Capítulo 39 - A proximidade da morte

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Capítulo 39 – A proximidade da morte

Já fazia horas que estava sentado naquele chão duro, suas pernas e quadris adormeceram causando-lhe incomodo e dor. Mas nada daquilo importava, não era nada comparado com o que sentia olhando para aquela lápide e para as palavras tolamente escritas com letras garranchadas de uma pessoa em completo luto e destruição. Suspirou erguendo os dedos e tocando o pequeno monte de terra sentindo-a fria em contraste com o restante do terreno. A natureza também sofria sua perda. Visitara aquele pequeno montinho todos os dias desde que ele mesmo cavara a sepultura, não porque queria preservar memórias dele, essas já estavam muito bem guardadas e se resumiam a sorrisos e olhares gigantes, mas porque se odiava por não poder levá-lo consigo.

Sem perceber agarrou uma pedra no chão e a apertou com força sentindo sua pele ceder sob a pressão e o sangue começar a escorrer pela palma. Ah, como queria conseguir sobrepor aquela dor por outra, fazê-la diminuir a ponto de ser esquecida, mas nada funcionaria. Sabia disso. Não haveria dor física suficientemente grande que o fizesse esquecer. Poderia cortar cada pedaço de pele, quebrar cada osso e rasgar cada órgão que a dor permaneceria pulsando e vivendo dentro dele. Apertou ainda mais a pedra até abrir os dedos e deixá-la rolar para o chão. Levou sua mão até a terra fria e deixou o sangue cair em gotas que foram absorvidas pela terra que a aceitava como uma bem vinda oferenda.

- Eu prometo, eu juro. - Disse entre dentes, a raiva saindo rouca em sua voz. - Eu vou vingar você, Dobby.

Não houve uma resposta, nenhuma vozinha esganiçada lhe dizendo que era o melhor. "Não, Dobby, eu não sou o melhor" pensou Harry bufando pelas manchetes, histórias e até mesmo situações em livros sobre ele e que em nenhum lugar, além daquela lápide, haveria o nominho dele. Como poderia acontecer algo assim? Dobby sempre fora melhor do que ele em tudo. Arriscou-se avisando-o da câmara secreta no segundo ano, o ajudou com guelricho no campeonato tribruxo e salvou a todos de um castigo pior quando Umbridge descobriu a sala precisa e a A.D. Não faltava sorrisos em seu rostinho estranho e nem brilho em seus grandes olhos verdes iguais os de Harry que ele tanto venerava.

Agora estava morto, jazia embaixo daqueles palmos de terra. Não havia mais sorrisos gigantes ou tentativas homicidas de lhe manter a salvo. Não restava mais nada. Se fora como tantos outros.

- Por quê? - Perguntou baixinho para si mesmo como se conseguisse saber a resposta, ele não sabia.

- Porque ele te amava.

Harry não precisou desviar os olhos da lápide para saber que era Luna a dona daquela voz.

- Você não deveria ter ido embora? - Perguntou percebendo tarde demais que fora muito rude. - Desculpe.

- Não tem problema. - Disse Luna se sentando ao seu lado. - Eu vou para a casa da Tia Muriel daqui a pouco. Eu só queria me despedir de você e de Dobby.

Harry apenas observou a menina se aproximar da sepultura e fechar os olhos rezando baixinho uma prece que ele não conhecia. Era uma língua estranha e sem ritmo algum, provavelmente algo que aprendera com algum ser mítico e incomum que só apareciam aos olhos dos Lovegood. Era típico de Luna e tinha certeza que Dobby teria amado e que deixaria suas orelhas em pé de tanta alegria.

- Chega dá vontade de ter guardado um dos balões que ele fez com meu nome na época da A.D.

- Eu guardei um. - Disse Luna fazendo os olhos de Harry se arregalarem. - Está nas minhas coisas em casa. Eu te mando assim que der.

- Obrigado. - Disse Harry sem coragem de contar sobre a explosão da casa dos Lovegood, mesmo desconfiando que Luna já sabia.

Alguns minutos se passaram com os dois apenas olhando para a frase do elfo livre.

A Lenda (Snarry)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora