2. Primeira viagem

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    Um ano e meio havia se passado e comemoramos meu aniversário de dois anos na ilha que o vovô comprou para a vovó na América Latina, mais especificamente, no Brasil. Fomos em família, inclusive o vô Charlie, e passamos um mês fora. Vi nos olhos de Jake que ele ficara chateado por não ter sido convidado, mas eu queria só a família naquele momento e, por mais que considerasse Jacob meu irmão mais velho, queria apenas meus pais, tios, tias e avós comigo. Sabia, porém, que minha avó Renée não poderia ir por não saber o que éramos e, portanto, os vampiros, e até mesmo eu, ficaríamos restritos ao ambiente interno, devido à reação de nossa pele ao sol. Na segunda semana de viagem, nós caçamos, para o horror do vô Charlie. No instante em que me viu entrar na casa, coberta de terra e com o sangue da jaguatirica, esse foi o nome dado por papai àquela miniatura de leopardo que eu matei, seus olhos se arregalaram e a cor sumiu de seu rosto. Ele veio correndo até mim a procura de qualquer ferimento e ao que eu, rindo, comentei com a minha autoridade de pré-adolescente:

– Vô, eu não quebro tão fácil
– Ainda assim, querida. – cedeu ele depois de quase me virar do avesso pela segunda vez – Não custa nada o vô olhar
– Pai, – falou mamãe entrando pela porta, imaculadamente limpa – a pele de Renesmee é tão resistente quanto a nossa. Garanto que não há dentes ou garras de qualquer animal que ela caçar, que possa perfurá-la
– E por que você acha que deixei que ela fosse? – retrucou vô e eu ri – Além do mais, não vejo mais de nenhum de vocês neste estado. – fiz uma careta
– Ela se saiu bem. – comentou tio Emmett antes que eu tivesse a chance de falar alguma coisa – Pelo menos está começando a fazer menos bagunça
– Menos bagunça? – perguntou vô horrorizado
– Só estou suja desse jeito porque você, tio, puxou o rabo daquela jaguatitica depois de eu já tê-la rendido – retruquei com as mãos na cintura e batendo o pé direito
– Eeeeeuuuu? – com a enorme mão no peito, tio Emmett se fez de desentendido
– Sim, você – retruquei
– Ele, até agora, não aceitou que você teve uma caça limpa, como a sua mãe, logo no início – disse papai
– Se você visse a sujeira que ele fazia no início, acharia que estava em um abatedouro. – concordou vovô Carlisle e tio Emmett fez uma careta, causando um acesso de riso em quase todos os presentes. Vô Charlie permanecia atônito
– Como se ele tivesse amadurecido em todos esses anos. – alfinetou tio Jasper
– Da próxima vez que ele fizer isso, meu bem, – aconselhou vovó com um sorriso conspiratório – espante a presa dele
– Vou mesmo! – vovó piscou um olho dourado para mim e sorri extremamente satisfeita

   Deixando um boquiaberto tio Emmett para trás, bem como minha família às gargalhadas e o vô Charlie ainda olhando para todos estarrecido, subi para o meu quarto para poder lavar a lambança que fora feita em mim. Precisei de quase trinta minutos para tirar toda a terra de debaixo das unhas e dos cabelos. Quando terminei, ainda enrolada na toalha, peguei outra do armário e comecei a tirar o máximo de água possível dos fios. Quando me dei por satisfeita, sentei na penteadeira, passei um pouco do óleo de tratamento capilar que tia Rosalie me deu, para sempre ter o cabelo hidratado e brilhante, e escovei. Assim que me levantei, joguei os cabelos para frente, os balancei e os lancei novamente para trás.
    Vesti um macaquinho jeans que tia Alice havia me dado ao trocar o presente que recebera de tia Rosalie de aniversário adiantado, pouco antes de viajarmos. Eu amava tia Rosalie, de verdade, mas tinha quase certeza que ela me tinha como sua boneca Barbie, para poder vestir e emperequetar da forma como quisesse. Ela só se esquecera que eu não era mais uma menininha. Agradecia a Deus por tia Alice. Por ela ter bom gosto, não que tia Rosalie não tivesse, mas tia Alice acompanhava o meu crescimento e mudanças de gosto, enquanto tia Rosalie, não. Desde o final do meu primeiro ano, quando mostrei meu desagrado com a monstruosidade de babados que tia Rosalie chamara de vestido, tia Alice vinha trocando as roupas e sapatos que me seriam dados ou, mais frequentemente, evitando que fossem comprados. Mas, dessa vez, ela não conseguira e eu havia recebido uma jardineira com um terrível bordado de flor no lado direito do quadril e, quando a apresentei, quase aos prantos, para tia Alice, ela em um completo choque, arrancara a peça de minhas mãos e, em uma hora, estávamos em seu Porsche a caminho da loja. Não que a jardineira fosso feia, de forma alguma, ela era linda, apenas não combinava com meu estilo. Assim que entramos no estabelecimento, me apaixonei com o macaquinho que estava no manequim de entrada da loja e retornei para casa com ele no corpo. Tia Rosalie não se importava com as trocas, a satisfação dela era principalmente me presentear e arrumar meus cabelos em belos e elaborados penteados, que eu sempre amava. E me dar muitos sapatos maravilhosos. Os sapatos eu nunca trocava.
   Desci para encontrar com minha família e nos sentamos na frente da TV para vermos Homem de Ferro. Vô Charlie fez pipoca e, como eu ainda estava satisfeita da caçada, ele comeu sozinho. Jogamos banco imobiliário, e tio Jasper deixou quase todos nós endividados, para o aborrecimento de tio Emmett. Tia Alice, claro, foi o banco, já que ela poderia prever todas as nossas jogadas e não teria graça nenhuma. Na hora do jantar, a cozinheira preparou um delicioso risoto caprese com camarões ao alho e óleo e eu me surpreendi com o tamanho dos frutos do mar que adornavam o prato, e, claro, estavam deliciosos. Vô Charlie e eu comemos muito e, de sobremesa, um bolo de rolo que eu, simplesmente, amei. Já estava em meu terceiro pedaço, sem contar os três pratos do jantar, quando vô comentou:

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