Capítulo 41 - Olhe para mim

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Capítulo 41 – Olhe para mim

O clarão do feitiço foi tão forte que machucou seus olhos e o derrubou no chão com um baque. Urrou com a mão diante do rosto tentando enxergar, mas era impossível, estava tudo muito claro e a luz chegava a atravessar as brechas de seus dedos. Com esforço se arrastou para longe da luz e esfregou os olhos com as mãos tentando em vão fazer voltar sua visão. Sabia que não conseguiria tão cedo, não enquanto aquela luz continuasse tão intensa. Estava realmente impressionado, jamais viu um feitiço tão forte quanto aquele, nem mesmo quando o Lord lançou seu feitiço contra as defesas de Hogwarts derrubando os esforços dos professores e alunos.

Demorou ainda alguns minutos para que a luz diminuísse e conseguisse por fim visualizar alguma coisa. Sentia o vento do poder balançar seus cabelos agora sujos e embaraçados. Levantou-se e se aproximou de uma árvore onde se apoiou e respirou fundo sentindo o corpo protestar contra a magia poderosa que se desprendia no ar. O que estava enfim acontecendo? Perguntou-se piscando com força enquanto a luz se dissipava e lhe dava completa visão do campo de batalha a sua frente.

Engoliu em seco ao olhar para a clareira que se abriu no meio das árvores que antes habitavam aquele recinto, árvores antigas e fortes que no momento dissipavam-se no ar como partículas de pó, um pó negro que grudava em sua pele suada sujando-o. Com temor deu um passo a frente e se aproximou do homem com a varinha erguida. Olhou para seu rosto e o viu talhado a ferro e lava, duro como rocha e tão penetrante e afiado como uma adaga de prata. Seu olhar estava fixo adiante, exatamente para o ponto em que sua varinha apontava. Não quis olhar para o local imediatamente, tinha até medo de saber o que havia acontecido, pois em seus anos de vida, em sua experiência de bruxo e conhecimento de magia jamais houvera um poder tão forte quanto aquele. Talvez Dumbledore ou Voldemort conseguisse, mas não se lembrava de jamais terem demonstrado tal poder.

Ao olhar mais atentamente percebeu que havia algo muito diferente no homem, o conhecia há anos, desde quando ainda era um menino mirrado que vivia maltratado por grifinórios nojentos e medíocres que não tinham nada melhor para fazer do que se mostrar para as meninas, inclusive para a menina que ele gostava. Suspirou quando os lábios finos do homem tremeram e viu pela primeira vez, ou melhor, sentiu pela primeira vez tudo que ele aguentara e passara até aquele momento pela mulher que jurara aos pés do Lord não ser nada mais do que uma trouxa imunda que merecia morrer e que agora passava com o filho dela. Sabia disso porque ele também amava, amava sua família tão fortemente que seu maior desejo era simplesmente sumir daquele local, com eles seguros embaixo de suas asas.

- Severus.

O sussurro saiu de seus lábios baixo e trêmulo. Snape ainda continuava parado com o braço esticado e com a varinha tão apertada em sua mão que seus dedos chegavam a ficar brancos. Devagar deu um passo a frente e ergueu a mão tocando com cuidado no ombro dele. Seus olhos cinzentos arregalaram-se com o nível de magia que ele transmitia em seu corpo. Rapidamente recuou a mão sentindo-a formigar, mexeu seus dedos tocando as pontas uma na outra, impressionado com o que sentia.

- Severus, o que aconteceu com você?

Snape não respondeu, apenas baixou o braço devagar com a varinha ainda bem presa em seus dedos e respirou fundo virando-se lentamente para encarar Lucius que não recuou ou virou a cabeça, apenas engoliu em seco ao olhar para o rosto com traços duros, queixo travado e lábios cerrados. Os olhos negros brilhavam e era um brilho estranho que parecia não fazer parte dele. Sinceramente sentia medo daquele Snape a sua frente com olhos infernais e extremamente perigosos. Sem dar atenção a boca aberta do loiro Snape deu um passo a frente e depois outro caminhando em direção ao meio da clareira que se abriu pelo seu feitiço. Lucius quase correu para acompanhá-lo, seus pés estavam escorregadios e suas pernas trêmulas, mas ainda assim não parou de andar.

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