capítulo 48

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Era primavera. Ou talvez fosse final de inverno. Eu não sabia, mas as folhas das árvores estavam mais verdes, as flores que Jack plantava estavam bonitas e lindamente vivas. Os pássaros cantavam com mais fervor e os esquilos estavam por toda parte, até mesmo o ar aparentava estar diferente. Eu estava diferente. Eu não queria estar diferente.

Em algum lugar da minha consciência o medo está fazendo sua morada. Eu passei a odiar passeios como esse, esses que Jack me tira da casa para poder saborear o vento no rosto, tocar as folhas e ver a natureza. Eu posso identificar a estação do ano em que estamos quando estou tocando as folhas, quando estou vendo a natureza muito de perto. Já podemos estar na primavera e se estivermos, quer dizer que estou há um ano aqui...com Jack.

Um ano desaparecida. Um ano longe da minha família e dos meus escassos amigos.

Eles ainda sentem minha falta? Eles se conformaram com minha ausência? Eles já deram-me como morta? Meus pais ainda estão procurando por mim? Quais coisas sobre mim prevaleceu? Seriam as boas ou as ruins? Eles ainda choram?

Essas foram umas das milhares de perguntas que pipocaram minha mente enquanto eu estava sozinha. Enquanto Jack estava longe eu me prendi a essas perguntas e tentei encontrar uma resposta para elas, mas não achei.

Um dia eu terei essas respostas? Mais uma pergunta que eu desconheço a resposta.

Eu solto um suspiro suave e inaudível enquanto me sento e coloco minhas mãos na grama e levanto o rosto para o sol. Eu respiro profundamente e o cheiro de grama e terra húmida invade meu nariz. Eu abro meus olhos sem perceber que sequer tinha fechado e os dirijo para o homem estirado a minha frente. Jack tinha os braços cruzados sob a cabeça, a cabeça virada para o meu lado e os olhos travados no meu rosto. Nossos olhos encontram um ao outro e nenhum desvia. Não era uma batalha para ver quem cedia primeiro, era mais um desafio de quem ousava quebrar esse momento estranho e íntimo.

Quando ficamos em situações como essa, onde tudo parece muito leve e normal, eu me questiono onde está o Jack que me jogou neste lugar. Onde está o monstro que jurei matar? Quando foi a última vez que o vi?

Ah, bem, estava naquele dia. No dia que consegui provar para mim que ele não era tão inteligente. No dia que ele caiu tão facilmente em meras palavras rabiscadas.

Quando eu estou caindo e me afogando nesse novo Jack, eu me forço a lembrar daquela noite. Eu me forço a lembrar da raiva dele. Quando estou muito motivada sou capaz até mesmo de sentir os fantasmas dos seus dedos no meu pescoço, tentando expulsar o ar dos meus pulmões. Ele estava enraivecido por eu não ter lhe contado sobre a "página" que encontrei, se sentia traído e estava me punindo por isso. Naquele momento eu senti que ia morrer e tão rápido que esse pensamento me veio a mente desapareceu. E Jack ainda estava sobre mim, olhando para as próprias mãos como se não as reconhecesse e eu eu caí aos prantos, algo em mim estava morrendo lentamente. Era o meu desejo pela vida. Eu chorei nos braços do homem que minutos atrás estava tentando me matar e me dei conta que em algum momento eu havia acreditado que Jack não seria mais capaz de me machucar. Eu estava enganada. No dia seguinte quando nos encontramos ele implorou por perdão, mas eu estava além disso. Não por odiá-lo, mas por não me importar mais.

- Onde está? - ele havia perguntado em um determinado momento.

Eu não fazia ideia do que ele estava procurando nos meus olhos, mas eu respondi.

- Se foi. Você matou ontem... Como faz com tudo o que toca.

Pela primeira vez eu vi o verdadeiro horror nos olhos dele e ele implorou novamente, para que eu não permitisse que isso acontecesse e então eu lhe dei as costas eu voltei para o porão. Nos dois dias seguintes não trocamos uma palavra sequer, ele não me olhava nos olhos, estava preso dentro da própria cabeça e quando retornou, ele estava diferente, estava esse novo Jack...

Sequestrada por Jack, o assassino Where stories live. Discover now