19. Eu te amo

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Minha mente está a mil e sinto como se eu estivesse a ponto de estourar cada mínimo pedaço do saco de pancadas em minha frente. Meus socos são precisos e posso ver as marcas que os nós de meus dedos deixam sobre o couro grosso e liso.

- Erga a perna direita e chute, Noah. - Lamar coordena e eu faço o que ele diz. - De novo.

Ergo a minha perna direita e chuto a lateral do saco de pancada, enquanto protejo-me com os braços, como se ao invés de um objeto, fosse o lutador que eu enfrentaria essa noite.

Venho treinando há dias, e não posso deixar morrer a ideia de que meu corpo parece definhar perante treinamentos de mais de oito horas. Estou perdendo aulas e fazendo malditos trabalhos durante a noite, apenas para continuar em forma.

Sei que estou me matando, pouco a pouco, mas não irei correr o risco de ser eliminado na primeira luta. Enviaram-me uma mensagem na madrugada da outra noite, informando-me o lugar que ocorreria a luta. Boa parte dos alunos daqui também receberam as mesmas mensagens, pois é assim que toda essa merda ilegal funciona.

O Ciclo é organizado por jovens ou homens, tão fodidos quanto eu. Muitos começaram com isso para descolar grana fácil e sem precisar trabalhar duro. Cruel Mitchell foi o real fundador das lutas ilegais por aqui, e foi ele quem me encontrou, dando-me uma mínima esperança de algo fácil, mas não seguro. Ele era amigo do meu fodido pai, o único que me olhava e falava comigo, vez ou outra. E na noite em que London estava morto, eu coloquei para fora a minha raiva enquanto socava tudo o que eu tinha em minha frente, mesmo sendo somente uma criança.

Lembro-me bem de suas palavras. As palavras que me encorajaram e me fizeram, ao menos uma vez, sonhar.

- Use a sua força para algo futuro, filho. Você será capaz de derrubar tudo o que atravessar o seu caminho.

Após isso, ele sorriu e me deixou sozinho com meus pensamentos e a minha interminável frustração. Anos mais tarde, ele me encontrou e me treinou de maneira dura, onde eu precisei ser forte para sobreviver. Treinávamos dia e noite, em um galpão velho que era fonte de ilegalidades de todos os tipos. Quando eu chegava ao ringue apenas trinta segundos atrasado, ele me punia, não com pancadas como o meu pai fazia, mas ele me fazia ficar em baixo de chuva ou no calor escaldante, treinando sem parar ao menos para projetar ar limpo para os meus pulmões que imploravam por ajuda.

Ele morreu em um acerto de contas, deixando seu legado a deriva de quem quisesse assumir. Seus homens, fieis, brigaram por isso, e quando eu tive a chance, me libertei das amarras e me tornei independente. Continuei com as lutas para a grana fácil, consegui comprar um carro, apartamento e juntei parte de tudo em uma conta bancária para Lins.

E foi por isso que cheguei onde estou. Posso ser mesmo uma merda que pisa sobre o solo, mas sou forte e sei que consigo destruir cada um que interfere o meu caminho. Lakota e Harvey foram indesejáveis pessoas que passaram por meu caminho. Eu cheguei a lutar com os dois, e os derrotei. Mas a raiva que eles sentem de mim vai muito mais além.

- Você precisa melhorar os chutes. - Lamar anuncia quando eu paro para respirar.

- O meu joelho está doendo. - assumo.

- Talvez seja porque você correu por duas horas seguidas essa manhã. - me repreende. - Desse jeito você irá se matar antes de passar da primeira rodada, Urrea.

Estalo o meu pescoço e ando até a mesa de ferro, centralizada em uma das paredes da sala. Pego uma garrafa de água e retiro a sua tampa.

- Você sabe que terão olheiros por lá, mesmo sendo ilegal. Esse pessoal, de academias grandes, gostam de se infiltrar para conseguirem bons lutadores.

🍉ִִֺּֽֽׂ֪֤֭ׄؒᬼ ⃟͊🎯ᮭ 𝗼𝗽𝗽𝗼𝘀𝗶𝘁𝗲 𝘀𝗶𝗱𝗲𝘀 | noart ✓Where stories live. Discover now