Capítulo - 07

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     Era um novo dia e com a recuperação de sua madrinha, Isabel acordou cedo irradiando felicidade, mesmo se preparando para mais uma jornada exaustiva de caça, o seu sorriso mantinha-se aceso

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     Era um novo dia e com a recuperação de sua madrinha, Isabel acordou cedo irradiando felicidade, mesmo se preparando para mais uma jornada exaustiva de caça, o seu sorriso mantinha-se aceso. Antes que o sol nascesse, ela pegou suas flechas e caminhou para a floresta, adiantou-se pela madrugada para fugir dos guardas, porém, a escuridão trazia o medo.

     Entre as trilhas que conhecia, Isabel escondia-se atrás de arbustos e ficava à espreita esperando alvos para suas flechas. Entre as arvores passou um vulto que lhe causou aflição, e logo mais surgiu a fera marrom, aproximando-se da jovem, a criatura estendeu um cofo, o objeto de palha continha diversas frutas.

     Ao ser encarada pela fera, aquele olhar não remetia mais o medo de antes, no entanto, Isabel continuo escondida entre os arbustos enquanto a criatura oferecia-lhe as frutas. Pelas pequenas brechas entres a folhagem examinava as peculiaridades da besta, os pelos marrons que saltavam ao toque do vento, as garras que prendiam o pequeno cofo e presas saltadas que antes a amedrontava agora era sinônimo de força.

     — Pegue. — A criatura falou causando admiração e prosseguiu persuadindo a jovem a aceitar as frutas. — São para você.

     — Você fala! — Evidenciando o acabara de ver, Isabel disse boquiaberta. — Não sabia que as bestas falavam!

     — E normalmente não falam, pode ser que eu seja único. — Estendendo as furtas até as folhas que cobriam Isabel, a fera continuou. — Não vai aceitar?

     — É claro que vou. — Isabel deu sorriso sem graça, ao sair dos arbustos pegou o cofo de frutas e agradeceu. — Muito gentil da sua parte, aliás obrigado pela caça do outro dia, foi você certo?

     — Sim fui eu!

     Ao caminhar pela floresta ao lado da gigantesca fera, Isabel estava completamente fascinada pela criatura, nunca antes havia visto uma fera com aquelas características. Voltando o principal ponto de sua curiosidade a jovem questionou:

     — Por que você é a única fera que fala?

     — Não diria única. — Abrindo espaço entre a vegetação, a fera continuou a explicar. — Eu não me entreguei ao extinto animal das bestas, assim ainda tenho a minha consciência humana.

     — Consciência humana? — Isabel falou confusa em relação as novas descobertas.

     — Sim, as feras são seres humanos amaldiçoados com esta condição. — Falando vagarosamente para não causar nenhum temor a ouvinte, a fera continuou. — A partir do momento que a fera cede ao seu extinto assassino ela perde a sua humanidade.

     — Então você era humano. — Curiosa em relação a procedência da criatura os questionamentos continuaram por parte de Isabel. — Então como você se chama?

     — Pedro. — A fera respondeu rapidamente com um tom triste, pois lembrar da sua antiga vida era doloroso.

     Mesmo com uma resposta sucinta o tom de tristeza foi detectável, e imediatamente Isabel percebeu a dor que aquela criatura sentia, ser odiado e repudiado por todos por causa de uma maldição deveria ser angustiante. Sem saber como reagir perante aquela situação, ela continuou a conversa do ponto anterior:

     — Só Pedro?

     — Só.

     — Esse nome me lembra ao antigo rei. — Com uma feição nostálgica, Isabel relembrou. — Mesmo diante de uma crise, o rei Pedro I sabia cuidar do povo, pena que ele se foi e o reino ruiu.

     O assunto real emudeceu de vez a fera e o caminho entre arvores e arbustos trouxe uma visão paradisíaca, o pequeno lago chamou a atenção de Isabel ao tocar nas águas cristalinas, lembrou que jamais tinha visto aquela fonte.

     — Onde estamos?

     — No interior da floresta! — Surpreso com a pergunta, a fera disse. — Não conhece esse lago?

     — Não, normalmente eu sempre ando pelas mesmas rotas com medo de me perder ou dar de cara com algo perigoso. — Olhando o reflexo da fera no lago, Isabel prosseguiu. — Então me prendi aos mesmos lugares.

     No horizonte o sol raiava emitindo os primeiros feixes de luz, a visão da fera ficou chamuscada com o forte brilho e enquanto cobria os olhos com as patas, a criatura apressou os passos floresta adentro. Incomodada por não saber onde aquele caminho a levaria, Isabel não seguiu aqueles passos, mas pronunciou-se inquisitiva:

     — Onde você está indo?

     — O sol já vai raiar. — Com pressa nas palavras, a fera respondeu. — Eu preciso ir!

     — Por que? — Isabel questionou sem compreender o motivo da pressa.

     — O sol afeta as bestas, a luz forte queima nossos olhos, por isso saímos apenas a noite. — Com tristeza, a fera despediu-se. — Até mais Isabel.

     Saltando alto, a fera desapareceu na imensidão da floresta, sozinha ao encarar as águas cristalinas do lago, Isabel refletia sobre o que tinha vivenciado hoje, um ser que ela odiava tinha sido amável e mais admirável que a maioria dos humanos que ela conhecia, os papeis haviam se invertido a criatura que matava e destruía a salvou da criatura que deveria protege-la.

     "Os guardas" essa frase ecoou na mente de Isabel, fazendo-a esquecer dos seus devaneios e apressadamente caminhou para a saída da floresta antes que eles chegassem. O cheiro das frutas trazia lembranças do momento em que conversou com a fera, por todo o caminho até a sua choupana os momentos com a criatura não saiam de sua mente.

Feroz - A maldição da bestaOnde histórias criam vida. Descubra agora