16. Quebrada

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Noah continua me olhando sem demonstrar nenhuma expressão, o seu olhar está duro e ele não parece se comover com as lágrimas que escorrem por minhas bochechas, sem que eu possa afastá-las, pois além de me sentir perdida, os meus músculos parecem ter congelado, impossibilitando-me de me mover. 

— Noah, eu... - limpo a minha garganta e fecho os olhos, os apertando com tanta força que sinto uma leve pontada em minhas têmporas. — Eu não sei como lhe dizer isso.

O que eu posso dizer? Eu não posso simplesmente mentir. Eu sabia que esse dia iria chegar, mas eu não esperava que fosse agora. Não hoje. E não depois da noite que tivemos. 

Eu ainda posso sentir os vestígios de Noah em mim, como se ele houvesse marcado cada mínimo centímetro do meu corpo. Sinto-me, como se ele tivesse me tomado para ele e não apenas fisicamente, mas também me feito dele de alma e coração. Ele plantou um sentimento intenso em meu peito e eu não sei se consigo tirá-lo de mim. Não tão cedo. 

— Sem mentiras, Sinaa. Diga-me a verdade. - ele diz rispidamente. — Porque nunca disse que você é a filha do presidente dos Estados Unidos? 

A ironia pinga em sua última frase, ao nomear-me como a filha do presidente. Ele está realmente chateado. Suspiro e abro os olhos, mas não consigo olhar para ele. 

— Eu não menti, apenas ocultei parte da história. - digo baixo, mas tendo a certeza de que ele me ouvia. — O meu pai, antes mesmo de tornar-se presidente, sempre me privou de tudo. Eu estudei em casa e nunca tive amigos em colégio e nem vivi da maneira que um adolescente gostaria de viver. Sempre dancei, às vezes precisava ser escondido dele, pois ele sempre achou a dança uma perda de tempo e deixou claro que eu nunca iria entrar em uma companhia para sair em turnê, por ser perigoso para mim e ele não me quer longe. Antes de avisá-lo, eu me inscrevi para as bolsas da universidade e quando a carta de admissão chegou, estava escrito que eu tinha sido aceita, mas eu havia dito a ele que entraria lá com o objetivo de cursar administração. Como ele queria. - soluço baixinho e encaro meus pés. — Naquela noite em que você me levou de volta e tinha aquele tumulto na entrada, eram os seus seguranças a minha procura e ele estava no corredor com a minha mãe, esperando por mim. Na noite em que você me viu andando na calçada e me levou ao parque abandonado, eu estava em um evento de caridade. Causei desgosto a ele em todas as vezes que ousei quebrar as suas regras apenas para me sentir humana, ao menos uma vez. Eu aproveitei que estava indo para um lugar novo e poucas pessoas me reconheceriam. Evitei usar minhas roupas de grife ou as que uso para estampar capas de revistas e até mesmo as que desfilo ao lado da minha família em eventos, apenas para ser normal e me misturar. Sabina descobriu depressa, mas manteve a boca fechada a meu pedido. Eu consegui manter isso por algum tempo, mas depois dessa notícia... - ergo o meu olhar e olho para a televisão desligada. — Todos irão me ver. Eu temia esse dia, mas ele chegou e eu preciso lidar com a minha vida, exatamente como ela é. Queira eu, ou não. 

— Eu te contei sobre as minhas merdas e você ainda assim esconderia isso de mim? E por quê? - ele grita. 

— Porque dói, Noah. Dói pensar que pessoas se aproximam de mim por interesse ou outras fogem por não querer se misturar ao meio político. - ergo os braços para cima e deixo-os cair nas laterais do meu corpo. — Eu não planejei ter essa vida, mas eu a tenho. Eu amo os meus pais, mas também odeio o fato de não ter uma vida. 

— Sua vida é perfeita. - diz, usando ainda mais o veneno de sua ironia. Olho-o incrédula. — Porque não se envolveu com algum riquinho de merda? 

— Perfeita? A vida de ninguém é perfeita, Urrea. - grito, perdendo a razão e o controle. — Eu posso não ter enfrentado muitas coisas e não ter vivido o que você ou outras pessoas viveram, mas a minha dor me faz querer desistir, chorar, gritar e fugir. - arfo, perdendo o fôlego e sem saber ao certo o que dizer. Eu estou brava e sinto vontade de jogar tudo o que possa se quebrar na cabeça de Noah por ele ser tão estúpido e egoísta. — Eu não me gabo do que tenho e nem desmereço ninguém. Eu só estou tentando encontrar o meu lugar, pois eu sei que não é sendo a futura governadora do país, por mais que esse seja o desejo do meu pai. - aponto para ele, sentindo mais lágrimas molharem o meu rosto, deixando minha visão um pouco turva, mas consigo ver o seu rosto exalando tensão. Os ossos de seu maxilar estão prontos para perfurar o seu rosto. — Eu não sei por que não cai nos encantos de algum outro garoto da universidade. Mas eu sei que não foi a algum deles que me entreguei na noite passada. Não me pergunte o motivo, pois eu também o desconheço.

🍉ִִֺּֽֽׂ֪֤֭ׄؒᬼ ⃟͊🎯ᮭ 𝗼𝗽𝗽𝗼𝘀𝗶𝘁𝗲 𝘀𝗶𝗱𝗲𝘀 | noart ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora