12- Café

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Gilbert
Mexo levemente a caneca com o líquido preto quente enquanto a ruiva tirava o seu livro de perto para eu não sujar, e com o seu olhar de ansiedade sob mim, levo a xícara com exatas duas colheres de sopa de açúcar à boca e me seguro para não cuspir aquele ralo café, mas logo desisto de tentar engolir e cuspo no saco que já estava cheio de outras quinhentas tentativas de café.

—Ugh esse ficou mais fraco do que o penúltimo. -digo para a garota que alivia os seus ombros derrotada-

—Mas a gente botou menos água! -contesta revoltada- Será que a gente comprou o pó errado? -pergunta e eu rio da forma como ela falou, fazendo com que aqueles brilhantes olhos azuis me encarassem-

—Não saberia te dizer porque somos loucos naturalmente e não precisamos de pó para isso -explico e dessa vez ela arregala os olhos rindo surpresa e taca uma almofada em mim- Ok, ok, talvez as nossas mãos ou cabeças não sejam boas o suficiente para fazer café.

—E o que você sugere? Estou morrendo de fome e não to afim de comer salgadinho de café da manhã de novo -fala se ajeitando no banco do carro que range-

Já haviam se passado alguns dias desde que começamos a viagem e decidimos estacionar em um local dedicado apenas para viajantes, e quando estávamos vindo para cá avistei um café no meio da estrada e concordamos que a melhor ajuda que poderíamos dar para as nossas barrigas era ir até lá.

Anne apoiou o seu braço em meus ombros e fomos tentando andar até o local, mas mesmo se fazendo de forte, eu sabia que a ruiva estava morrendo de dor por causa do pé que estava apenas começando a desinchar ainda, então paramos no meio do caminho onde ela subiu em minhas costas mesmo protestando contra, e só a larguei quando chegamos ao estabelecimento e pude colocar-la em uma cadeira.

—Então vamos lá Gilbert Blythe. -fala após levar os seus rosados e finos lábios à sua xícara de café, da maneira mais delicada que eu já vi- Você já se mostrou malandro, educado, médico, político, engraçado, irônico e gentil, mas até agora eu não faço idéia de quem você realmente é. Qual é a sua história? O que esse rostinho bonitinho esconde em? Talvez uma história trágica ou uma aventura?! -pergunta me fazendo rir baixinho e depois sorrir com a animação da garota-

—Sabe ruivinha, nunca me perguntaram isso e acho que também não saberia responder. -falo sincero enquanto penso em tudo que já passei- Órfão de mãe desde sempre e de pai desde meus oito. Não tenho nenhuma história trágica ou aventura que valha a pena contar. As vezes fazia alguma besteira, mas nada impactante de fato. Desculpa te decepcionar, mas sou apenas um príncipe com um rostinho bonitinho que um dia desses esbarrou em uma princesa ruiva por aí.

—Você fala que a sua história não tem nenhuma aventura e não é trágica, mas eu enxergo de uma maneira totalmente diferente. Para mim, as histórias que começaram com pessoas que ousaram a se aventurar pelo vazio, são as mais belas e trágicas.

—Você sempre tem esse jeitinho não é? -pergunto sorrindo a admirando e ela me olha curiosa- Enxerga tudo e todos de um forma única, uma forma só sua. É lindo -Lindo, mas não tão lindo quanto as sardas que salpicavam o seu rosto e me encaravam ao mesmo tempo que os nossos olhos passeavam no rosto um do outro até que se esbarram nos trazendo de volta para a realidade- Uma pergunta e uma resposta?

—Essa já foi a sua primeira -diz esperta me fazendo rir suavemente- Qual a sua cor preferida?

—Azul. Qual o seu filme preferido?

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Where stories live. Discover now