21- Alice

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Narradora
Seria a vida tão simples quanto parecia ser no momento em que Gilbert e Anne dormiram abraçados sabendo que os seus corações batiam na mesma sintonia?

Sim, talvez naquelas horas de descanso a vida era uma dádiva, simples e sem erros, mas o fato de seus corações estarem na mesma sintonia, não significa que estavam na mesma música.

Anne descobriu uma felicidade no meio de toda a tempestade, mas não poderia deixar a simples regra matemática de lado. Menos com mais ainda era menos, e mesmo que a ruiva sempre tentasse não seguir a vida pela lente da tão estimada e relativa lógica, considerava impossível não concordar com esse fato.

De novo o mesmo pesadelo se repetia. Um carro, um bêbado, uma "criança" assustada e nada que defendesse essa criança. Acordou e levantou suada. Passou os seus dedos em seus pulsos ainda avermelhados e ofegou como se tivesse visto o diabo à sua frente, mas sabia que até mesmo o diabo seria mais educado.

Gilbert acordou ao som da respiração da garota e a deitou a abraçando como se quisesse a proteger de todo o mal, porém Anne não queria ser protegida. Queria que o mundo não fizesse com que os outros sentissem que ela precisasse disso, ou que ela de fato não precisasse de tal proteção.

No dia seguinte apenas se levantou em consideração a Blythe que estava animado com a ida ao tão falado palácio Schönbrunn.

Durante o passeio dentro do palácio, Gilbert segurou a mão de Anne e se pôs a falar sem parar e nem se deu conta que a ruiva não esboçou nada além de tédio em suas feições carregadas por olheiras. A mesma apenas mudava quando o alemão se virava para a olhar, porque mesmo na mais profunda vontade de fugir para bem longe, ela não estragaria a felicidade dele nem em mil anos.

Tudo passou que nem um borrão e Anne apenas percebeu que haviam saído do castelo quando se viu perdida sozinha no meio do labirinto dos jardins.

Quanto mais tentava encontrar a saída, mais as paredes de grama pareciam se diminuirem e fecharem, fazendo com que um medo se instaurasse e ela sentisse que era Alice caindo na toca do coelho.

Para a francesa, essa queda parecia enorme. Se jogasse uma moeda, o som dela caindo só seria ouvido na semana seguinte, e Anne se viu caindo nesse exato buraco de medo, angústia e puro pavor.

Com sua respiração pesada e as mãos suando, procurava o único rosto conhecido no meio daquelas faces estranhas e julgadoras que ela sentia que iram a atacar a qualquer momento, mas falhou miseravelmente, e em um ato de proteção se sentou abraçando os seus joelhos.

As pessoas mais gentis que ali passavam a cercaram e começaram a fazer perguntas que, independente da língua, a menina que se via novamente como uma criança não sabia responder. Seu coração acelerado não se acalmou nem mesmo quando Gilbert apareceu dispersando aquelas pessoas e tentando se comunicar com ela.

Anne se levantou com a força que tirou da vontade de não precisar de alguém para a ajudar como se ela de fato fosse uma criança, e pediu em forma de sussurro para Blythe a tirar dali.

O menino passou o seu braço pelos ombros da ruiva e respeitou o silêncio que ela impôs sem nem dirigir uma palavra à ele, até que depois de quase uma hora chegaram na parte mais elevada do terreno que dava uma ampla visão dos desenhos formados pelas flores na parte da frente do palácio.

Shirley não percebeu que tanto tempo havia se passado desde que chegaram, mas o sol já se punha quando Gilbert a entregou um sanduíche natural de atum, milho e presunto, e se sentou ao seu lado com o seu de cenoura, frango e cream cheese que havia comprado na cafeteira localizada ali em cima.

—Espero que tenha pego o sabor certo para você -arrisca enquanto a ruiva concorda com a cabeça comendo o último pedaço de seu sanduíche que antes pouco a fazia falta, mas ao ver que sua barriga ainda roncava ao fim dele, percebeu que tinha ficado o dia todo sem se alimentar direito- Tome fique com o meu, comi mais do que precisava no almoço.

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Where stories live. Discover now