7. Arrumando a casa

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   No dia seguinte, me levantei cedo. Estava animada para ir à casa de vô Charlie passar o dia com ele e com vó Renée. Mamãe e papai já tinham feito meu café da manhã e o cheiro das panquecas chegava no segundo andar. Fui até o meu banheiro, que tia Alice planejou em mármore branco e cinza escuro, fiz minhas necessidades e higiene matinais. Assim que sai do banheiro, me dirigi ao meu closet, decorado em tom de nude rosé, com todas as portas espelhadas, e vi o meu reflexo, em meu pijama azul de bolinhas, passando pelos inúmeros espelhos. Ou melhor, meu borrão, já que eu não fiz tanta questão de andar devagar. Escolhi uma calça legging preta e uma camisa branca, então, me sentei no puff, também nude rosé, que dividia o centro do closet com a minha penteadeira, onde se localizavam as maquiagens que tia Alice e tia Rosalie me deram, e calcei um all star vermelho. Passei um balm nos lábios para mantê-los hidratado e um pouquinho mais rosados que o normal e penteei os cabelos. Desci para tomar o meu café da manhã com o estômago roncando.

– Bom dia mamãe, bom dia papai! – dei-lhes um beijo na bochecha
– Bom dia, meu bem – mamãe me deu um beijo na testa
– Dormiu bem, querida? – papai beijou-me na têmpora
– Dormi, sim. Obrigada! – peguei um prato de porcelana italiana que estava no armário e comecei a me servir – O cheiro está delicioso
– Espero que o gosto também. – falou papai rindo – Peguei a receita das panquecas do seu tio Jasper, ou melhor, ele me disse o que fazer porque ele mesmo não sabe a recita. O infeliz faz o que lhe vem à cabeça – mamãe estava rindo da falta de paciência de papai, pois ele era extremamente organizado. Tudo o que fazia na cozinha estava anotado em um caderno de receitas e mamãe fazia o mesmo. Porém, tio Jasper, que era um excelente cozinheiro, não anotava absolutamente nada. Todas as suas receitas eram elaboradas durante o preparo e isso deixava papai louco, já que eu amava as receitas do tio Jasper e nunca havia registro de como elas eram feitas
– Está uma delícia – falei depois de morder um pedaço da panqueca que havia colocado no prato
– Que bom! – papai plantou um beijo no topo de minha cabeça e retornou para o lado de mamãe enquanto eu terminava de me servir

   Acrescentei duas fatias de melão e três torradas em meu prato. Em duas das torradas, eu passei manteiga de amendoim e geleia de frutas vermelhas e na outra eu coloquei uma fatia de presunto e uma de queijo. Graças à convivência com meu avô, eu, agora, estava viciada em cafeína, então, mamãe preparou um café forte para mim, do jeito que eu gostava. Vô Charlie preferia o café mais fraco, mas eu não, amava o gosto do café e o tomava extra forte e sem açúcar, o que me rendeu o apelido de "aberração" por parte do meu avô, sempre que íamos tomar café juntos. Quando terminei, lavei a louça que havia sujado enquanto meus pais guardavam a geleia e a manteiga de amendoim. Retornei ao meu quarto, escovei os dentes, mais uma vez, e fui para a garagem onde meus pais já me aguardavam no volvo de papai. Agora, eu não cabia mais no banco traseiro do Aston Martin, então, quando saíamos era sempre no volvo de papai ou no audi de mamãe.
   Seguimos uma parte do caminho em silêncio, tendo como som ambiente o ronco do motor e a música que tocava no rádio. Foi então que me lembrei de um fato muito importante e quase saltei em meu assento:

– Vô não sabe que não pode contar a vó que sou a neta biológica deles
– Ele já sabe, meu bem, falei com ele ontem à noite – mamãe me olhou por cima do ombro com um sorriso suave
– Ah! – não me surpreendia que ela e papai já tivessem resolvido isso, mas – Por que não me contaram?
– Na verdade contamos, – papai riu – mas acho que você estava em um sono mais profundo do que supusemos. Isso se deu porque a senhorita respondeu quando falamos com você
– Respondi? – juro que não me lembrava disso
– Sim. – mamãe estava às gargalhadas – Você disse: então tá
– Ah! – não tinha mais nada que eu pudesse dizer

   O resto do caminho se passou comigo fazendo alguns comentários a respeito da visita que Ângela marcou para que meus pais fizessem a fim de inaugurar a casa nova. Ainda que a casa já estivesse pronta três semanas antes do retorno do casal, e, agora que eles haviam retornado de lua de mel há quase três semanas, Ângela e Ben queriam fazer uma reunião com os amigos na casa nova. Eu sabia que Jessica seria convidada, mamãe confirmou antes mesmo que eu perguntasse, e papai disse que eu deveria ser um pouco menos sarcástica para evitar que Jessica se inflasse demais. Obviamente a madura da situação era eu e não a adulta em questão. Mas iríamos mesmo assim, eu havia gostado de Ângela e de Ben quase que imediatamente e, durante a viagem, eles sempre pediam notícias minhas e mandavam fotos de lugares e coisas na Argentina que achavam que eu fosse gostar. Além disso, mamãe disse que a amizade com Ângela estava ainda mais forte desde que haviam deixado o ensino médio e ela sentia falta da amiga. Na verdade, minha mãe foi categórica ao alegar que sentia falta apenas de Ângela.
   Eu iria La Push no dia anterior ao almoço, então, mamãe pediu que eu não chegasse tão tarde e prometi que chegaria, no máximo, às onze. Ela ficou satisfeita. Levaríamos sanduíches, suco de uva integral e vinho, como contribuição, pois os anfitriões pediram para que levássemos algo que gostaríamos de comer, além do churrasco que Ben faria. Como só eu comeria, não havia porque levar mais do que isso, mas, para manter as aparências, meus pais beberiam o vinho. Sabia o que viria quando chegássemos em casa, mas eles estavam dispostos a fazer esse sacrifício. Chegamos na casa de vô Charlie e nós três descemos do carro para cumprimentar os meus avós, que nos esperavam na porta da casa do Charlie, junto com Sue Clearwater, mãe de Seth e a nova namorada do meu avô. Eu sempre me espantava com o quanto Sue, Leah e Seth eram parecidos, com seus corpos esguios, ainda que Seth fosse extremamente musculoso agora, com cabelos e olhos pretos. Leah também era musculosa, mas um jeito bastante feminino. Diferentemente dos filhos que eram extremamente altos devido à transformação, com a mais velha medindo 1,90 metro e o mais novo, por aparentar dezesseis anos, 1,98 metro, Sue tinha estatura mediana. Outra pequena diferença era que a pele de Sue era apenas um tom mais escuro que a dos filhos, o que eu achava interessante, pois era a única coisa que eles tinham do pai. Porém, sempre que o assunto vinha a tona, Seth dizia que Leah havia herdado a personalidade arredia de Henry. Eu acreditava nele. Sabia que não havia motivos para que meu amigo inventasse algo assim, principalmente, porque amava muito o pai e sentia falta dele.
   Corri e abracei meu avô, que ainda aguentava me erguer do chão. Com a nossa diferença de altura, ainda era possível que meus pés saíssem uns bons centímetros do solo. Vô Charlie estava em ótima forma física e ele me disse que me carregaria até que não me aguentasse mais. Mamãe sempre ficava preocupada, pois, em breve, eu estaria com quase setenta quilos e vô Charlie poderia machucar a coluna. Sue sempre balançava a cabeça e dizia que ele era uma mula teimosa e só pararia de me erguer quando travasse as costas. Infelizmente, eu não duvidava disso. A única coisa que vô Charlie não conseguia mais fazer era me colocar sentada em seu ombro, algo do qual ele reclamava com certa frequência, dizendo:

Noite branca Where stories live. Discover now