24. Garota quebrada

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As luzes fortes se focalizam no meio do palco com assoalho de madeira, dando aos pares de olhos atentos uma visão perfeita e nítida de todos os dançarinos que passaram pelo palco, mas eu não conseguia enxergar muito bem o rosto das pessoas e nem suas expressões, para deduzir se elas estavam apreciando ou tirando cochilos. Eu não conseguia esconder o meu nervosismo e sentia meus pés soando dentro das sapatilhas de ponta, assim como minhas pernas cobertas pela meia calça fina.

Ele não estava lá. Eu não precisava ter a visão de seu rosto para saber que ele ainda não havia chegado, e isso me deixava ainda mais aflita. Não avisei minha mãe ou Margo sobre essa dança, pois dizia á mim mesma que podia lidar com isso sozinha, mas acho que me enganei. Noah me apoiou e encorajou-me todos os dias para conseguir chegar até aqui com confiança, mas agora estou sentindo que vou correr para os bastidores e chorar como uma garotinha com medo do escuro.

Quando os dançarinos se afastaram conforme mandava a coreografia planejada perfeitamente pela senhorita Aleksey, eu consegui sentir o sangue do meu corpo sendo drenado apenas para minhas pernas, onde se moveram sozinhas e me levaram direto para Tom que me esperava com o braço esticado. Toco sua mão e damos inicio á nossa dança.

Ele me ergue no alto e me gira duas vezes, colocando-me no chão e eu não perco tempo antes de fazer um Rond de Jambe triplo, ouvindo sussurros do público, como se gostassem do que estavam vendo. Bom. Tom faz um par de movimentos sozinhos, conforme á música sinfônica invadia o espaço imenso, ele anda pelo palco em completa melancolia e quando eu encaro seus olhos sei que era a minha hora de correr em sua direção e em seguida ser erguida no ar.

Eu não estava pronta para isso, mas quando uma porta do alto se abre e eu olho de canto, sem perder o profissionalismo da apresentação, vejo uma silhueta que conheceria á metros de distância. Noah corre a escadaria e fica parado ainda entre os degraus e eu praguejo quem quer que seja que coloque luzes tão fortes, pois eu queria poder ver o seu rosto agora. As pessoas elegantemente murmuram baixo, como se visse ele como um louco ou alguém que não tem respeito por momentos como esse. Já eu o vejo como a minha inspiração.

Tom me olha um pouco aflito, temendo que eu pare nessa parte como sempre parei nos ensaios, incerta se conseguiria. Eu consigo. Eu sei que sim. Então eu vou.

Corro em sua direção de maneira graciosa e ele me segura erguendo-me para cima e girando enquanto executa o seu Fondu impecável. Fecho os olhos e sinto o breve calor das instalações do palco e também do momento, inclinando a minha cabeça para o lado, sentindo-o me colocar novamente no chão para executarmos juntos os momentos finais de nossa dança.

Com destreza fazemos dois Jeté's, partindo novamente para ficarmos no meio do palco, onde terminamos juntos, ele em seu rodopio, parando com as pernas centralizadas e eu com o Tendu, no exato segundo em que a música tem o seu fim. Enfim chegou o momento aguardado por todos que um dia pisassem em um palco como esse, seja em qual hipótese for, o momento que eu aprendi á amar de imediato. As pessoas se levantam e aplaudem exasperadamente, nos aclamando com assobios contidos, mas meus olhos vagueiam em busca dos únicos aplausos que eu esperei para ouvir. Eu sorri com a cena dele assobiando como um garoto maroto em diversão, algumas cabeças viraram em direção ao seu escândalo, mas eu não me importava. O meu sorriso estava tão grande que poderia machucar o meu rosto se minha felicidade não fosse tanta.

O resto dos dançarinos voltam ao palco e Tom olha-me com um sorriso. Entrelaçamos nossos dedos e eu olho acanhada para a senhorita Aleskey que segura a mão ao meu lado, sorrindo abertamente enquanto reverenciamos para o público que ainda nos aplaudia. Ficamos mais alguns minutos recebendo as gloriosas palmas, até que as luzes se apagaram e nos retiramos do palco para irmos em direção aos camarins.

🍉ִִֺּֽֽׂ֪֤֭ׄؒᬼ ⃟͊🎯ᮭ 𝗼𝗽𝗽𝗼𝘀𝗶𝘁𝗲 𝘀𝗶𝗱𝗲𝘀 | noart ✓Where stories live. Discover now