Capítulo 30 - O ataque ao trem

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Capítulo 30 – O ataque ao trem

O maquinista do Expresso de Hogwarts era um homem velho de olhos azuis grandes e atentos. Seus cabelos brancos eram curtos e no alto da cabeça já se via o inicio de uma careca. Era um homem tranquilo que se reservava a cuidar da locomotiva vermelha sem se arriscar com nada mais perigoso do que as engrenagens do trem, apesar de lhe faltarem um ou dois dentes devido uma antiga briga de bar. Em todas as viagens que fizera de King's Cross para Hogwarts e vice e versa, o homem se apresentara com seu costumeiro e antigo uniforme vermelho com seu nome bordado do lado esquerdo do peito. Dava seus costumeiros cumprimentos aos conhecidos e dava andamento ao processo de ligar e deixar a locomotiva pronta para que os alunos embarcassem e enfim rumassem para seu destino.

Jamais reclamou de sentar-se na pequena cabine na frente do trem durante horas a fio até que chegasse a estação. As imagens eram belíssimas, os prados e vales que se estendiam infinitamente eram radiantes aos olhos que o contemplavam. Havia os lagos também e as montanhas da Escócia. Era realmente lindo acompanhar os trilhos que se seguiam pelo horizonte infinito.

Mas Marcius Cornier já vira aquelas mesmas imagens tantas vezes que já não lhe chamavam atenção, na verdade lhe davam tédio fazendo por muitas vezes aguardar ansiosamente a visita da mulher do carrinho de doces para conversarem despreocupadamente.

Hoje, no entanto, o homem simples estava muito mais do que desperto. Vestia uma veste marrom antiga, revestida em couro e que lhe garantiam movimento e agilidade, sua antiga e gasta varinha parecia agitada em sua mão enrugada. Seus olhos sempre serenos estavam duros enquanto encaravam o caminho a sua frente procurando qualquer indício de que algo estava fora do lugar.

Não podia negar que seu coração palpitava fortemente dentro do peito, estavam carregando a última esperança do mundo bruxo.

- O que é aquilo? – Perguntou para si mesmo e recebeu uma resposta do auror que estivera o tempo todo ao seu lado. Calado e quieto.

- Parece alguém parado no meio do trilho. Deve ser um comensal. – Disse o homem de voz grossa. – Acelere.

- Não posso, estou no máximo que consigo. Se aumentar vai descarrilhar. – Explicou o maquinista. – Não devemos parar?

- Não! – Gritou o auror. – Passe por cima se for preciso, mas não pare esse trem.

- Passar por cima? Como assim passar por cima? - Perguntou o maquinista nervoso, mas o auror já havia saído da cabine, de certo para avisar de outros deixando suas palavras se perderem no vento.

Engolindo em seco o homem olhou para frente na estrada. Suas mãos tremiam, o sujeito deitado nos trilhos não parecia querer se levantar. Passar por cima, conseguiria fazer isso? A resposta seria não, mas ainda assim continuou a guiar a locomotiva a todo vapor. Estava perto agora e a qualquer momento sentiria o solavanco das rodas cortando o corpo ao meio e espalhando seus restos pelo prado.

Porém, constatou quando abriu os olhos após alguns segundos, não houve nenhum rumorejo. Nada que indicasse que algo atrapalhara o caminho das grandes rodas de ferro, elas passaram lisamente pelos trilhos e seguiram caminho.

- Foi por pouco. – Disse a si mesmo sorrindo.

O sorriso, porém, se desfez ao perceber um mínimo movimento de canto de olho. Rapidamente tentou erguer a varinha, mas o comensal mascarado fora mais rápido e lhe agarrara o pulso o empurrando até a parede onde o prendeu firmemente.

- Ah! Marcius. Deveria ter ficado em casa com o gato essa noite.

O maquinista tremeu, aquela voz, embora baixa e arrastada, causava em seu corpo mais arrepios do que os dementadores que revistaram o trem quando Sirius Black fugiu de Azkaban. Seus olhos escureceram como se o medo o sobrecarregasse.

A Lenda (Snarry)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora