Capítulo 27 - Luto

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Capítulo 27 – Luto

Nunca houvera dia mais triste do que aquele na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Todos e tudo pareciam ter conhecimento da alma que se fora.

Harry estava de pé diante da janela da ala hospitalar olhando para a triste paisagem do lado de fora. Não que a floresta, o lago e o jardim fossem feios, muito pelo contrário, eram belíssimas imagens, mas estavam tão frias e gélidas como se fossem pinturas em preto e branco que davam completo aspecto de depressão.

A floresta, outrora imponente e austera, agora aparentava fraqueza e desolação. A água do lago não tinha uma única marola, a lula gigante se reservara em seu luto ou apenas dormia nos recantos mais escuros daquelas profundezas. No fundo não interessava. Nada mais interessava, pois aos olhos de Harry, Hogwarts jamais seria a mesma sem aquele bruxo alto, magro e louco dizendo palavras completamente fora de contexto e que eram as mais sábias que já escutara.

Não, Hogwarts não seria a mesma sem Dumbledore.

Sabia que Dumbledore não fora o único diretor da escola, mas era como se ela sempre o estivera esperando, quietamente parada aguardando-o e quando o teve ficou completa. Moldara-se aos seus gostos, permitiu que sua alma fosse integrada em cada pedaço de pedra que formavam o antigo castelo. E agora ele se fora. Se fora pelas mãos longas e hábeis de Severus Snape.

A dor no peito de Harry era tão grande que chegava a ser quase palpável, na verdade se quisesse conseguiria tocá-la com seus dedos frios, poderia brincar com ela na palma de sua mão. O menino não chorara, pelo menos não mais. O luto finalmente o assolou deixando-o letárgico.

Via pela janela que os elfos arrumaram o jardim para o belo e triste funeral. O corpo do diretor estava devidamente seguro e guardado na sala de McGonagall que aparentava estar mais forte do que realmente estava. Harry a viu chorando atrás de uma cortina na ala hospitalar, mas não conseguiu se aproximar para consolá-la. Não encontrava consolo nem para si mesmo. Então, apenas a deixou chorar até que Madame Pomfrey fora lhe abraçar e citar palavras bonitas e reconfortantes que não conseguiram atingir o menino. Harry permaneceu na escuridão de seu torpor.

Fazia frio e Harry se encolheu enquanto afastava-se da imagem dos bruxos que chegavam aos poucos ao castelo, muitos deles amigos de longe e outros apenas bruxos que tinham consideração por Dumbledore. Caminhou lentamente em direção ao final da ala hospitalar onde fora colocada uma pequena incubadora que nada mais era do que um berço repleto de feitiços para que a pequenina criança pudesse terminar o desenvolvimento de sua magia. Apesar de saber que não podia, o que Harry mais queria naquele momento era poder tocá-la nas rosadas bochechas, aproximar seus dedos da pequenina mão que por diversas vezes abrira e fechara como se procurasse algo para segurar, alguma coisa que lhe desse a base de segurança que tivera durante os meses de gestação.

Era somente diante da visão da menina dormindo que Harry conseguia sorrir. Lys dormia tranquilamente a sono solto sem nem ao menos imaginar o que poderia ter acontecido. Ela não sabia de sua história, de sua origem. Apenas Harry sabia e se lembraria todos os dias dos momentos que propiciaram sua vinda ao mundo.

- Harry?

- Oi Mione. – Disse a voz fraca se virando.

- Como você está?

- Não sei, sinceramente eu não sei.

- Ah, Harry, eu sinto muito.

Harry sentiu o abraço quente da menina e sentiu que deveria retribuir, mas não foi capaz de colocar seus braços ao redor dela. Estava demasiado quebrado para demonstrar algo mais além de completa tristeza.

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