{Cap.16} Caimento adequável.

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Finalmente estamos como na cena criminal. O ângulo se refrata numa sala branca encardida, o foco está nas duas pessoas de frente uma para a outra numa mesa retangular na luz baixa e refrativa de um abajur. O teto era baixo, a renda daquela delegacia não era tão boa, os agentes não se importavam muito com a qualidade e não era importante para eles incrementar gesso ao teto ou melhores cadeiras acolchoadas. Recebiam de todo trinta ligações ao dia de novos trabalhos e isto lhes parecia mais do que o suficiente. Se o teto cedesse cairia de provável sobre as cabeças dos novatos, esses sim passavam tanto tempo ali que era sugestivo imaginar sua aventura quando pudesse realmente tê-la, para eles eram reservados apenas arquivos e mais arquivos.

— Tenho poucas denúncias sobre essa empresa, não há nada concreto em documentos e nenhum vestígio deles no estrangeiro.

— Bom, detetive, como quem trabalha por dentro e confere as irregularidades eu diria que poderia haver um sistema de corrupção com os próprios funcionários, mas claro que totalmente de cima para baixo porque eles são estúpidos e seus olhos estão amordaçados.

— Compreendo Maria, mas não volte isso para alguma insatisfação sua. Veio para depor, me diga o que sabe.

Minner estreitou os olhos, lembrou-se por sem querer de Jasper e sua conversa da quarta passada:

— Já sei porque está estranha, na verdade, eu demorei para calcular e parece que as mulheres não ficam na TPM por tanto tempo, então não devia ser isto. — iniciou Jasper.

— O que você está falando? — Minner se aprumou pelo susto levado, ele apoiou o cotovelo no balcão enquanto olhavam para rua, estavam perto da entrada da loja, não havia clientes.

— Eu a vi com aquele homem na sexta passada, o que usava um longo e grande casaco de cor verde-claro. Pensei, é um bonito casaco, em exatidão não foi isso que pensei — confuso passou a mão na parte calva — e vim lhe falar. Não precisa mentir para mim, está namorando, não é? — finalizou com um estalar de dedos.

Enquanto falava, Minner podia sentir sua testa formando pequenas gotas de suor, o medo de ser descoberta e pensada como uma vilã quando em precisão pressupunha que estar agindo por seu próprio senso de justiça não deveria levá-lá a ser embaraçada por isto. Advinha disto: não me valorizavam e não valorizariam nenhuma mulher a não ser a que estivesse nos padrões como Hylla. Aquilo a chamuscava por dentro, uma raiva silenciosa que vinha se formando desde quando anunciaram o cargo livre de gerente há seis anos e ela era a primeira em colocação, mas Hylla ganhou, claro que ganhou! Prosseguiu, ela segue os padrões. Eu estou sendo injustiçada, trabalhei tão bem, ninguém valorizava, se repetia em sua mente.

Dois anos depois Nael chegou, ele não demorou menos do que nove meses para bater o recorde de vendas de todos os funcionários da loja. Era diligente e tinha uma lábia perspicaz, sua inteligência em mostrar informações conquistava a clientela e atentava aos grandes da loja. Nada obstante ela o estudou e percebeu que ele não confirmava com os padrões que tanto odiava, Nael ganhou seu respeito, mostrando que mesmo que ele pudesse se virar para o lado desonesto dos negócios se quisesse, não o fez. Dessa forma, através dele, pôde se sentir justificada. Quando todos disseram que um dia Nael roubaria o lugar de Hylla, o que demorou muito para acontecer, a saber, seus pensamentos foram salvos novamente do lugar em que ela havia escondido pela vingança. Se virou para Nael e viu nele os padrões. Estes que devem ter estado em seu mundo subjugado e desorientado, sobrecarregados com seu próprio sofrimento se espalhando sobre os outros, não de forma visível, mas silenciosa. Causa de uma mente perturbada com certa razão, mas num meio-a-meio de sentido, o que as pessoas têm a ver com os insucessos pessoais de cada um?

— Não estou namorando, Jasper. — voltou-se para ele num tom suave.

— E quem é aquele rapaz? Juro que o vi num dia desses enquanto ia comprar umas rosquinhas, alguém de aparência bem parecida com a dele entrar em um carro de polícia.

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