Capítulo 52

631 54 33
                                    

Prostituta

O que ele disse repetia-se constantemente em minha mente sempre que eu o olhava. Sentada à mesa de frente para ele em quanto jantávamos, essa palavra se tornava um eco alto demais, tão alto que me fazia trincar os dentes e cortar a batata com mais força que o necessário.
Um som se formou na minha garganta quando cortei a batata com muita força, fazendo-a deslizar pelo prato e quase ultrapassar a borda. Pausei o garfo e a faca no prato e inspirei profundamente, depois espirei lentamente. Repeti esse exercício mais duas vezes, quando senti a raiva indo embora, peguei os talheres e voltei a comer. Enquanto mastigava a batata idiota, levantei os olhos e encontrei Jack me observando, me forcei a engolir a batata e o encarei,  esperando que ele disse algo, mas ele não disse merda alguma.

Ele não dizer nada não deveria me irritar, mas irritava. Jack não desistiu de falar comigo mesmo quando eu explicitamente ignorei a existência dele nesses dias. Jack sempre encontrava algo para dizer, sempre observando para saber se teria alguma resposta minha, um sorriso ou até mesmo um olhar, mas desde que  havia retornado de onde quer que estivesse — eu suspeitava que fosse a cidade mais próxima que tinha do chalé — ele simplesmente não falava nada, ele sequer me olhava. Nas poucas vezes em que vi seus olhos em mim, ele parecia não estar
realmente presente.

Ahh, que inferno!

Mas que patética que eu era, me lamentando e choramingando por não ter a atenção do meu captor. Havia algo mais ridículo, deplorável e humilhante que isso?
Eu me encolhi internamente com a lembrança do que eu havia dito a Jack há alguns dias.

Um viciado na minha buceta????

Ahh, por Deus, que humilhante. Isso certamente é algo que meu eu de 16 anos diria.
Não, nem mesmo meu eu de 16 anos teria dito algo sim. Isso só torna tudo pior.

Um gemido de vergonha se instala na minha garganta e o pensamento de bater minha cabeça contra o prato não me parece uma ideia tão ruim.
Corporificar essa ideia na frente dele seria tão vergonhoso quanto o que eu havia dito?
Eu já havia falado ou feito algo igualmente degradante como isso? A ponto de Jack sequer recordar o que eu havia dito? Não, provavelmente não.
Naquele momento eu podia visualizar meu eu interno gemendo enquanto se derretia e era sugado para um buraco infinito e escuro.

— Algum problema?

O som da voz de Jack me puxou dos meus pensamentos e eu precisei piscar algumas vez para entender o que estava acontecendo.

Minhas bochechas esquentaram quando percebi que um gemido havia saído da minha garganta.
Eu neguei com a cabeça ao mesmo tempo em que sussurrei um não.

— Hum...

— O que foi? — retruquei ao perceber que ele não diria mais nada — Hum é tudo o que tem pra dizer ?

Não que houvesse algo mais para ser dito, mas eu desejava que ele disse algo mais.

— Deveria haver algo mais? — todo a sua atenção estava direcionada a mim.
Eu balancei a cabeça em negação.

— Você quer minha atenção, meu animalzinho?

Eu mordi meu lábio inferior e desviei os olhos.
É exatamente isso que eu queria e era tão desconfortante perceber isso. Parecia tão... errado.

Eu me encostei na cadeira, em uma patética tentativa de demostrar uma indiferença que não sentia.

—Não, claro que não.— Respondi enquanto enrugava o nariz e olhava para ele tentando transmitir-lhe um desprezo que não era real.

Ele se inclinou levemente para frente, direcionando sua atenção em mim.
Eu me mexi desconfortável com o sorriso que Jack me deu.

—Por que está rindo? Não acredita? — minha voz saiu com uma indignação que não existia.

O sorriso dele aumentou um pouco mais.

— Humf — resmunguei enquanto lhe dava um olhar de indiferença.

Ele sorriu por mais alguns instantes, então se levantou para sair enquanto me dava um último olhar.

Jack pretendia sair do chalé? Ele não se retira para o quarto tão cedo.

— Você está indo à cidade?

Jack  se virou com a pergunta, me olhou por alguns instantes e com passadas longas chegou onde eu estava.
Eu concentrei nervosamente minha atenção em minhas mãos enquanto ele se abaixava até que estivéssemos na mesma altura. Sua mão se moveu para meu rosto e descansou em minha bochecha. Eu engoli em seco quando seu polegar se moveu para frente e para trás. Era carinho ou um aviso?

—Tão curiosa, meu animalzinho.

Meus olhos se moveram da minha mão para os olhos dele.
Um aviso então.

— O que você foi fazer na cidade? — eu ignorei o frio na minha coluna e sussurrei de volta.

Seus olhos verdes —o mesmo verdade das folhas das árvores na primavera, o mesmo verde de Josh —me encararam sem piscar. Eu mordi os lábios nervosamente, me recusei a desviar o olhar primeiro.
Os olhos de Jack desceram para meus lábios e um suspiro se instalou em minha garganta.
Eu estudei seu rosto, meu coração bateu um pouco mais rápido, ele parecia tanto com Josh. Sem a máscara estúpida, todo o resto pareceria igual? Ou apenas os olhos o cabelo...os lábios...
Eu sabia que não eram a mesma pessoa, porque ainda me lembrava do dia que perguntei. Me lembrava da sensação de não conseguir respirar, do aperto eu meu pescoço de como...

Eu finquei as unhas nas palmas das minha mãos para impedir que meus pensamentos continuassem e eu acabasse chorando por algo que não poderia ser mudado. Eu engoli o nó que se formou em minha garganta e espirei lentamente pela boca.

— É uma surpresa — murmurou, finalmente respondendo a minha pergunta.

Eu franzi a sobrancelha não gostando muito da maneira que os olhos dele brilharam com excitação.

—Não, não, meu animalzinho, não precisa se preocupar — murmurou perto do meu rosto, tão perto que eu sentia seu hálito quente, sua respiração. Eu fechei os olhos com a proximidade e os reabri segundos depois. Uma de suas mãos cobriu as minhas e lentamente separou meus dedos. Meu coração martelou descompassadamente em meu peito enquanto eu assistia Jack massagear cada uma das meias luas que havia formado em minhas mãos. Seus olhos retornaram para mim e ele sorriu enquanto sua mão subiu para meu rosto — Vai ser uma boa surpresa para você, para nós.

Jack me olhou nos olhos enquanto se inclinou para frente e depositou um beijo no canto dos meus lábios. Eu prendi a respiração não soltando mesmo quando ele se afastou e se levantou. Meus olhos acompanharam cada movimento de Jack, até que eu já não pudesse mais vê-lo e só então eu soltei a respiração. Fechei os olhos e levei a mão ao peito enquanto esperava as batidas do meu coração voltarem ao normal.

Jack deve ter se decidido para onde iria me levar, essa é a única explicação para que ele tivesse ficado tão animado, para que disse aquilo.

Eu joguei minha cabeça pra trás e olhei para o teto. Se minhas suspeitas estivessem corretas, então eu estava completamente fudida, porque se Jack me tirasse da cabana, eu nunca mais retornaria pra casa.

Eu não tinha mais tempo para esperar o momento certo, para esperar um erro de Jack. O meu tempo estava se esgotando e eu precisava fugir ou morrer tentando.




——————————————————

Olá, pessoal!

Como vocês estão?

Lançando mais um capítulo para vocês.

Um beijo e espero que gostem. ♥️♥️

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Oct 14, 2023 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Sequestrada por Jack, o assassino Where stories live. Discover now