{Cap.18} Vamos fugir.

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  Tudo parecia ter voltado ao seu lugar como as flores antes caídas de outono. Encontrava o florescimento e a primavera brilhava anunciando o fim da outra estação, o que era proporcional as várias canelas de fora e pescoços sem cachecol, os restaurantes mudando o seu cardápio quente. No meio daquela buzina de potência solar o mesmo rapaz trajado com roupas à moda alemã pegava os jornais, bebericava o café e comprava um sonho*¹, olhava o jardim da fonte e as cores tão vibrantes estranhamente mais alegres como nunca as notara. Passou muito tempo de coração partido, diluído e indagador. Pelo que Adaliz havia conversado com ele, isto havia de terminar assim e então se propôs a tentar ultrapassar a dor, via-a como uma barreira de vidro que facilmente poderia se quebrar, voando assim cacos de vidro para todo lado, o ferindo.

Adaliz teve seu peso de influência quando estiveram no hospital. Foi uma boa estratégia geralmente as pessoas cedem em meio ao sofrimento. E de tanto lutar contra o passado, ele desistiu. Mesmo que Adaliz ou Hylla estivessem por perto, pelo afeto quis acreditar em suas preces apressadas e inquietantes. Só restaria então ele... nem tanto agora. Primordialmente olhou as duas, elas não sentiam nem mesmo uma pequena fração do que o estava corroendo por dentro. Mesmo com esse conhecimento, mesmo se entregando a esperança que Adaliz lhe imputou, ele se sentia inquieto e contaminado. Não entendia se esse era o motivo de seu personagem, mas não conseguia mais olhar para si mesmo sem ficar com raiva e vergonha por não conseguir mudar tudo, retornar ao passado. Pela humilhação do abandono, pelo sentimento de ser indesejado, não teria ultrapassado mesmo que tivesse jurado não ligar e nem tocar no assunto, que valeria de seu ponto de vista? Quando teria repetido o mesmo ao seu primo? Repetia querer voltar ao passado.

Apenas a mente permanecia bagunçada, não tão bagunçada quanto no começo. Nael e Nael lutavam com o que acreditar sem vacilar, na expectativa se ainda haveria esperança para ele ou não. Se um lado desejava se entregar e ter a liberdade de sua mente, sem todas as confusões, já o outro o odiava e o inquiria que o tempo estava passado, o melhor seria voltar as concepções velhas. Este era seu conhecimento sobre si, nada estava de novo atraente.

O mês se classifica como lendário de faturamento, e os planos que surgiram não foram tão congelados pelo inverno, Hylla havia conseguido. Quando ele se recuperou daquela contemplação e decidiu voltar ao trabalho, por mais frustrado que estivesse, passou perto do jardim e escutou um assoviou que o fez paralisar por alguns segundos. O assobio continuou mais uma vez e ele seguiu em sua direção. Assustado viu ela, era realmente, estava bem, era real, não poderia ceder. Pegou em sua mão sem mais explicações a tirando de entre os arbustos. Seus olhos inquietos mantiveram atenção ao redor. Sem tempo para pensar, pressionava os dedos na boca e roía as unhas enquanto declarava seu nome a pousada em uma estadia de pelo menos uma semana, isto para que a prudência o pudesse ajudar pelo que elaboraria a frente. Subiram até o quarto em meio ao medo de que pudessem ser ouvidos.

— Nael, eu fugi, me perdoe. Eles queriam me levar para outra cidade onde fica a sede deles. Estava com medo. Como um instinto que tive, então fugi e ninguém me viu Nael! Te prometo que não fui vista. — ela permanecia olhando em volta, sem se voltar diretamente a ele — Eu não acho que eles se importariam em saber disso mesmo agora, não pareciam se importar quando eu estava lá. Não haverá perigo para você, eu... — Bárbara tinha grandes olheiras e roupas terrivelmente amassadas, em momento tentava procurar compreensão nos olhos sérios dele — Eles me deram uma certa quantia em dinheiro e eu fiquei no hotel de proteção a testemunhas onde havia muita gente! Uma mulher vizinha de meu quarto tinha ataques de pânicos horríveis a noite, ela sempre achava que vinham assassiná-la. Por favor, deixe-me acalmar por aqui e depois pode me entregar de novo para que eu não te cause problemas, só precisava ficar longe daquele lugar.

Nael ficou um bom tempo a analisando, seu silêncio a fez querer chorar, então ele fechou os olhos por mais um tempo antes de se levantar de súbito.

— Farei um chá para você, nessas pousadas sempre tem alguns deles na gaveta. Veja, eu encontrei um.

Ele ferveu água para aceitar em si o confronto de que realmente não queria mais a vida que costumava ter, porém, os pensamentos em sua mente eram muito intensos, seu sentimentalismo batia bem a porta. Não conseguia ser parcial consigo, pensava que se deixasse guiar por si, estaria arruinado, se já também não estivesse agora, jogado em um terrível desalento*². Assistiu à moça tomar o chá bem devagar, o coração pulsante quase lhe saía pela boca.

— Bárbara?

— Sim.

— Acho que eu te amo.

O chá a ela pareceu frio quando chegou ao estômago, as palavras tinham um valor, um peso certamente, e que a Desconhecida por completo não compreenderia com profundidade, mas cogitaria sentir algo, talvez uma fagulha, não tinha certeza.

— Sei que precisa se reencontrar e eu já não sirvo tanto para ser seu apoiador, porque talvez nesse achar eu vá te perder, mas penso que posso superar se você me permitir passar mais tempo ao seu lado. Não importa para mim quem sejas ou onde esteja aqueles que te esperam, que ainda te aguardam voltar. Tenha por certeza isso, vou lutar com você, correrei por você se quiser, não vou te deixar nem por um segundo. Se tornou minha parte que esta aqui e agora. E mesmo que demore para que meu consciente aceite... — pressionou os olhos em relutância — eu vou te ajudar a realizar esse sonho seu de descobrir quem és e se não quiseres mais continuarei a te ajudar a redescobrir o que muito mais pode fazer. — Nael se jogou sem hesitação ao chão, de joelhos perante ela — Eu a amo e verdadeiramente muito mais do que amo a mim mesmo, quer construir uma vida comigo? Quer se casar comigo?

As mãos de Bárbara tremiam e ela se lembrou do rosto da mulher na novela que assistia com Adaliz, quando a atriz sorria largamente e sem pensar muitas vezes disse o sim. Lembrou de tê-la desenhado depois por ter ficado sugestionada pela expressão, parecia bem sincera. Consternou*³ por ficar tanto tempo pensando naquilo que agora lhe era muito confuso. Continuava ajoelhado em sua frente, expressou seu desespero no prender da respiração e no trejeito facial pela demora dela em responder ao que parecia real para ele.

— Si-si-sim.

Nael a abraçou com lágrimas nos olhos, puxou uma nova cadeira a dianteira de Bárbara e lhe dignou os desejos de seu coração.

— Tenho um primo em Seul, seu nome é Bong-Cha, ele cuidou de mim por muito tempo, sei que se o pedir desculpas certamente terei meu emprego de volta e quem sabe um novo presente sem o peso do passado. Vamos morar lá, é uma belíssima cidade! O meu primo tem um hotel próprio e... morei lá por bastante tempo, ainda te devotarei esta história... e também se nada der certo tenho dinheiro guardado. Mas irá dar certo Bárbara! — ele então ajustou suas mãos em volta do rosto dela enquanto fazia um carinho em suas bochechas com o polegar — Estaremos partindo em dois dias, ainda tenho que me desfazer do trabalho e como disse eles não a seguiram e não vão, logo a isto estariam aqui em nossa cola. Está tudo bem agora. Se você está aqui... vou te contar tudo que precisamos organizar.



NOTAS

*Na foto deste capítulo mostra a pousada em que Nael levou Bárbara.

*¹.(SONHO) sonho é o nome de um pão doce de padaria; que curiosamente foi criado em meio à guerra.

*².(DESALENTO) o mesmo que desânimo, abatimento.

*³.(CONSTERNOU) provocar ou sentir preocupação.

*Foto do capítulo de Avonne Stalling no Pexels.

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