capítulo 41

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A vida de Jack foi da água para o vinho.

Durante sete anos ele viveu sobre a tutela de sua tia, não foi anos fáceis. A mulher que deveria protegê-lo e ama-lo, não passava de um monstro em pele de cordeiro. Por sete anos, ela fez da vida do jovem Clark um inferno. Com ela, Jack passou fome e frio. O garoto havia mudado tanto, que nem aqueles que o conheciam desde quando seus pais ainda estavam vivos, o reconheciam. Acreditavam que a falta de sorriso era consequências da perda prematura dos seus genitores. Sua tia espalhou mentiras sobre o garoto pelo condomínio, uma forma de encobri os machucados e mudanças que lhe corria.

Foi perturbador para aquele pequeno grupo de ricos, saber que um dos seus estava sendo tratado com tamanha desumanidade. Descobrir que Jackson passava fome e frio, que tinha até mesmo ossos quebrados por aquele suposto bom casal, tinha sido um pesadelo. E no final, todo esse horror que os vizinhos expressaram ao saber que Jackson estava doente pela falta de cuidados, não era porquê ele era uma criança e sim pelo fato de a mídia ter divulgado toda essa crueldade e questionado os vizinhos. Mas para Jackson aquilo não importava mais, ele estava tendo uma boa vida agora. Ele estava sempre bem alimentado, ele podia brincar o dia inteiro, por mais que não fosse algo que ele gostasse de fazer.

A guarda de Jack havia sido entregue ao irmão mais velho de sua mãe, um que o mesmo nunca havia ouvido sua mãe comentar. Uma vez, ele confessa ter ouvido sua tia falar dele para Matt, mas sua tia odiava tanto Michael, que ele acreditava que seu tio era um monstro pior que ela, mas isso não era verdade. Michael parecia um cara legal, e a  vizinhança que não era muito próxima, dizia o mesmo.

Agora, na nova casa que Jack morava, havia muitas árvores e animais. Havia tantos pássaros, que Jack se irritava com a cantoria. A nova casa, não era tão grande quanto sua antiga casa, era de um tamanho mediano. A casa também não era moderna, era antiga, por mais que fosse bem preservada. Na escola Jack sempre ouvia as crianças se referirem a casa como casarão assombrado. Jackson não tinha amigos, não conseguia se enturmar com as crianças, por isso, sua única amiga era Elizabeth, ou como ele a chamava, Beth.

Beth era a empregada do seu tio, uma mulher jovem e boa ouvinte, era a única que não se assustava com as perguntas estranhas que o garoto fazia. Era a única que parecia entender os pensamentos bizarros do menino. Beth não parecia ter chegado nem mesmo aos 40 anos. Ela não era alegre como as outras pessoas, parecia ter visto muitas coisas e vivido muitas delas.

No final da tarde, quando apenas estava em casa, Jack e Beth, ambos se sentavam na cozinha e tomavam chocolate enquanto conversavam, aquele dia teria sido como qualquer outro, se Jack, dias antes não tivesse descoberto que não existia pessoas boas. Se não tivesse percebido como o mundo era completamente corrompido. Jackson havia chegado a conclusão que pessoas boazinhas eram piores que aquelas que se mostravam cruéis, pois delas você espera a maldade, das que se fingem boas, não.

— Por que esteve longe? — Jackson havia feito sua primeira pergunta.

— Seu tio me deu folga. — ela havia respondido despejando chocolate na caneca do menino. — Como foi esses dias que estive longe? Foi bom? Vocês passearam muito?

— Não.

— Não para qual das perguntas? — perguntou puxando uma das cadeiras para se sentar de frente para o garoto.

— Para todas.

— Bem, a vida nem sempre é boa. — respondeu o observando.

Jackson olhou para a caneca e depois para Beth.

— Tio Michael não é bom.

— O que quer dizer com isso? — perguntou ao ver a expressão do menino.

— Tio Michael disse que eu devia pagar pela bondade que ele teve por mim durante um ano. — Beth ficou em silêncio enquanto olhava o menino contar o que lhe havia acontecido.— Eu disse que já pagava, então ele falou que não estava falando de dinheiro, que havia outra forma de eu pagar pela generosidade dele.

— Jack... — ela engoliu em seco, pois ela sabia o que Jack estava lhe querendo dizer. Ela sabia que Michael não era tão bom quanto as pessoas acreditavam, foi por isso que ensinou a Jack a diferença entre toque aceitáveis e os toques ruins.

— Eu disse que não queria, mas ele fez... fez coisas ruins.

Beth ficou congelada no lugar, apenas observando o garoto tomar seu chocolate.

— As vezes tenho pensamentos ruins.— ele havia continuado, logo após pousar a caneca na mesa. — Pensamentos onde tio Michael morre. Eu gosto quando ele queima. — Ele inclinou a cabeça para o lado e perguntou: — Isso é errado?

— Não, não é. — ela segurou a única mão do menino que estava sobre a mesa. — Às vezes pessoas ruins tem que morrer para não impregnar o mundo com sua maldade, como às vezes as pessoas boas morrem para que a maldade do mundo não as destruam.

— Meus pais eram bons.

— Sim, seus pais eram bons. Seu tio Michael é mau. Sua tia Jenna e Matt eram maus, e Melissandra... Melissandra sabia que eles eram maus, porém preferia finger que não estava vendo.

— E você? — perguntou enquanto soltava a mão de Beth para pegar a caneca e tomar um pouco de chocolate.

— Eu?— perguntou confusa.

Jack olhou para ela, com olhos que não possuíam mais luz, olhos que não deveria pertencer a uma criança de doze anos.

Qual deles você é?


Sequestrada por Jack, o assassino Where stories live. Discover now