capítulo 50

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Era engraçado pensar que tudo o que eu mais queria era sair do chalé e nunca mais voltar e que todas as vezes que Jack havia tocado no assunto sobre partir do chalé, um frio descia pela minha coluna e pavor invadia minha mente.

Há pouco mais de um mês completou um ano do meu sequestro. Eu havia começado a voltar a contar os dias desde o meu aniversário, e quando completou doze meses no dia 4 de abril de 2016, eu esperava entrar em desespero, esperava odiar imensamente o Jack, como no dia do meu aniversário, mas meus sentimentos se mantiveram o mesmo, eu me mantive a mesma, tudo o que eu senti era tristeza e uma certeza de precisar voltar para casa. Naquele dia, Jack agiu como se fosse um dia qualquer, eu agi como se fosse um dia qualquer, mas toda vez que nossos olhos se cruzavam, a realidade batia na nossa cara, então ignoramos um ao outro durante todo o dia, o que se mostrou uma tarefa fácil, pois ele passou o dia todo no quarto, enquanto eu passei na varanda dos fundos, olhando pela grade a toca da coelhinha selvagem que havia dado a luz alguns dias atrás. Os únicos sons eram o da floresta e os sons que eu mesma fazia quando me pegava chorando.

Sempre que eu pensava naquele dia, um sentimento de irritação surgia no meu peito. Eu devia ter feito algo além de ficar quieta, devia ter mostrado para ele o quanto eu odiava aquela data, o quanto odiava aquele dia, o quanto odiava ele, e não ficado em um canto chorando silenciosamente, foi como ter dito que ele ganhou, e que eu havia lhe dado a vitória de mão beijada.

Eu suspirei.

Pisquei algumas vezes e me concentrei no peito nu de Jack, mais precisamente no corte que iniciava sobre a clavícula e descia até o centro do peito dele. O corte era longo e um pouco fundo, mas não fundo o suficiente para precisar de pontos, mas era preciso limpar constantemente. Ele havia chegado assim ontem, depois de alguns dias fora. Os lábios cortados, o peito sangrando e contusões se formando na lateral do corpo. Eu não perguntei o que havia acontecido, não era como se ele fosse responder, ele não havia respondido quando eu perguntei o motivo de ele está saindo tanto desde o dia 4, portanto, ele com toda certeza não responderia como havia se ferido.

Desde que começou a sair, Jack passou a ficar estranho, parecia constantemente preocupado, e estava sempre perguntando para onde eu gostaria de ir, onde eu gostaria de morar, mas eu nunca respondia, tinha a sensação de que se ele me levasse dali, nunca mais retornaria para casa.

Eu peguei o esparadrapo e cortei um pedaço para fixar a gaze que eu havia colocado no peito de Jack. Colei o esparadrapo em sua pele, quando terminei de cuidar do seu ferimento, respirei fundo, eu tinha certeza que algo estava errado, e quanto mais eu me lembrava de Jack sussurrando para si mesmo que as coisas não estavam saindo de acordo com o que ele havia planejado, que tudo estava acontecendo rápido demais, mais certeza eu tinha de que havia algo acontecendo fora daquele chalé.

Quando ia dormir, eu me pegava pensando se meu pai ainda estava me procurando, se ele estava próximo de descobrir onde eu estava, se a polícia descobriu alguma coisa, uma pista, ou um erro cometido por Jack. Eu me imaginava sendo salva, era uma esperança pequena, tão pequena que tudo o que eu fazia era imaginar, pois eu me recusava a deixar essa esperança crescer, porque se eu o fizesse, eu ficaria sentada esperando ser salva, e eu estava a tempo demais esperando ser salva.

Eu me movi para me afastar dele, mas sua mão serpenteou minha coxa e apertou, eu fiquei totalmente parada no lugar, seu toque queimando minha pele.

— Quantas línguas você fala?— sua voz rouca chegou aos meus ouvidos e eu pisquei com a pergunta repentina e sem sentido.

— Como?

Ele respirou fundo, como se pedisse paciência para falar com uma criança ou com uma pessoa estúpida.

Sequestrada por Jack, o assassino Where stories live. Discover now