Saudade

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<Música do Capítulo - "Mac DeMarco - My Kind Of Woman">


Capítulo 26 - Saudade



A pousada não era nada como os luxuosos quartos dos hotéis que Rafaella estava acostumada a ficar hospedada, quando ela sentou para tirar a bota, a cama estalou e ela riu com a sua própria reação ao temer cair. Estava frio, muito frio. Treze graus. E a noite prometia esfriar ainda mais. Ela olhou o celular mais uma vez na esperança de ter alguma resposta de Bianca e constatou que há alguns meses aquele celular tinha se transformado em um instrumento de tortura.

Bianca só chegou na cidade na manhã do sábado. Um dos instrutores do projeto se encarregou de levar a mala dela para a pousada filial pois a ação estava prestes a começar. Ela, assim como Rafaella, recebeu um colete de cor azul. Elas ficariam encarregadas de receber as pessoas no ginásio que sediaria ações de saúde. Haveriam médicos e dentistas prestando serviços diversos pra população afastada que precisava quase que fazer uma viagem pra chegar no posto de saúde mais próximo.

Quando finalmente chegou no local onde os embaixadores voluntários recebiam instruções, Bianca achou que talvez tivesse meditado demais ou que o chá de ervas que havia tomado todos esses dias estava batizado, pois o que estava vendo só podia ser alucinação. Ela reconheceria aquela bunda a qualquer distância. Pensamentos de "não pode ser, mas tomara que seja" era a única coisa que passava pela sua cabeça.

A mulher que estava de costas, com os braços cruzados, trajando uma calça legging. Bianca começou a suar. Não a suar frio, mas suar no frio, o que era muito pior. Suas pernas estavam fracas mais uma vez. E se aquela realmente fosse Rafaella, ela teria que no mínimo cobrar satisfações por ela ter deixado suas pernas fracas pelos motivos errados nos últimos meses. Sim, era exatamente o que ela faria assim que sentisse suas pernas novamente. Ou não, porque ela provavelmente perderia a voz.

O coordenador do projeto abriu o maior dos sorrisos ao ver Bianca chegando perto, sorriso esse, que fez a mulher da bunda vistosa olhar pra trás em busca de saber o motivo dos dentes terem sido mostrados tão expressivamente.

— Bi... Bia? — Rafaella ficou tonta por um segundo.

— Rafa... — disse pela força do hábito, apoiando-se no ombro do instrutor, só por precaução. — Você... Você pintou o cabelo...

— Pintei... — disse baixinho, tentando assimilar aquele momento. — As gravações da novela acabaram...

— Ah... — Bia realmente sentia como se tivesse perdido a voz.

— Você não foi pra...? — interrompeu a própria pergunta pois é claro que ela não tinha ido pra Farofa da Gkay.

— To aqui, não to? — Bianca sorriu ao entender do que se tratava a pergunta.

Aquele sorriso... Aquele sorriso de novo tão de perto... Rafaella perdeu a postura que achava que tinha.

— Tá, tá sim... — disse rápido, aliviada por ter estado errada sobre Bianca nunca mais falar com ela e inevitavelmente, sorriu de volta.

— E você, não foi por quê? — Bia não conseguia conter o quanto estava amando aquela surpresa, principalmente por Rafaella estar aparentemente sozinha.

— Eu não... — tentou formular uma resposta convincente em pouco tempo. — Eu não tava na vibe.

O coordenador elevou a voz pedindo atenção, cortando a conversa das garotas que desde que começaram o pequeno diálogo ficaram petrificadas. Os corações das duas poderiam muito facilmente servir de sample pra uma batida de funk pela velocidade em que estavam batendo. Tudo o que o coordenador disse em seguida mal foi ouvido por elas, que estavam preocupadas demais com coisas básicas como: manter a respiração linear e não olhar tanto uma pra outra. Mas os olhares sempre se encontravam e as respirações sempre se alteravam.

HOPE [Rabia]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora