8- Desde quando eu sou todo mundo?

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[revisado]

Narradora
Dias se passaram e durante eles apenas frases ditas por educação eram escutadas saindo da boca de Anne Shirley Cuthbert.

Era um ato de protesto, é claro que era. Aquilo afetava diretamente o rei Matthew que odiava ver a ruiva assim, e se tudo ocorresse como planejado, dentro de uma semana ele tiraria o castigo, ou pelo menos era isso que a garota, que se sentia mal por estar usando os sentimentos do tio que tanto ama, esperava.

Não que ela não estivesse brava. É claro que estava brava. Qualquer um em sua situação estaria. O plano dela era a sua única e última esperança, e aquilo não a reconfortava, e juntando com as aulas de etiqueta e política que ela foi obrigada a ter novamente com o príncipe Gilbert, tínhamos uma Anne nem um pouco sociável ou agradável, diferente do que ela realmente era.

O único momento que ela encontrava para descansar de todas as suas obrigações era no começo do crepúsculo, onde cavalgava enquanto observava as cores mudarem e se mesclaram no céu na mesma intensidade que o seu humor também se transformava, ou lia e fugia para o mundo literário, onde os problemas eram maiores, mas passavam uma perspectiva mais simplória e positiva de resolução.

Talvez fosse o momento que a garota estivesse mais calma, mesmo revoltada quando via guardas a seguirem de um lado para o outro, e Gilbert que observava o dia à dia da garota de perto, pensou que seria o melhor momento para arriscar uma conversa, e foi isso que fez quando viu o cabelo ruivo mexendo que nem ondas do mar conforme o vento batia nele.

—Não acho que seja muito seguro ler enquanto cavalga Shirley -o príncipe fala com o seu típico sorriso supositório e, segundo a ruiva, irritante, enquanto chega à cavalo ao lado da garota que instantaneamente revira os olhos ao escutar mais guardas chegando atrás deles e principalmente por escutar alguma voz, em específico, aquela voz aveludada, melodiosa e cheia de suposições, que a fazia arrepiar em lugares que ela nem mesmo sabia que era possível se arrepiar-

—E eu não acho que seja muito seguro interromper a minha leitura enquanto eu estiver com alguma possível arma por perto, príncipe Gilbert -profere se recompondo em seu cavalo e fechando o livro enquanto faz o seu transporte andar, obrigando o garoto a se mover para a acompanhar também-

—E como você está nesta tarde? -pergunta com a sua comum curiosidade, com a qual Anne já havia se acostumado-

—Já recuei minha cadeira umas quarenta e três vezes -a de olhos azuis responde em um rápida sinceridade, que logo volta a ser frases políticas- Desculpe-me, estou bem, obrigada pela pergunta senhor Blythe.

"Pequeno Príncipe", Gilbert pensou após ouvir a frase inicial da garota, e sorriu para si mesmo sem mostrar os dentes.

Talvez, se tal fosse dita para outra pessoa, ela iria ficar confusa com a revelação e não conseguiria distinguir os sentimentos da princesa, mas Gilbert possuía uma estranha facilidade em entender todos os pequenos significados atrás das palavras da futura rainha.

—Duvido que o seu planeta seja tão pequeno a ponto de você ser capaz de assistir tantos poentes. -ele ri e gesticula com as mãos, fazendo os olhos da garota se direcionarem aos deles em uma verdadeira surpresa- Por que está me tratando dessa forma politizada ruivinha?

Blythe talvez já tenha descoberto muito da personalidade de Anne, mas ainda não tinha aprendido que ela realmente não gosta de apelidos relacionados a cor de seus cabelos, e muito menos de se sentir desafiada, sensação que a intonação da voz de Gilbert sempre a passava. Além do mais, a curiosidade matou o gato não é mesmo?

—Estou te tratando assim porque é como eu trato todo mundo Blythe. -ela encara ele friamente e fala da mesma forma no que poderia ser tido como uma ofensa contra o príncipe, mas que acabou gerando uma risada surpresa nos lábios do garoto-

—E desde quando eu sou todo mundo Cuthbert? -profere convencido fazendo Anne virar o seu cavalo para ir embora, mas antes deixando o mesmo bem perto do animal do príncipe igual aos seus rostos, o que permitia Blythe admirar as inúmeras sardas de Shirley-

—A partir do momento em que você é igual a todos os outros neste palácio -responde em um tom mais baixo, porém ainda áspero-

—E como eu deixo de ser igual a eles? -pergunta com o rosto tomado de curiosidade, porém ainda sério, e com os olhos semicerrados enquanto inclina levemente a sua cabeça para se demonstrar confortável com a situação e não intimidado-

—Como você deixa de ser igual a eles? -repete aproximando mais ainda o seu rosto do dele e soltando um riso nasal irônico procedido de um sorrisinho com o mesmo humor e um tom de voz mais baixo ainda, como se fosse um sussurro para contar a ele um segredo- Roube todas as garrafas que possuam bebidas alcoólicas neste reino, arranje um carro, nada muito luxuoso, consiga identidades e passaportes falsos, e me tire deste inferno.

—Em primeiro lugar, -começa enquanto entra na brincadeira da ruiva e chega o seu rosto mais pra frente ainda, quase encostando os seus narizes- isso seria roubo, e em segundo lugar, ninguém em sã consciência sequestraria a futura Rainha da França, ruivinha -lembra de forma provocativa para a garota que se afasta enquanto os seus amigos se aproximam do local que eles estavam-

—Não sabia que você era medroso Blythe, e além do mais, eu assinaria em baixo! -grita antes de virar a sua cabeça para frente e cavalgar rapidamente de volta para o castelo-

E enquanto Gilbert mantém os seus olhos na direção em que a francesa seguiu, Cole, Moody e Ruby, os últimos no mesmo cavalo, se põem ao seu lado e o olham.

—Moody, você tem uma tesoura? -Cole pergunta para o garoto que nega e refaz a pergunta para a loira que também nega-

—Por que você precisa de uma tesoura? -profere curioso-

—É que eu precisava cortar uma coisa por aqui -fala enquanto passa a mão no ar do local vazio ao lado de Gilbert, onde Anne estava, fazendo Moody rir-

—Eu não entendi! -diz confusa e tímida fazendo Moody falar um "Deixa para lá, não vale a pena" para garota-

—Vocês sabem aonde ela foi? -pergunta parecendo que só percebeu a presença dos três naquele momento-

—Ela está indo ter uma reunião com o conselho. -a mais nova das princesas francesas responde, fazendo Cole se agitar-

—E você só disse agora Ruby?! -fala decepcionado e animado, como se talvez estivessem perdendo o evento do ano-

—O que tem de mais? -profere curioso-

—Você só fala isso, porque vocês dois nunca escutaram uma reunião com a Anne, vamos!

E assim os quatro voltam para o que poderia ser uma grande diversão.

Notas Finais
Cole = tudo para todos né?
Puts eu amei escrever esse capítulo, e mesmo não estando perfeito, espero que vocês tenham gostado!

Espero ver vocês na próxima! ❤️

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Onde histórias criam vida. Descubra agora