Quando temos sonhos, esperamos que os primeiros a nos apoiar sejam nossos pais, pois além de serem nossos melhores amigos, são eles que nos incentivam a lutar por tudo aquilo que desejamos, mas no meu caso era tudo diferente. Sempre.
Meus pais me fizeram ter aulas particulares em casa desde os nove anos, e daí em diante eu nunca mais tive aquela sensação de fazer amigos na escola. De participar das atividades em grupo. Também não soube o que era disputar nas peças de teatro o papel principal. Não namorei as escondidas dos monitores. E nunca fui a um baile. Tudo o que eu tive foram vários professores particulares e as aulas se tornavam cada vez mais entediantes.
Eu nunca fui como uma adolescente normal, era sempre como se eu tivesse pulado várias fases ou ocupado o lugar de uma mulher de meia idade que não podia mais sair de casa. Nunca fui a festas. Nunca bebi. Nunca me apaixonei. Nunca briguei com uma melhor amiga. Nunca fiz algo imprudente. Eu nunca vivi.
E tudo isso porque eu sou a filha do presidente dos Estados Unidos.
Mas eu já estava farta disso, e completamente esgotada de viver como uma prisioneira. Eu não posso ir ao jardim sem ter inúmeros capangas de terno ao meu lado, me impedindo até de ver a luz do dia sem que esteja completamente segura.
Eu estava cansada, e daria um fim a isso.
— Bom dia, querida. — Margô diz ao entrar no meu quarto.
— Bom dia. — digo e lhe mostro um meio sorriso.
— Está tudo bem? — pergunta e se coloca atrás de mim no espelho.
— Sim. Estou bem. — termino de amarrar meu cabelo. — Onde está meu pai?
— Tomando café com sua mãe. Eles estão esperando por você.
— Não estou com fome. — digo e abaixo a cabeça.
— Me diga o que está acontecendo. — ela pede e se senta ao meu lado.
Viro-me, ficando de frente para ela. Solto um suspiro pesado.
Eu odiava o fato de Margô me conhecer tão bem, ela era como uma mãe para mim. Ela me conhecia mais do que meus próprios pais e era impossível esconder qualquer coisa dela.
— Você acha que eu tenho chances de entrar em uma Universidade?
— Menina, você é capaz de qualquer coisa. — ela acaricia uma de minhas mãos. — Mas porque a pergunta?
—Eu... — tento encontrar as palavras certas, mas elas me faltavam. — Há alguns meses, eu mandei uma solicitação de bolsa para a Universidade George Washington, e ontem a carta de admissão chegou.
Margo arregala os olhos e sua pele fica pálida.
— O seu pai sabe disso? — nego com a cabeça. — Minha virgem Maria. — ela leva as mãos até a sua boca.
— Não é para tanto, Margô. — rolo os olhos.
— Se você for aprovada, o seu pai jamais irá lhe permitir participar de algo assim.
— Eu sei. E foi por isso que eu não abri a carta ainda. Eu irei falar com ele essa noite.
— Tentará convencê-lo?
— Ele diz que meus olhos são a sua fraqueza, talvez se eu conseguir deixa-los mais marcantes... — digo sugestiva e ela sorri.
— Espero que ele deixe você realizar seus sonhos. — ela sorri e passa uma de suas mãos por meu rosto.
— Eu também espero, ele precisa entender que eu não sou mais a sua menininha.
— Ele te ama muito e, você sempre será a sua pequena filha. — diz e eu encosto-me à cadeira.
— Eu sei, mas ele não pode me impedir de viver. — olho para uma foto minha vestida de bailarina que tinha sobre a mesa abaixo do meu espelho. — Já abandonei coisas demais por causa dele.
— Um dia você ainda será uma grande bailarina, meu anjo. — diz me confortando.
— Assim espero, Margô. — digo com um meio sorriso e ela beija a minha testa.
Depois da nossa conversa, eu fico o dia inteiro no quarto. Almocei por aqui mesmo, e não quis jantar, mas agora eu precisava descer e enfrentá-lo. Talvez essa fosse a minha última chance, e mesmo após tantas tentativas, eu não desistiria se ouvisse mais um não.
Pego a carta de admissão debaixo do meu travesseiro e saio do quarto, descendo as escadas em passos largos. Quando chego à sala, não vejo ninguém. Certamente meu pai estava em seu escritório. Giro meus calcanhares e me direciono até lá.
— Olá, princesa. — ele diz sem me olhar, assim que abro a porta e entro sem bater.
— Precisamos conversar. — digo simplesmente.
— Preciso assinar essa papelada. Não pode ser depois? — ele diz ainda escrevendo algo em várias folhas sobre sua mesa.
— Tem que ser agora, pai. — digo séria.
Ele me olha por cima de seus óculos de grau e suspira ao ver minha expressão seria.
— Tudo bem. — ele junta os papeis e os deixa de lado, em seguida cruzando as suas mãos. — O que é tão importante que não pode esperar mais alguns minutos?
— Eu quero ir para a Universidade. — digo de uma vez e ele franze o cenho.
— O que? Por quê?
— Porque eu quero ser normal. — digo o óbvio.
— Você já concluiu o ensino médio, já tem seu diploma. Sabe que não precisa ir para a Universidade.
— É claro que eu preciso. — digo e gesticulo com as mãos. — Esse não é o meu mundo.
— Filha, eu estou em época de reeleições, você sabe disso. Eu preciso de você comigo, como coordenadora dos projetos beneficentes. — diz e eu reviro os olhos.
Não me importava em ajudar quem precisava. Eu realmente gostava disso, mas eu queria ir em busca dos meus sonhos. Eu não abandonaria as creches e hospitais que eu sempre visitava, mas também não deixaria o meu pai me vencer dessa vez.
— Eu quero ir para a Universidade como todos os outros adolescentes. O que eu estudei dentro de casa não passou nem perto do que todos eles lá fora viveram e vão viver.
Ele ri debochado, fazendo meu sangue ferver por isso.
— Você quer tanto ser normal? — balanço a cabeça positivamente. — E por quê?
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oi voltei rs
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🍉ִִֺּֽֽׂ֪֤֭ׄؒᬼ ⃟͊🎯ᮭ 𝗼𝗽𝗽𝗼𝘀𝗶𝘁𝗲 𝘀𝗶𝗱𝗲𝘀 | noart ✓
RomanceEu nunca gostei de errar. Fosse um passo do balé, um cálculo feito rapidamente ou nas questões da vida. Eu pensava que essa era uma das minhas qualidades, gostar de fazer o certo, mesmo desejando quebrar regras, de vez em quando. Um dia, eu conheci...