Duas vidas*

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JIMIN

Chorar alivia.

Essa frase nunca fez tanto sentido para mim como agora.

Sentados sobre o olhar de análise de uma psicóloga, eu chorava compulsoriamente por doze minutos seguidos. Sentia as mãos fortes de Jungkook me segurarem e ampararem. Meus olhos permaneciam fechados desde o escape da primeira lágrima e tudo parecia pesar sobre minhas costas.

No silêncio, eu tentava livrar a minha dor.

Pesava no meu peito ter de pôr tudo aquilo para fora. Não precisava ser tudo de uma vez, eu sabia. Terapia significa tratar das dores, lutos, tristeza e afins, por meio da fala, e falar tudo de uma só vez, foi o que fiz, para que talvez me sentisse mais leve.

Mas naquele momento, eu não me senti.

Sentia as mãos presas de Jungkook juntas as minhas, e meu peito subia e descia a cada espasmo que meu corpo dava.

Chora, compulsivamente, enquanto relatava o que senti, e como me senti após perder tantas coisas.

E tudo o que me perguntava era: Porque só eu perdi tanto assim?

Mas a verdade era que não havia sido somente eu a perder com aquilo. Tudo bem, eu perdi meu pai, mas já o havia perdido há muito tempo atrás, a sua morte veio apenas como um lembrete que nada na vida é perfeito.

E de fato, nada é.

Porém, o que fez com que minha voz sumisse, e desse lugar a apenas os soluços, foi falar deles.

Os bebês.

Eu não os queria, e me culpo por isso.

Não culpo pela perda, afinal, ninguém controla um aborto, não é?

Mas me culpava por abrir minha boca e dizer, com toda a certeza que tinha no momento para dizer, que não os queria.

E hoje, só Deus sabe o quanto os queria aqui, comigo.

Jungkook, diferente de mim, pouco falou. Não chorou, e apenas segurou firme minha mão.

A quem visse de fora ele parecia frio, sem se abater com tudo o que eu falava, ou lamentava. Mas eu o conheço tão bem, que sabia que naquele silêncio morava todo o barulho.

O barulho da perda, da dor, e do sonho que não existe mais.

Jungkook se reprimiu tanto, por medo, que deixou de sonhar com o que sonhava desde sua adolescência.

Eram seus filhos.

Nosso.

E perdemos.

Juntos, de mãos dadas dentro daquela sala, e com a presença de uma completa estranha capacitada, nós estávamos tentando.

Tentávamos não os esquecer, pois, para quem perde algo assim, jamais some da mente. É como a rosa, que mesmo morta, permanece com todo o seu cheiro. Assim eram eles para mim. Nem sequer os concebi, ou os tive em meus braços para pôr de mamar, mas sentia, dentro do meu coração, o tanto de falta que fazia porque no momento em que soube de suas existências, e segundos depois de suas mortes, eu já os amava.

Não sei explicar. Talvez seja algo de quem carregue dentro de si a vida. Eu nem sequer os carreguei por mais de um ou dois meses, mas senti, no momento em que soube que eram meus filhos, assim como Jiwan, mas que infelizmente, os perdi.

Na volta, o silêncio foi o que pairou sobre nós. Jungkook dirigia em silêncio com seus olhos grudados na estrada, já eu, apenas via as ruas passarem, com minha cabeça repousada a janela, com mil pensamentos à mente.

UNKNOWN - Jikook | MpregOnde as histórias ganham vida. Descobre agora