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-  Winnipeg -

Quantos olhares poderia esconder? Quanto tempo se passaria até não doer? De um a dez, quantas lembranças precisaria reviver? Será que uma hora poderia esquecer?

Pouco a pouco, ele ia se sufocando, se torturando, se afogando. Sua mente lhe devorava, as memórias o corroiam, o arrependimento o matava. Perdeu as contas de quantas broncas levou, de quantas letras errou, de quantos lágrimas escondeu. Perdeu as contas de quantas noites acordou, de quantas estrelas contou, do quanto sonhou.


O pouco parecia muito e o muito parecia pouco, de todas as formas possíveis e de todas as palavras existentes, nada conseguiria lhe descrever tão bem. Sua mente estava um caos.

Era o terceiro ou quarto dia que não se falavam, que mal se olhavam. Calum não entendia o motivo de estar tão quebrado, de ter perdido a cabeça. Não entendia que estava colocando pressão demais sobre si mesmo, que estava torturando demais a si mesmo, que apenas pensava coisas pessimistas sobre si mesmo. Aquilo estava acabando com ele, mas este não via. De três palavras, entre arrependimento, caos e medo, qual melhor ele se encaixa?

Seu corpo já demonstrava o que tentava esconder, seus olhos refletiam a confusão em sua mente para qualquer que quisesse entender e, de jeitos diferentes, todos fingiam não ver.

Calum carregava seu baixo com apenas uma mão, sem cuidado nenhum enquanto seguia os amigos para o camarim, assistia todos os olhares preocupados para si, mesmo que não dissessem uma palavra sequer, o conheciam a ponto de saberem que era melhor assim.

A equipe os esperava com grades de cervejas postas em uma mesa improvisada, junto a alguns petiscos. O moreno viu Luke comemorar e logo pegar uma cerveja, agradecendo por sua mãe não estar perto para lhe repreender.

Hood logo pegou uma garrafa, afogar as mágoas não lhe parecia tão mal assim, ao menos, não no momento. Sua equipe corria colocar uma música qualquer enquanto explodiam em gargalhadas e conversas, deixando o clima leve e festivo em um piscar de olhos.

O moreno fez o possível para se enturmar nos cinco primeiros minutos, até sentir a realidade lhe atingir. Ele não queria prestar atenção e não queria tirar os olhos de Ashton, por mais que sua mente estivesse o castigando no momento, ele também já estava farto de tudo. De fugir, de se esconder. Nem ele se entendia e isto lhe tirava o pouco de paciência que tinha.

Quando menos percebeu, já havia acumulado três garrafas ao seu lado e, de brinde, a sensação do mundo girar. Respirou fundo algumas vezes, sentindo um nó se formar em sua garganta e uma súbita tristeza lhe abater, se xingou por não conseguir controlar nem as próprias lágrimas direito e se levantou, indo em direção ao banheiro.

Entre passos errados e tropeços, chegou até onde desejava e lavou o rosto na pia, encarando seu reflexo abatido no espelho. Não conseguia se reconhecer.

- eu devo perguntar? - Ashton apareceu atrás dele. Calum encarou seu reflexo por alguns segundos antes de falar a primeira coisa que lhe vinha a cabeça.

- vai me seguir todas as vezes que eu estiver no banheiro? - levantou uma sobrancelha, sua voz estava rasgada assim como seu peito.

- só todas as vezes que você estiver mal. - se aproximou, fazendo Calum se obrigar a virar, ficando frente à frente. O moreno, novamente, não conteve as lágrimas. Aquilo lhe doía demais, era como se carregasse o mundo nas costas e o peso lhe machucasse demais para aguentar. Calum estava exausto. Não só de si mesmo, mas de tudo.

Ashton lhe puxou para um abraço apertando, rodeando os braços pelo ombro do garoto que enterrou o rosto em seu pescoço, não tardando em molhar sua blusa com as lágrimas. O cacheado sabia que, sem pensar duas vezes, ajuntaria todos os cacos, todos os pedaços quebrados de Calum.

A distância, escolhida por Hood a dias atrás, não machucou apenas a si mesmo, como machucou Ashton, obviamente em intensidades diferentes, mas que os perturbava de jeitos parecidos. Respeitou o espaço pedido por Calum até não aguentar mais lhe ver sofrer, até não aguentar mais fingir que estava tudo bem.

Afagou seus cabelos até Calum se acalmar, seus olhos avermelhados o encarava após longos minutos fechados enquanto chorava em silêncio. Ashton se culpou ao ver toda a dor nas orbes escuras que lhe refletia.

- melhor? - indagou, secando suas lágrimas insistentes. - quer que eu chame alguém? - sugeriu, sabendo que Michael era uma boa opção.

- não, estou bem. - forçou um sorriso, deitando sobre o ombro de Ashton novamente. - desculpe por isto. - sussurrou. - mas realmente precisamos conversar. - disse com a única coragem que lhe restava.

- sobre o que quer falar? - questionou. Novamente Calum se afastou apenas para olhar em seus olhos, respirando fundo para acalmar a si próprio.

- não quero mais me afastar, não quero mais ficar longe de você. - mordeu o lábio, com medo da reação de Ashton. A distância entre eles sempre os machucava, sempre deixava as coisas piores ainda. Ashton era seu pilar e tira-lo por capricho, por medo era pior, ele nunca perguntou o que o cacheado queria, como reageria ou agiria caso fossem descobertos, sempre pensou em si mesmo, em seus medos. - tudo bem para você? - Ashton lhe respondeu o apertando nos braços, em um abraço cheio de saudades e, só talvez, com certa felicidade.

Calum encarou Ashton com um sorriso nos lábios, o cacheado acariciava sua bochecha rosada por conta do choro com certo cuidado, com medo que o garoto fosse se quebrar a qualquer momento. O moreno umedeceu os lábios e se aproximou, seu coração quase saltou pela boca e as borboletas se agitaram em seu estômago, ele adora estas sensações todas as vezes que tocava nos lábios de Ashton.

- Que porra? -

J'Aime... - CashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora