é um exagero exasperante, mas entendia que ela queria de alguma maneira nos conectar. Tinha apenas esquecido da parcela de livros na estante do lado gêmeo dela. Livros diversos, grossos de capa dura. A minha parte estava vazia com duas caixas de miojo e uma revista em quadrinhos. Sentei-me na cadeira acariciando as têmporas. Era completamente difícil entender as mulheres, mesmo quando falam ou não, essa seria minha conclusão do dia.

I

— Você pode sair mais cedo e sabe disso. — Falei a Hylla que empilhava mais uma pasta de documentos, era totalmente cuidadosa.

— Não é como se eu estivesse debilitada. Se chegar em seu apartamento e minha mãe ainda estiver lá a diga que é para ir direto para casa.

Apaguei todas as luzes da loja, tranquei e não percebi que Jasper estava do lado de fora.

— Estava te esperando. — disse ele.

Uma caminhada perto dos postes recolocados da rua 25, havia muito tempo em que ela não era tão movimentada por estar muito escura. Saberia que daqui poderia ser um atalho até a linha do metrô para Jasper e também ficaria mais próximo do apartamento.

— Eu não quero enfadar o chefe, — começou pausadamente — mas a Minner está bem diferente... piorou desde aquele dia em que você e Fernand saíram mais cedo juntos.

Busquei em minha mente algum tipo de desgosto que podia ter trago a Minner. Não sei se éramos verdadeiramente muito chegados para isso, não era nem mesmo tão próximo ao próprio Jasper. As iminentes conversas que tivemos eram mais um dialeto entre os dois e resmungos meus, quando ainda me considerava o Nael benevolente vendedor como Minner nomeou. Não estava muito disposto a resolver os problemas de comunicação dela, queria que pudesse ser mais profissional a ponto de que as coisas exteriores não interferissem no trabalho. Estou tão cansado do cargo, não consigo nem entrar em contato com as pessoas, não tenho nenhum truque.

— Tento conversar com ela amanhã. — declarei aborrecido.

Jasper fez um sinal de adeus e cruzou o outro lado para a avenida. O semblante dele também estava diferente, não fizera nenhum tipo de graça e parecia muito quieto. Tudo prefigurava um círculo a estar se fechando. Eu estava cercado pelo ar diferente, queria saber o porquê de todos estarem respirando dele.



*Foto do capítulo de Adam Borkowski no Pexels.

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