{Cap.12} Quem dera fosse mel.

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Nael acordou às oito da manhã daquele domingo, havia planejado que mostraria a Bárbara todo o terreno plano que conhecia de Suwon e não era muita coisa. Por um momento entendeu-se não como um desbravador*¹, não saia muito de casa e havia poucos lugares dos quais realmente tinha se aventurado a ir por puro prazer. Pensava todos os dias em trabalho e sua única meta diária era o sucesso. Considerava antes que sair do apartamento não lhe levaria a graduação nenhuma, mas estava disposto presentemente a conclusão de uma animação que há muito tempo não sentia.

Elaborou espaguetes no café da manhã, o barulho dos estalos fizeram Bárbara acordar. Estava se espreguiçando com o exercício de ioga, Adaliz a ensinara assim. A senhora cismou que aquelas atividades melhorariam os ossos e disse que "quando estivesse em sua idade sofreria menos", apesar da senhora expressar com certa confiança de que estava muito bem conservada e seus ossos doíam apenas cinco vezes ao dia e não trinta e cinco vezes.

— Adaliz não vem hoje, Hylla e ela resolveram comprar roupas para o bebê.

O olhar dela caiu e então seguiu lentamente até a porta do banheiro.

— Passearemos se é isso que te chateia! — Nael falou um pouco mais alto se esticando na pia enquanto tentava segurar a jarra e encontrar seu apoio.

Ele a pôde ouvir soletrando a pasta de dente, os cremes e géis de cabelo depois a marca do chuveiro e a lista molhada de tarefas, mas ela não estava tão legível. Nael esperou inquieto que a porta do banheiro fosse aberta e entrou de súbito olhando a lista molhada no canto da pia. Bárbara fez a mesma pose que ele, com as mãos grudadas a cintura, enquanto o mesmo ficava atônito por uns dois minutos.

— Bárbara toda a minha genialidade foi gasta nesta lista e a esqueci no banheiro. Era o que planejei para fazermos. A única coisa que lembro dela foi, te levar para ver Florinda e visitar o museu, contava com Adaliz para mais. — então levantou o papel que pingava.

Bárbara ainda imitava sua pose e não desgrudara os olhos dele.

— Sim. — passou as mãos sobre o cabelo dela. — Você sairá dessa casa.

Riu para si mesmo e saiu do banheiro, a ação do cabelo era mais por sua própria piada interna, "Bárbara parecia um cachorro aflito por um passeio", logo parou de rir quando ela continuou o encarando e imitava cada expressão que ele fazia. Estranhou absurdamente aquilo e logo se magoou pelo pensamento anterior.

I

Florinda estava arrumando o canteiro quando viu o táxi chegar e Nael e Bárbara saírem dele. Pensou que dessa vez ele havia desistido de tudo, ela haveria de ceder e cuidaria da moça, mesmo que ainda a considerasse sinônimo de problema.

— Florinda, precisa escutar algo, abra bem os seus ouvidos.

— Na verdade Nael, eu a aceito, tudo bem, não consegue lidar com isso sozinho, nunca deve ter lidado. Ao menos em sua vida teve algum bicho de estimação? Se não, isso o ajudaria bastante a não ter muitos pensamentos fixados.

— 'Não repas-sar a Adaliz'? — Bárbara perguntou a ele.

— O que é isso? — Florinda chegou bem perto do rosto de Bárbara que manteve os olhos saltados — Veja só! Você fala? Nael! Como isso aconteceu? Você se lembrou de algo?

— Devagar Florinda. — ele apoiou as mãos no ombro de Bárbara e a puxou para trás de si.

Pois ela os convidou para entrar e ficarem conversando na cantina, mas Nael não sentia que seria confortável a Bárbara ficar perto dos abrigados. Na verdade, era justamente o que ele não queria e não o queria por preconceito, seu senso de cuidado estava alto e exagerado, julgava que as pessoas do abrigo poderiam chegar perto de Bárbara ou até mesmo atacá-la.

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