25- Piano e Dardos

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Gilbert
O som irritante do despertador chega aos meus ouvidos interrompendo a melodiosa música que eu tocava em meus sonhos, e mantenho os meus olhos fechados apenas pensando o quanto que eu queria ter um piano por perto agora.

A única coisa que eu posso falar que faço direito é tocar o instrumento que tanto me salvava com as suas suaves teclas pretas e brancas quando eu me sentia preso naquele inferno, tanto que o toquei tantas vezes durante anos, que aprendi quase com perfeição a sua arte.

Ao tocar no assunto "arte", sinto que é quase impossível esquecer de Verona onde o Sol já agraciava a cidade de Romeu e Julieta e todas as suas maravilhas, mas quando me sento ainda sonolento na cama, não consigo achar a maravilha mais importante.

Bato na porta de madeira clara que levava ao banheiro do mini apartamento, mas não recebo nenhuma resposta de volta, o que me faz abrir a mesma e não encontrar nenhuma ruiva por lá também.

Vou em direção a cozinha que era anexada com a pequena sala, e percebo que a chave não estava na porta, indicando que ela tinha saído, e pior, não deixou café.

É claro que nesse meio tempo eu aprendi a fazer o líquido que agora tanto me fazia falta, mas não ficava tão bom quanto o da Anne, que antes que eu colocasse o pó no coador enquanto esfregava os meus olhos com sono, adentra animada no apartamento.

—Ah, você acordou! Finalmente, porque eu tentei te acordar, mas você também não é fácil de acordar também não sabia? Mas deixa para lá, você não vai acreditar na cafeteria que eu achei! Ela é tão bonita, cheia de plantas, mas também com um ar tão divertido e nós certamente temos que ir.. -a garota fala rapidamente e eu sorrio com a cena, mas me sinto obrigado a interromper-

—Anne! -a chamo e ela para de andar finalmente olhando para mim- Buongiorno Principessa -sorrio e ela retribui me dando um selinho depois de perceber que não havia me cumprimentado- Agora vamos lá, me fale mais sobre essa cafeteria porque eu estou morrendo de fome.

—Já que é o caso, acho melhor te mostrar do que falar. Não consigo nem explicar o quão animada eu fiquei quando vi um jogo de dardos, porque não sei se já te contei, mas eu amo atirar com arco e flecha, e mesmo não sendo o arco e flecha propriamente dito... eu voltei a fazer não é? -ela própria se interrompe e eu concordo com a cabeça rindo sentado em cima da mesa enquanto ela está encostada na pia de mármore. Ela é louca, e eu amo, ou melhor dizendo, ela é louca e eu a amo-

—Anne Shirley Cuthbert com um arco e flecha em mãos? Quem você quer assassinar?

—Geralmente você seu paspalho -responde e eu pulo de cima da mesa em direção à sala, tentando desviar do tapa que ela estava pretendendo me dar, e nisso quase derrubo um pedestal com um vaso azul todo pintado e provavelmente extremamente caríssimo, mas Anne consegue segurar ambos antes deles chegarem ao chão- Ok, troca de roupa para a gente ir, antes que a gente quebre esse apartamento inteiro.

Verona ganhou o título de local com o céu mais límpido e homogêneo da viagem, porque nem uma única nuvem manchava a imensidão azul que ficava acima de seus afrescos que coloriam as antigas construções, fazendo com que toda aquela cena se parecesse uma pintura em movimento, sendo constituída com crianças correndo com os seus pezinhos na antiga praça, e adultos as olhando com um sorriso no rosto por causa da simplicidade que a vida delas era.

Eu chamaria de Liberdade essa pintura, principalmente por causa de uma certa garota ruiva que andava ao meu lado livremente e depois de muito tempo, com um sorriso verdadeiramente animado, e não era para menos.

A cafeteria possuía mesas com os tampos de madeira escura, que eram suavizados pelo piso também de madeira, porém muito mais clara, que contrastava com as paredes verdes que possuíam pequenas florzinhas iguais as que enfeitavam o balcão, mas também tinha um ar jovial por causa de sua parte de entretenimento que contava com mesa de pingue-pongue e totó, além, é claro, dos dardos que fizeram Anne se animar tanto, porém, os meus olhos foram atraídos que nem um imã para o enorme piano preto que se localizava ao lado dos dardos da ruiva que tentava chamar a minha atenção.

—Por que você não me disse que tinha um piano antes?! -pergunto agora na mesma animação que ela-

—Porque a minha bola de cristal ainda não chegou! Gilbert Blythe tocando piano? Quem você quer ensurdecer? -retribui a minha provocação e eu fecho os meus olhos percebendo o quão boa essa tinha sido, e ela ri vitoriosa- Vai lá ensurdecer quem você quiser que eu já levo o seu café.. sim eu sei, café preto com duas colheres de açúcar -ela diz e eu sorrio pelo fato dela nunca se esquecer disso, mas logo me dirijo para o instrumento e o analiso encantado por causa de sua boa preservação, mesmo com a idade mais avançada que eu sabia que ele tinha-

Espero Anne chegar com a xícara de café e o Croissant que sempre que ela pedia eu fazia questão de a zoar por causa de sua pronúncia francesa, mesmo que ela estivesse falando corretamente, mas assim que como rapidamente ele, e bebo o café na mesma rapidez, começo a tocar  Hungarian Rhapsody No. 2, também conhecida como a minha música preferida de se tocar no piano.

Acho que o fato dela ser complicada é que me chamava mais atenção. O desafio de me concentrar, assim criando um mundo só para mim e as teclas, era o que fazia daquela música a mais tocada pela minha pessoa, porque sempre que eu quisesse, poderia fugir para aquele local onde só a partitura mandava, mas os meus dedos se sentiam livres deslizando pelas teclas brancas e pretas que dependiam de mim na mesma intensidade que eu dependia delas para sobreviver.

Isso chega a ser irônico, porque eu fui obrigado a aprender piano, mas quando eu percebi tudo o que esse instrumento significava para mim, comecei a aprender sozinho. Odiava os professores tentando dar palpite sobre como eu tocava, e se eu tivesse continuado com eles, duvido que hoje em dia esse instrumento me desse alguma ideia de liberdade.

—Eu não sabia que você tocava tão bem -Anne fala surpresa após eu terminar, e assim eu percebo que ela estava me olhando esse tempo todo com os seus olhos que brilhavam-

—E eu não sabia que você jogava tão bem -retribuo observando atrás dela três dardos gravados na casa que triplicava o vinte, fazendo com que ela tivesse uma das maiores pontuações do jogo se eu não me engano-

—Ainda assim prefiro o arco e flecha -fala se sentando ao meu lado e arriscando algumas notas no piano, e foi aí que eu percebi que ela também foi obrigada a aprender, mas infelizmente da forma que tira o sentimento de liberdade- O piano não é muito a minha praia, mas consigo empurrar com a barriga.

—Talvez se você tentasse deixar a sua mão mais relaxada e prestasse mais atenção na melodia do que na posição dos seus dedos, você possa tocar tão bem do que qualquer um de seus professores -aponto posicionando a mão dela de uma maneira mais confortável e leve após observar a pressão que ela colocava nas teclas e como ela sempre estava olhando para elas, fazendo com que ela sorria tentando novamente, em um som que saiu muito melhor do que o anterior- Me ensina a jogar direito e sem o risco de acertar alguém? -pergunto com comicidade e ela ri concordando-

Passamos o resto da manhã toda naquele café que sempre vai ter um lugarzinho especial na minha memória.

NOTAS FINAIS
Eu demoro, mas eu sempre volto!
Desculpa galerinha, é que eu posso até estar de férias, mas estou adiantando algumas coisas que ficaram pendentes 🤡

Espero que vocês tenham gostado e deixado o voto rs

Até logo sobrinhos que eu amo! ❤️

PS: No dia que vocês perceberem a importância desse capítulo eu vou rir muito 🤠

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Onde histórias criam vida. Descubra agora