Decolando

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<Música do Capítulo - "Free Fallin' - John Mayer">

Capítulo 2 - "Decolando"

O contrato era bem peculiar, a marca não queria apelar pro sexual, mas a campanha se baseava em "lugares para ir depois do caos". Na lista tinham alguns endereços internacionais possíveis, como Maldivas, Bali, Paris e Japão. Japão? Elas só entenderiam o conceito quando o trabalho estivesse sendo posto em prática.

    Eles queriam introduzir uma nova linha de produtos no catálogo como biquínis e roupas casuais, roupas essas, que ficaria bom usar em qualquer lugar do mundo. Haveria muito trabalho a ser feito, mas muito dinheiro e visibilidade também.

Rafaella e Bianca não haviam se falado desde a reunião, Rafa se sentia ameaçada por Bianca e não entendia bem a causa disso, por isso assumia uma postura de defesa quase o tempo todo. Enquanto isso, Bianca estava pilhada pensando que ia ter que dividir quartos de hotéis pelo mundo com uma mulher que ela detestava mas ao mesmo tempo queria tirar a roupa. Peraí, ela detestava mesmo ou detestava o fato de que provavelmente nunca ia ter a oportunidade de tirar a roupa dela? Ok, ela não queria estar em sua própria mente às vezes.

— Como vai ser Miguel? Você vai junto ou nem? Não li nenhuma cláusula daqueles papéis, só fui...

— Não vou Bia, acabei de ler tudo e eles não cobrem os gastos do acompanhante. E que gastos viu? Só a reserva do hotel de Paris que vocês vão ficar é 15 mil reais e a diária é quase isso também. Putz... Queria muito.

— Vai ficar querendo mesmo porque se eu te levar quem vai ficar no preju sou eu. Mano, vai ser um teste de fogo aguentar aquela mulher pregando no meu ouvido por quase um mês, tô chorando por dentro desde já.

— Pensa nos seis zeros que vão estar na sua conta e vai fia... Só vai!

— A motivação é essa. To terminando minha mala pra ir pro aeroporto. Fingir nos stories que somos melhores amigas agora vai ser osso...

As garotas iriam embarcar sozinhas num voo literalmente para o outro lado do mundo, ao chegar no Japão encontrariam os responsáveis pela marca de lá. Rafa chegou primeiro e sentou-se na sua poltrona. Bianca chegou depois e ficou estonteada com a beleza de Rafa, a missionária tinha caprichado no visual mais do que nunca. Por fim, Bianca pensou que talvez não fosse ser uma missão tão impossível assim.

— Mano, quase que eu não chego, o trânsito de São Paulo ainda vai foder comigo.

— Boa noite pra você também Bia.

— Boa noite Rafaella, queria ser boa em expressar o quanto seus bons modos me irritam. — falou divertida.

Rafa riu e seguiu dizendo:

— Olha Bia, eu sei que a gente tem as nossas diferenças e não vou mentir, se não fosse pelos compromissos que nos trazem até aqui eu provavelmente não te procuraria pra ter uma conversa. Mas se a vida está nos dando essa chance, talvez seja uma mensagem de Deus pra gente se acertar.

— Eu queria zoar com a sua cara mas não gosto de brincar com Deus. Talvez seja mesmo. — disse complacente.

— Nunca me acostumo com avião, principalmente sendo quase um dia inteiro de viagem. Morro de medo. — Rafa disse um pouco tensa.

— Não vai acontecer nada não gata, qualquer coisa 'garra' em mim que minha confiança passa pra você.

— Tá bem, vou tentar dormir, boa noite Bia.

Haviam se passado oito horas de voo e ambas as garotas seguiam dormindo, até que o avião começou a chacoalhar em turbulência. Rafa acordou assustada no primeiro sacolejo e automaticamente agarrou no braço de Bia que mesmo tendo sono pesado acordou também.

— Caralho, a gente tá caindo? — Bia perguntou sem ter acordado direito.

— To com medo, tá balançando demais.

— Vai dar nada, calma. — disse movendo a mão de Rafa que estava em seu antebraço para baixo, afim de entrelaçar seus dedos, apertando forte.

Rafaella não entendeu direito porque subtamente a presença de Bianca e o toque a fizeram se sentir mais segura, mas preferiu se concentrar na ideia de que não iria morrer ali.

A aeromoça se apressava para falar no alto-falante que não havia com o que se preocupar pois era algo comum já que estavam chegando em uma região mais densa, próximo à primeira parada antes do destino final.

— Viu só? Tá de boa. - Bia disse sem soltar a mão de Rafa, apenas apoiando sua cabeça no ombro da mais nova colega para voltar a dormir.

Enquanto isso Rafa ainda não entendia nada, não havia mais incômodo da sua parte pela presença de Bianca e só isso já era um mundo novo pra ela. Mundos novos são descartáveis? Apesar do estranhamento ela queria descobrir. E nada melhor do que descobrir isso num hotel cinco estrelas com tudo pago.

— Parece que só faltam seis horas agora. — Rafa disse baixinho ao despertar de outro cochilo.

— Que bom porque eu não sinto mais nenhum lado da minha bunda. — bocejou.

— Eu te chamei pra fazer agachamentos no banheiro...

— Outras pessoas me chamariam pra fazer coisas mais interessantes num banheiro.... — disse em tom divertido. —Eu já tô pra lá de entediada. — resmungou enquanto se ajeitava na poltrona para dormir de novo.

— Ah, então eu te deixo entediada? —perguntou levantando a sobrancelha.

— É, se tivesse me entretendo nada disso estaria acontecendo. - brincou.

— E eu lá tenho cara de palhaça pra ficar te entretendo?

— Ai, nossos mundos são muito diferentes mesmo viu? Se fosse qualquer pessoa já estaria gaitando com todas as referências que eu dei. Tudo brincando, claro, porém referências. — deu uma risada ao concluir a frase.

— Que referências?

— Vou dormir, quando a gente pousar me acorda, que do jeito que você ama capaz de me deixar no avião.

Rafaella revirou os olhos, ela entendeu as referências sim, mas não queria dar abertura para Bianca fazer tais tipos de brincadeira. Mesmo que sua intenção em acertar as coisas fosse verdadeira, algo nela dizia que era perigoso demais chegar perto demais. Mas o que era esse "demais" afinal? Dividir seus dias com Bianca com certeza seria algo memorável, ela só não tinha ideia se seria algo desastroso ou maravilhoso. Apenas tinha a certeza de que entre elas não havia meios termos. Mas ainda era muito cedo pra apostar...

HOPE [Rabia]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora