Capítulo 9

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Quando acordei no outro dia, quase não conseguia andar sem gemer de dor, mas ainda sim me arrastei para fora do porão.
Eu não vi meu captor pelo caminho, então preparei o café e pus na mesa, ele não desceu para o café da manhã, nem para o almoço e nem para o jantar e foi quando comecei a achar que talvez ele não estivesse em casa. No segundo dia eu tive a certeza que estava sozinha e pela primeira vez senti alívio.

Eu havia tomado um bom banho e estava vestida com uma camiseta preta que encontrei, ela batia no meio das minhas coxas, mas na situação em que eu me encontrava, me senti exposta demais, mesmo estando só. Eu lavei minhas roupas, minha blusa de seda estava em um estado deplorável, mas eu não pretendia usar nada que não fosse minhas roupas, com toda certeza não usaria a roupa que estou usando quando ele voltar para meu cativeiro.

No terceiro dia, pela primeira vez pude inspecionar a casa sem ter medo de que ele descubra o que estou fazendo. Todas as janelas eram protegidas por madeiras bem pregadas com pregos, mas eu notei que se eu encontrasse algo que eu pudesse bater contra o prego da janela da sala eu poderia ter uma chance de fugir. Mas eu não poderia tentar desta vez, precisaria saber quanto tempo ele ficava fora desta cabana.

No quarto dia a comida de micro-ondas começou a faltar e eu comecei a entrar em desespero, se ela acabasse antes dele voltar, eu passaria fome, a não ser que eu aprendesse na marra a cozinhar algo comestível. Eu havia tentado invadir os dois quartos que eu não podia entrar —o que antes estava livre e depois ele me proibiu e o que ele ameaçou fazer coisas horríveis caso eu ousasse chegar perto— ambos se encontravam  trancados.

No quinto dia eu estava entediada e então comecei a arrumar algumas coisas na casa para me distrair, funcionou até certo ponto, depois me sentir incrivelmente patética e irritada. Eu não deveria fazer tais coisas para me sentir útil.

No sexto dia a comida já estava no fim e o desespero de que ele ficasse mais tempo fora começou a se abater sobre mim. Eu tentei ligar a TV para assistir algum filme ou qualquer outra coisa, mas ele havia desaparecido com todos os adaptadores. Minha vida se resumia a acordar, tomar banho, cuidar dos meus cabelos, comer e andar pela casa na tentativa de encontrar alguma coisa para conseguir fugir, sei lá, talvez eu encontrasse um portal mágico que me teletransportasse.

No sétimo dia quando acordei, me sentia horrível, eu já estava desesperada e morta de fome, minha comida havia acabado no almoço do dia anterior e saber que não teria nada para comer me enlouquecia. Eu desejava desesperadamente pelo retorno do meu captor e aquilo me assustava mais que qualquer coisa. Eu poderia estar desenvolvendo algum tipo de doença mental? Alguma porra de síndrome??

Deus, não!

Eu afirmei a mim mesma que isso se devia ao fato de que eu precisava de comida para sobreviver, só água não me manteria viva e meu captor era o único que poderia me fornecer algo tão valioso, a comida. Eu havia tentado cozinhar no almoço, mas ficou tão horrível que tive que jogar fora, no meio da tarde estava com tanta fome que mal conseguia parar de pé. No jantar eu tentei novamente cozinhar e agora eu estava sentada no banquinho do balcão da cozinha comendo, suspirei ao sentir o gosto de meu arroz. Estava uma delícia. Eu fiquei feliz por finalmente ter conseguido, mas essa alegria durou pouco ao perceber as circunstâncias em que eu me encontrava. Minha vitória se devia ao fato de eu precisar disso pra sobreviver. Novamente uma raiva anormal,— até mesmo para mim— surgiu em meu âmago, prestes a explodir.

Eu não me permeti explodir, eu a guardei, trancando-a bem fundo dentro de mim, sabia de alguma forma que precisaria dela.
Eu me remexia de forma impaciente na cama, tentando me ajustar para conseguir dormir. Eu estava inquieta, meu instinto de sobrevivência de repente em alerta, eu queria ignora-lo e dormir, mas era impossível. Eu me levantei e me arrastei até a escada, peguei minhas roupas que estavam no corrimão da mesma e me arrastei até a cama. Arranquei de forma brusca a blusa que usava pela cabeça e me enfiei em minha blusa de seda arruinda, vesti minha calcinha e depois minha calça jeans preta e então enrolei o sutiã que eu havia esquecido de usar junto com a blusa preta e os enfiei debaixo do travesseiro de péssima qualidade e me deitei puxando a coberta áspera para me cobrir.

Se passaram alguns minutos que mais pareciam ser uma eternidade quando sentia alguém me observando.

Meu captor havia regressado.

Sequestrada por Jack, o assassino Where stories live. Discover now