{Cap.17} É apenas uma ideia.

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O quarto era branco e hospitaleiro, Hylla foi gentil o suficiente para me categorizar como alguém próximo à família. Tinha um palpite de que a compaixão se vinha além de não poder ter outros parentes mais próximos que pudessem transitar até Suwon. Luíz estava embarcado e não pôde ver os gêmeos nascerem, eram dois garotos nomeados como Nathan e Davi. Foi como aquela frase de aniversário: "Surpresa!", quando saiu mais um. Contava já dois dias no hospital com Hylla, das contrações ao parto.

Não havia muito o que fazer, mesmo quando fui à delegacia, o exame de corpo de delito deu negativo e aquele detetive parou de me olhar estranho e simplesmente disse que Bárbara ficaria lá até que a delegacia central decidisse o que fazer com ela. Não podia vê-la, ele tentaria analisar as visitas, mas fazia isso mais por respeito ao pedido de Adaliz do que ao meu.

— Falam que as crianças são a esperança, meus filhos não te deram nenhum pouquinho de energia? — me perguntou Hylla com certa palidez no rosto, permaneceu tanto tempo deitada naquela cama que eu a considerava como parte das cobertas.

— Eu os vi pela vidraça, pareciam ótimos e saudáveis. — encarei minhas unhas em modo de distração.

— Não era exatamente disso que estava falando. Você também não foi trabalhar hoje? Nael! Pare de fingir que não está me ouvindo.

A analisei por um momento com meus olhos cansados, consumidos por uma tristeza dolorosa. Estava ali para manter as aparências, apenas precisava ser seu suporte. É... talvez Hylla precisasse de mim como Adaliz, com seu marido em outro lugar, não queria a deixar sozinha, mesmo que estivesse instigado a correr daqui.

— Sua mãe finalmente dormiu. — encarei a senhora embolada em um cobertor de lã na poltrona, a cabeça jogada para trás e a boca entre-aberta.

— Eu soube da situação que vocês passaram juntos. Tento ser tão otimista quanto a minha mãe. É mais provável que eles encontrem mais rápido do que pensávamos quem é a Bárbara e aí quem sabe ela pode voltar um dia e nos agradecer por tudo? Pelo menos se em sua realidade ela for uma pessoa grata ou possivelmente venha a se esquecer desta parte de sua vida. — Hylla disse aquilo com uma normalidade, como se fosse o certo e concluiu-se como final.

A Bárbara se esquecerá de nós? Se isso fosse uma possibilidade então viraríamos apenas cinzas em sua memória, poderíamos volver pelo arrasto do vento. E por que isso vem agora? Por que parar quando comecei a me adaptar? Estou confuso e preciso de respostas, onde estão os sussurros que reconheço que não são meus quando preciso deles? Preciso de um sinal!

— Por que está assim? Até entendo um pouco da minha mãe, e eu também entendo uma parte sua, mas, Nael por favor, não me diga que está...

— É só preocupação Hylla! Ela passou um ano em minha vida.

— Você deveria dizer "em meu apartamento". Nael, — com certa dificuldade ela sentou-se na cama e inclinou o corpo para perto de meu banco. — Não posso te apoiar nisso, não tenho estômago e nem índole para tanto. Ela não é a Bárbara Nael, eu sei que gosta de lutar com possibilidades e sim, talvez ela nunca se lembre de quem ela é e talvez lhe seria bom, ela seria para ti como Bárbara, mas e para ela? Quem pensaria que fosse talvez nunca voltasse a existir e isso é muito complicado de se falar e entender quando não se está na pele.

— Hylla? Está tudo bem. Eu cuidei dela e é só isso. Estaria satisfeita em escutar...

— Está me dizendo isso como você ou é um conservado personagem que criou? Confesse a mim.

— Estou lhe dizendo isso como o Nael que você conhece e só está confuso. — sem querer acabei por enunciar em voz baixa: — Sem nenhuma máscara.




NOTAS

A foto do capítulo 17 é a Hylla (na verdade é como eu imagino ela).

*Foto do capítulo de Ba Ba on Unsplash.

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