o início do fim

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O cheiro doce de canela e hortelã invadiu meu olfato assim que o sino que informava que um novo cliente tinha entrado na padaria.

Três anos e ainda era como a primeira vez.

-Bom dia professora...-a voz rouca e grave do outro lado do balcão envolve meus ouvidos e tenho vontade de fechar os olhos, mas ignoro meu corpo idiota.

Disfarce Amélia, disfarce

-Bom dia senhor padeiro. -sorrio me apoiando no balcão olhando as delícias dispostas no vidro. -Você fez Pandoro. -arregalo os olhos animada vendo ele sorrir.

-Para a única cliente que aprecia essa delicia. -ele concorda e sorrio envergonhada agora. -Sua amiga está esperando na mesa de sempre, eu levo com seu chá inglês.

Porque ele fazia isso? Porque sorrir desse jeito?

Respiro fundo concordando e aceno antes de caminhar para o espaço onde ficavam as mesas para os clientes, vendo de longe os cabelos ruivos de Anna, apesar da maquiagem borrada eu diria que ela estava bem.

-Buongiorno, flor do dia. -tenho o prazer de gritar batendo na mesa vendo uma careta tomar conta do rosto delicado e ela tocar a testa.

-Vaca. -ela resmunga e rio me sentando na frente dela.

-a noite foi boa pelo jeito. -pego um espelho dentro da bolsa entregando pra ela.

-Foi ótima... Vou andar torto por três dias...-faço uma careta quando no exato momento em que as palavras sairam da boca dela um prato com um bolo em forma de estrela pousou na minha frente.

-Bom apetite...-a voz de Henry parece estar pressa entre uma risada e tenho vontade de esconder meu rosto no meu bolo.

-Eu te odeio...-murmuro ao ver o sorriso debochado dela, provando que ela o viu se aproximando.

-Você me ama Mia...-pisca pegando a xícara com o que parecia ser café puro na sua frente. -E ama o bonitão...

-Não fale besteiras. -olho em volta agora desesperada com alguém ouvindo nossa conversa.

-Você nem pode disfarçar, suas sobrancelhas te entregam. -faço uma careta cobrindo minha testa a ouvindo rir mais alto.

-Vou embora. -murmuro manhosa ameaçando me levantar, mas eu precisava comer meu Pandoro.

Nunca se desperdiça um doce.

-Prove que não o ama. -franzo a testa a olhando.

-O que? -murmuro confusa.

-Prove que estou enganada...

-Esta me desafiando? -ergo uma sobrancelha.

-Estou... Aposto que você não consegue fazer ele sair com você.

-Você aposta? -mordo meu lábio.

Ela estava fazendo de propósito.

Olho para o balcão vendo Henry de costas para mim... O avental amarrado na cintura e as costas tensas enquanto amassa alguma massa de pão.

-um mês.

-Você quer me ver machucada quando ele negar minhas investidas?

Como se eu pudesse investir..

-Se eu perder corrijo as provas da sua turma por três meses.

-E se você ganhar?

-Vou ser a madrinha do filho loiro de olhos azuis de vocês...

Respiro fundo voltando a encarar o homem distante e no fundo um dos meus únicos amigos próximos naquele pais.

-Você vai juntar cada caquinho quando ele quebrar meu coração.

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora